quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O ser branco e o ser negro: como discutir essa questão?


Li esses dias uma matéria no qual a pedagoga Luciana Alves discute que quando falamos sobre questões raciais e o próprio racismo, pouco ou quase nunca se reflete o que ela chama de branquitude, e essa ausência, de acordo com ela, só faz disseminar o preconceito, e desse modo, estabelecendo que ser branco é ser superior. De acordo com Luciana Alves, as discussões em questão só tem sentido quando abordadas também  sobre o papel do branco na nossa sociedade.
Marilena Chauí, por exemplo, na sua obra intitulada: Brasil- mito fundador e sociedade autoritária há quem diga que sente orgulho em ser brasileiro, mas que diariamente, na vida real, diz que nordestino é atrasado, que as mulheres são burras, os índios são preguiçosos, os negros indolentes etc. Há quem fale também que se sente indignado  com a existência de crianças de rua, com as chacinas das mesmas; sendo que ao mesmo tempo, se revela uma sociedade que tolera e admite a existência de milhões de crianças sem infância, de crianças abandonadas. E mais, ainda que há um discurso propagado ao longo da história brasileira de que somos um povo ordeiro, e de que não existe pecado abaixo da linha do Equador e que por conta da miscigenação é que nos faz um povo rico em cultura e que não há discriminação racial.
Sobre a questão da miscigenação, pedagoga afirma que ela é uma temática bastante discutida, mas o que realmente fica oculto, é que por trás desse debate há uma maior propagação do preconceito, que como o mito, só faz atualizar o racismo. De modo a enfatizar como positivo o “ser branco”, em detrimento da negatividade de “ser negro”.
Em sua pesquisa, ela verificou que ser branco é não ser negro, e daí percebemos a carga discriminatória da qual a pedagoga percebeu segundo o ponto de vista de um de seus entrevistados.
O ser branco é tido como uma norma padrão da sociedade brasileira. E é possível ver essa questão, quando em consultas do censo somos questionados quanto a nossa cor de pele. Muitos afirmam: sou branco! Ou seja, é norma, é padrão!
Dada essa dificuldade, a pesquisadora sente a emergência de que quando abordados as questões referentes ao racismo é importante levarmos em conta que tem de ser discutidos ambos os lados: os negros e os brancos. Pois fica realmente difícil nos martirizar sobre o papel do negro visto como negativo, sem apontarmos de fato, como essa negatividade fora implantada pelos brancos. É necessário refletir sobre essa branquitude que fora se instaurando e tomando forma, mas que ninguém ousa debater, por ser visto como natural. Tendo em vista que ao falarmos de ser negro, deixamos de lado o debate de ser branco e perpetuamos assim o racismo!
É prioritário refletir essas questões!

Gláucia Santos de Maria

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Será realmente que o certo não seja o errado?

