sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Quem foi que disse que a mulher é inferior?




Estamos cansadas de ouvir piadas machistas sobre nós mulheres como: “Lugar de mulher é na cozinha pilotando fogão”! Ou aquela do tipo: “A maneira mais cara de ter louça lavada de graça é casando”. Esses são apenas alguns exemplos de como as mulheres são tratadas e apontadas pela sociedade, que de maneira preconceituosa alguns homens nos acusam de sermos inferiores diante da suposta “superioridade” masculina. Mas só os homens são machistas? Que nada! Há muita mulher por aí que age dessa maneira.  Sempre tem uma mãe, uma tia, uma avó que diz: “Filho deixe que sua irmã ou eu, arrume sua cama, afinal, isso é tarefa de mulher”.
Esse preconceito generalizado, tanto por homens e até mesmo das próprias mulheres, tem seus motivos, e ele fora implantado em nossa sociedade e em muitas outras em um período histórico muito remoto. Quem nunca ouviu dizer que a mulher é o sexo frágil?  Diante das diferenças físicas entre homens e mulheres, julgou-se que o corpo feminino devido sua fragilidade perante o masculino, fizeram com que estas fossem vistas como inferiores. A partir de uma visão de caráter biológico, criou-se a idéia de que as mulheres fossem intelectualmente inferiores aos homens. Desse modo, o gênero feminino fora visto (e em muitos casos ainda são!) como incapaz de cuidar dos negócios da família, do seu próprio corpo... E a partir daí, estas passaram a ser submetidas aos mandos e desmandos da classe masculina.
Não podiam sair de casa sozinhas, se vestir como quisessem, de trabalhar, votar e serem votadas. Suas vidas eram limitadas aos afazeres domésticos e no cuidado da família. Acerca disto, Mary Del Priore, cita em sua obra Histórias Íntimas- Sexualidade e Erotismo na História do Brasil (2011), que em artigos publicados na revista Ele & Ela (1969), enalteciam esse papel feminino limitado a vida doméstica, e diziam o seguinte:
“A mulher deve ser fêmea e assumir sua condição. Deve ser bonita, desejável, deve ser mãe. Deve cuidar da casa e dos filhos e esperar o marido de volta do trabalho bem disposta e arrumada. É exatamente para isto que ela existe. E, longe de diminuí-la, isto só pode engrandecê-la. Afirmar que tudo isso leva o sexo feminino ao aniquilamento intelectual e à submissão, é desconhecer as possibilidades da tecnologia atual. A verdade é que sempre sobra tempo para ler, para escrever, para pintar, sei lá, para criar. Isto é até um privilégio, pois nem sempre os homens dispõem deste tempo”.
Mas estas permaneceram ainda submetidas a estes tratos? Lógico que não!
Com o decorrer do tempo, após muitas reivindicações, as mulheres foram conquistando seu espaço e liberdade. Mas essa liberdade era tida como sinônimo de libertinagem, pois era vista como pecado diante da ordem social pautada na passividade dessas por muito tempo. Mas de que forma isso acontecia? Tomemos um exemplo. A mulher que decidia por separar-se era excluída pela sociedade. E mulher infiel? Infidelidade masculina ainda era aceitável, pois havia (e ainda há hoje!) um discurso que dizia que o homem possuía um impulso inerente, inato, segundo o qual ele não podia mudar! E isso justifica alguma coisa? Que hipocrisia. Mas se mulher trair é tida como um mal social, e deve ser posta as margens da sociedade que prima pelos “bons costumes”.
Em 1912, a valente Sylvia Pankherst fora saudada por sua coragem de discursar num bairro operário da cidade de Londres. Juntamente com a mãe Emmeline e a irmã Christabel, ativamente lutaram para que as mulheres pudessem votar na Inglaterra. E essa conquista ocorreu no ano de 1928 após muita persistência. Aqui no Brasil, tivemos várias ativistas que reivindicavam seus direitos. Com a ascensão da República, surge uma figura que fora uma das primeiras a reivindicar o voto feminino e pela emancipação social da mulher: Josefina Álvares de Azevedo. Em meados ainda de 1888, ela fundou o primeiro jornal feminino na cidade de São Paulo, que em suas páginas além de lutar pelo voto feminino, buscava uma melhor educação voltada para as mulheres, no qual estas desenvolvessem as suas capacidades de não apenas exercer funções da família, mas direitos de participarem de funções importantes do Estado.
Diante desses fatos, percebemos que essas mulheres foram exemplos de luta e protesto diante da repressão implantada fortemente na sociedade, e se antes estas se conformavam com a situação em que viviam de submissão, passam a reivindicar com unhas e dentes por seus direitos.
Acerca do que foi mencionado, é fato que homens e mulheres são diferentes quanto ao aspecto físico, mas isso não justifica dizer que estas são inferiores intelectualmente, ou que elas devam estar restritas aos afazeres do lar. Se pararmos para pensar, a inteligência de ambos os sexos é a mesma, o que pode ser decisivo, são as oportunidades que cada um terá de conquistar para aplicar suas capacidades. Com o avanço da tecnologia, por exemplo, dispensa-se o uso da força física masculina em alguns casos, e o que se exige na verdade, são as competências intelectuais, e isso tanto homens, quanto as mulheres possuem.
Mas a conquista feminina para por aí? Claro que não. A descoberta dos anticoncepcionais garantiu que estas pudessem fazer um planejamento familiar. Tendo em vista que em décadas passadas, eram impulsionadas para serem meras procriadoras. E vale também ressaltar que o prazer sexual antes restrito apenas ao homem, passa a ser sentido pela própria mulher, antes visto como pecado, mas que apesar disso tudo, muitas ainda se subjugam com medo de ir para o inferno, de acordo com alguns preceitos religiosos. Mas isso é uma questão que também deve ser relativizada.
E no quesito profissão? Encontramos mulheres que são advogadas, médicas, engenheiras, presidentes de países. Entretanto, ainda lutamos por melhores salários. Pois mesmo que muitas exerçam a mesma profissão que um homem, ainda assim, recebem salários inferiores em alguns casos. E mesmo que tenhamos alcançado várias conquistas, percebemos ainda que o preconceito é emergente contra as mulheres, e que há muito a melhorar.
Quando batemos na tecla por “igualdade”, muitos acham que queremos ser superiores aos homens. Pois se assim fosse, os papéis apenas mudariam: mulheres superiores e homens submissos. Creio que isso não faz sentido. A luta é pela igualdade de direitos que assim como os homens os têm, nós queremos e exigimos também: igualdade de direitos garantidos. Não se trata de superioridade, é uma questão de justiça, de dignidade!

