Estamos
cansadas de ouvir piadas machistas sobre nós mulheres como: “Lugar de mulher é
na cozinha pilotando fogão”! Ou aquela do tipo: “A maneira mais cara de ter
louça lavada de graça é casando”. Esses são apenas alguns exemplos de como as
mulheres são tratadas e apontadas pela sociedade, que de maneira preconceituosa
alguns homens nos acusam de sermos inferiores diante da suposta “superioridade”
masculina. Mas só os homens são machistas? Que nada! Há muita mulher por aí que
age dessa maneira. Sempre tem uma mãe, uma
tia, uma avó que diz: “Filho deixe que sua irmã ou eu, arrume sua cama, afinal,
isso é tarefa de mulher”.
Esse
preconceito generalizado, tanto por homens e até mesmo das próprias mulheres, tem
seus motivos, e ele fora implantado em nossa sociedade e em muitas outras em um
período histórico muito remoto. Quem nunca ouviu dizer que a mulher é o sexo
frágil? Diante das diferenças físicas
entre homens e mulheres, julgou-se que o corpo feminino devido sua fragilidade perante
o masculino, fizeram com que estas fossem vistas como inferiores. A partir de uma visão de
caráter biológico, criou-se a idéia de que as mulheres fossem intelectualmente
inferiores aos homens. Desse modo, o gênero feminino fora visto (e em muitos
casos ainda são!) como incapaz de cuidar dos negócios da família, do seu próprio
corpo... E a partir daí, estas passaram a ser submetidas aos mandos e desmandos
da classe masculina.
Não
podiam sair de casa sozinhas, se vestir como quisessem, de trabalhar, votar e
serem votadas. Suas vidas eram limitadas aos afazeres domésticos e no cuidado
da família. Acerca disto, Mary Del Priore, cita em sua obra Histórias Íntimas- Sexualidade
e Erotismo na História do Brasil (2011), que em artigos publicados na revista Ele & Ela (1969), enalteciam esse
papel feminino limitado a vida doméstica, e diziam o seguinte:
“A
mulher deve ser fêmea e assumir sua condição. Deve ser bonita, desejável, deve
ser mãe. Deve cuidar da casa e dos filhos e esperar o marido de volta do
trabalho bem disposta e arrumada. É exatamente para isto que ela existe. E, longe
de diminuí-la, isto só pode engrandecê-la. Afirmar que tudo isso leva o sexo
feminino ao aniquilamento intelectual e à submissão, é desconhecer as
possibilidades da tecnologia atual. A verdade é que sempre sobra tempo para ler,
para escrever, para pintar, sei lá, para criar. Isto é até um privilégio, pois
nem sempre os homens dispõem deste tempo”.
Mas
estas permaneceram ainda submetidas a estes tratos? Lógico que não!
Com
o decorrer do tempo, após muitas reivindicações, as mulheres foram conquistando
seu espaço e liberdade. Mas essa liberdade era tida como sinônimo de
libertinagem, pois era vista como pecado diante da ordem social pautada na
passividade dessas por muito tempo. Mas de que forma isso acontecia? Tomemos um
exemplo. A mulher que decidia por separar-se era excluída pela sociedade. E
mulher infiel? Infidelidade masculina ainda era aceitável, pois havia (e ainda
há hoje!) um discurso que dizia que o homem possuía um impulso inerente, inato,
segundo o qual ele não podia mudar! E isso justifica alguma coisa? Que
hipocrisia. Mas se mulher trair é tida como um mal social, e deve ser posta as
margens da sociedade que prima pelos “bons costumes”.
Em
1912, a valente Sylvia Pankherst fora saudada por sua coragem de discursar num
bairro operário da cidade de Londres. Juntamente com a mãe Emmeline e a irmã
Christabel, ativamente lutaram para que as mulheres pudessem votar na
Inglaterra. E essa conquista ocorreu no ano de 1928 após muita persistência.
Aqui no Brasil, tivemos várias ativistas que reivindicavam seus direitos. Com a
ascensão da República, surge uma figura que fora uma das primeiras a reivindicar
o voto feminino e pela emancipação social da mulher: Josefina Álvares de
Azevedo. Em meados ainda de 1888, ela fundou o primeiro jornal feminino na cidade
de São Paulo, que em suas páginas além de lutar pelo voto feminino, buscava uma
melhor educação voltada para as mulheres, no qual estas desenvolvessem as suas
capacidades de não apenas exercer funções da família, mas direitos de
participarem de funções importantes do Estado.
Diante
desses fatos, percebemos que essas mulheres foram exemplos de luta e protesto
diante da repressão implantada fortemente na sociedade, e se antes estas se
conformavam com a situação em que viviam de submissão, passam a reivindicar com
unhas e dentes por seus direitos.
Acerca
do que foi mencionado, é fato que homens e mulheres são diferentes quanto ao
aspecto físico, mas isso não justifica dizer que estas são inferiores
intelectualmente, ou que elas devam estar restritas aos afazeres do lar. Se
pararmos para pensar, a inteligência de ambos os sexos é a mesma, o que pode
ser decisivo, são as oportunidades que cada um terá de conquistar para aplicar
suas capacidades. Com o avanço da tecnologia, por exemplo, dispensa-se o uso da
força física masculina em alguns casos, e o que se exige na verdade, são as
competências intelectuais, e isso tanto homens, quanto as mulheres possuem.
Mas
a conquista feminina para por aí? Claro que não. A descoberta dos
anticoncepcionais garantiu que estas pudessem fazer um planejamento familiar.
Tendo em vista que em décadas passadas, eram impulsionadas para serem meras
procriadoras. E vale também ressaltar que o prazer sexual antes restrito apenas
ao homem, passa a ser sentido pela própria mulher, antes visto como pecado, mas
que apesar disso tudo, muitas ainda se subjugam com medo de ir para o inferno,
de acordo com alguns preceitos religiosos. Mas isso é uma questão que também
deve ser relativizada.
E
no quesito profissão? Encontramos mulheres que são advogadas, médicas,
engenheiras, presidentes de países. Entretanto, ainda lutamos por melhores
salários. Pois mesmo que muitas exerçam a mesma profissão que um homem, ainda
assim, recebem salários inferiores em alguns casos. E mesmo que tenhamos
alcançado várias conquistas, percebemos ainda que o preconceito é emergente
contra as mulheres, e que há muito a melhorar.
Quando
batemos na tecla por “igualdade”, muitos acham que queremos ser superiores aos
homens. Pois se assim fosse, os papéis apenas mudariam: mulheres superiores e
homens submissos. Creio que isso não faz sentido. A luta é pela igualdade de
direitos que assim como os homens os têm, nós queremos e exigimos também:
igualdade de direitos garantidos. Não se trata de superioridade, é uma questão
de justiça, de dignidade!
Gláucia
Santos de Maria