Aleatoriamente costumamos reproduzir nossos costumes a partir da sociedade na qual vivemos. Desde pequenos observamos como a sociedade se expressa à nossa volta, e depois tentamos ao longo do nosso desenvolvimento intelectual, agir da forma pela qual aprendemos, para nos inserirmos no padrão que é imposto. É claro que desde a infância a busca de nos introduzirmos em determinados grupos de amizades é algo muito valorizado. No entanto, a partir do momento que você faz parte de um determinado grupo, o individuo inserido em certo ciclo de amigos, tem que agir de forma semelhante aos membros que fazem parte deste grupo. A não adaptação logo exclui o membro que não possuir as características fundamentais que cada grupo tem. As opiniões de cada ser humano não são iguais, porém, um grupo formado de um ciclo de amizade, preza pela semelhança de opiniões, para não haver atritos. É ai que aparece o assunto a ser explorado: costumamos fazer determinadas coisas que para uns é certo, mas para outros é errado.
            Um bom exemplo para discutir o certo e o errado é a guerra, há vários tipos de pontos de vista. Por exemplo: o lado A defende a sua verdade e o B também defende a sua. Lados opostos, mas que emitem opiniões semelhantes. No entanto não admitem que prezem pelas mesmas qualidades, e sim buscam mostrar as diferenças que separam um do outro, para gerarem a inimizade que precisam para ocorrer um confronto de ideologia, que é necessário para execução de uma guerra. Pois, a defesa de interesses sempre está contida nesses conflitos, da mesma forma que dentro dos grupos de amizades existem hierarquias que nos fazem promover atos vexatórios a outros indivíduos, que só não faríamos, por não haver da parte do individuo agressor nenhum interesse, que só torna interessante por causa do apoio de um grupo de amigos. O interesse do grupo está em jogo para mostrar sua força diante de outros grupos. E isso está visível em todos os cantos que regem a sociedade: no trabalho, no esporte e principalmente na escola, onde a exclusão de ciclos de amizades por parte de um individuo pode ser acometido pelo bullying. Um assunto muito discutido na atualidade, mas ainda muito complexo. Por haver inúmeras formas de explicar esse assunto.
            Sobre a temática do certo e o errado, em entrevista ao Café História, o filósofo Eduardo Jardim quando perguntado sobre a obra “Eichman em Jerusalém” de Hannah Arendt, dirá a partir da sua percepção sobre a obra que:
“Ela levantou, então, uma hipótese a respeito da existência de um vínculo entre a incapacidade de pensar e cometer o mal. Indagou: haverá na própria atividade de pensar alguma coisa que previne de fazer o mal?”
Dessa citação destacamos que a sociedade tende a moldar o caráter do individuo que está inserido em sua formação, os pensamentos e atos são frutos do seu sistema. A visão de Hannah Arendt, dada pelo filósofo Eduardo Jardim, nos proporciona entender, que os soldados nazistas e também o povo alemão, não agiam de forma premeditada por eles, e sim pelo sistema que conclamava as diferenças e o preconceito, dando conta de uma raça superior. Dessa forma, sob influência de uma força alienadora produzida pelo Estado presidido por Hitler, fora possível criar uma massa insensata, controlada pelo Estado nazista. Algo que ocorre parecido nos grupos, pois o líder sempre tem autoridade sobre os outros, e estes tendem a obedecer ao líder, pois tomar o lugar de um líder é difícil, tendo em vista que o mesmo tem que possuir carisma para exercer sua liderança e controle sobre outros indivíduos.
            Continuando na mesma perspectiva nazista, e para interpretar de que forma atua o certo e o errado na sociedade em geral, destaco o filme “O Menino do Pijama Listrado” do diretor Mark Herman. O mesmo conta a história do menino Bruno que é filho de um comandante de um campo de concentração para judeus. Bruno tem seu pai como um herói, no entanto o mesmo em sua mentalidade de criança observa ao longo do filme que, talvez seu pai não seja realmente o herói que imaginava. A imposição da ideologia nazista não é absolvida pelo protagonista do filme, que se torna amigo de um menino judeu, que conheceu a partir de sua exploração do ambiente em que vivia. O seu laço de amizade vai além da sua sociedade, e a sua inocência é capaz de interpretar o que é realmente ser ético, enquanto seu pai comete atos que não são considerados certos, mas o regime no qual estava inserido achava necessário, e ele cometia o mal em razão de uma força superior, o Estado. A descoberta da realidade por parte de uma criança que fora exposta a uma ideologia, mas que colocada em uma balança do que era certo ou errado, para este individuo, preferiu se deter a igualdade que ele tinha com seu amigo judeu, que vivia perto, no entanto longe, por causa de uma imposição.
            Determinar o que é certo e o que é errado é uma tarefa difícil. Será que realmente existem essas duas formas de proceder? Fica em vista que é o padrão de uma determinada sociedade que demarca essas ocasionalidades, e divergem, pois o certo pode tomar caminhos inesperados, como os exemplos citados, e é o que vale também para o errado. A realidade dos grupos aumenta ainda mais as variedades de formatações que esses podem assumir. O certo pode ser o errado, e o errado pode ser o certo, o caminho quem escolhe é o ser humano, no entanto, este precisa questionar a sua sociedade para ter noção do que realmente significa essas simples palavras.


Ronyone de Araújo Jeronimo