Gláucia Santos de Maria

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Canibais: por necessidade ou fanatismo?



Quando pensamos no termo canibal, logo fazemos referência a indivíduos que se alimentam de seus semelhantes. Algo que quando ocorrem entre nós, seres humanos, tratamos como um ato doentio, de uma pessoa desprovida de juízo que, incorporado por um desejo animalesco, comete esse ato dito irracional, que antes fora considerado como prática de povos não civilizados.
Esta prática fora uma das causas para que os ocidentais se apropriassem de espaços já habitados que, segundo estes, tais sociedades possuíam culturas atrasadas, que se assemelhavam aos nossos primeiros ancestrais humanos. É claro que os europeus não tinham essa noção de evolucionismo no século XVI que só seria produzida no século XIX. Segundo a qual, cada sociedade teria de atravessar etapas evolutivas que iam desde a selvageria, passando pela barbárie até atingirem à civilização, vista como o patamar mais elevado da humanidade, onde se encontrava a sociedade europeia. Mas, possuíam a criacionista em que se baseavam e submetiam esses povos que não possuíam fé (segundo os europeus) e andavam nus.
Quando nos remetemos à fé, logo direcionamos nosso olhar ao nosso país Brasil, onde o cristianismo católico fora determinante em nossa colonização. De acordo com os que aqui chegaram os nativos que habitavam nosso território não estavam no padrão, dos preceitos de fé advindos da Europa. A cultura xamanista que reinava no Brasil antes da colonização portuguesa, não poderia ser atribuída como fé, segundo a visão portuguesa baseada em preceitos cristãos, nas quais os nativos não possuíam.
Alguns relatos europeus de antropofagia no início da colonização sobre o Novo Mundo deram conta de se criar sobre os povos indígenas da América um estigma de um continente que vivia na barbárie, propiciada por seus nativos, que não podemos considerar que fossem na sua totalidade antropófagos. Mas, esquecem que os próprios europeus já provocaram espetáculos monstruosos, em decorrência da fé. Até mesmo se permitindo a cometer atos canibais, que foram esquecidos pela história ocidental.
Esses fatos são trazidos à tona pelo escritor Libanês Amin Maalouf, que a partir da apropriação de crônicas e de relatos históricos do período das Cruzadas, tivera a possibilidade de escrever a obra intitulada “As Cruzadas vistas pelos Árabes”. Trazendo a perspectiva árabe sobre os acontecimentos que ocorreram em circunstância do fanatismo religioso cristão.
Um fato inserido na obra de Amin Maalouf, que nos chama atenção, é um acontecimento ocorrido na cidade Síria de Maara, onde os relatos árabes darão conta de atrocidades cometidas pelos franj, (forma pela qual os árabes denominavam os ocidentais, em circunstância das cruzadas) que provocariam o temor em todas as cidades árabes que ficavam no caminho de Jerusalém, que era o principal objetivo dos ocidentais, a retomada da cidade santa, que estava em posse dos árabes que não compartilhavam da religião cristã, e sim da ascendente religião Mulçumana, que no século XI já aspirava um risco para os ocidentais. Um perigo que escondia por parte dos ocidentais, uma tentativa de se expandirem pelo oriente, utilizando-se de uma famigerada guerra santa.
Guerra esta que não explica as atrocidades que ocorreram em Maara. Já que os ocidentais agiram de forma cruel contra uma cidade rendida, que não possuía um exército, apenas uma milícia, e que não se atreveu a enfrentar o grande exército franj, se apegando na palavra de um notável franj, Bohémond, que assumira o poder em Antioquia e garantira que a população de Maara não seria incomodada. No entanto, em razão da invasão ocidental, a população dessa cidade Síria seria trucidada, e serviria até como alimento para esses fanáticos, que agiam de uma forma nunca vista antes. No qual é relatado pela obra de Amin Maalouf, em que os ocidentais aterrorizavam, clamando por carne sarracena. E relatos ainda dão conta que a população adulta de Maara era cozinhada em caldeiras, enquanto que as crianças eram grelhadas no espeto.
Em razão desse acontecimento monstruoso ocorrido em Maara, há de se perguntar se o que aconteceu se deve em razão de sobrevivência, que fora abalada por alguma circunstância física que os ocidentais foram infligidos. Como fora evidenciado na obra de Maalouf, em que os chefes dessa carnificina afirmarão em uma carta ao papa no ano seguinte do ocorrido, que uma grande fome assolou o exército franj, e que acabou resultando nesse fato. Ou por razão de fanatismo, quando em uma frase de um próprio cronista Franj Albert de Aix que esteve na batalha, fez cair por terra esse argumento de sobrevivência, quando o mesmo relata: “Os nossos não repugnavam em comer não só a carne dos turcos e dos sarracenos mortos como também a carne dos cães!” (Maalouf, 2001, p. 47). Esta frase dotada de crueldade mostra outra face do que possivelmente ocorrera em Maara.
Esse acontecimento teve inicio em 11 de Dezembro de 1098. Quase quinhentos anos depois, os europeus se impressionavam com relatos trazidos do Novo Mundo, nos quais eram destacados que os nativos da América eram canibais. Sem nem mesmo buscar entender por que estes agiam dessa forma (se por prazer de se alimentar ou se tinha alguma explicação lógica), os julgavam desta maneira, estigmatizando-os. Sem levar em consideração que os próprios europeus, em razão das cruzadas, sem lógica alguma, apenas pelo fanatismo religioso, praticaram canibalismo. O que poderia explicar esse fato era que: os europeus agiram dessa forma para mostrarem que os muçulmanos não eram seus semelhantes, pois os mesmos não compartilhavam do mesmo credo.
Uma frase de um ilustre poeta que nascera em Maara, que possuía o nome de Abul-Ala AL-Maari, que vivera antes desse acontecimento, resume o que pode levar o ser humano a agir dessa forma dita irracional: “Os habitantes da terra dividem-se em dois grupos. Os que têm um cérebro, mais não têm religião, e aqueles que têm religião, mas não têm cérebro”.

Ronyone de Araújo Jeronimo



sábado, 3 de dezembro de 2011

Ciências Sociais



Amigos, familiares e colegas (mesmo da universidade), vez por outra pergunta o que é ciências sociais? Ou o que faz um cientista social?
Ah sei, você vai ser assistente social... Não!!!
Dada à dificuldade do que é ou o que faz, é necessário por vezes, fazer um discurso longo sobre o que serei daqui a alguns anos, tendo em vista que estou em formação...
Grosso modo, podemos dizer que a área das ciências sociais se subdividem  em três, tais sejam: antropologia, sociologia e ciência política.
Na Antropologia pode-se estudar a origem, os costumes do homem e das culturas.  Nomes como Lévi-Strauss, Mauss, Morgan, Radcliffe-Brawn, dentre outros, serão vistos na disciplina em questão.
Na Sociologia, investigam-se as relações, as estruturas e a dinâmica das sociedades modernas, analisando os processos históricos de transformação das organizações sociais. Autores como Durkheim, Weber, Bourdieu e o próprio Karl Marx, contribuíram com suas ideias na área da Sociologia.
Na Ciência política, analisam-se os sistemas, as instituições e os partidos políticos de um país e as relações entre as nações. Bem como abrange assuntos relativos às políticas públicas e etc. Figuras como Bobbio e Gramsci, terão destaque na ciência política.
Atuando como professor ou enveredando no campo da pesquisa, percebemos o quão vasta é a carga e aporte que os cientistas sociais podem atuar na área que optar.
Decidir por ser cientista social é um grande desafio. Pois é necessário reservar, horas e horas de dedicação junto aos livros. Então, tem que gostar de ler! Mas é um prazer enorme poder usufruir e estar constantemente dialogando com os autores, que procuram através de suas teorias explicarem no cerne da vida humana, como as coisas realmente são.
Pena ainda que o curso não tenha o reconhecimento que tanto merece. São anos e anos, livros e mais livros, sem contar nas apostilas, no curso da graduação e na pós, doutorado... são horas de dedicação que mereciam uma melhor atenção dos “nossos dirigentes”.
O que mencionei sobre a função social do cientista social, é apenas uma pequena parcela do que realmente são as Ciências Sociais.
O barato de ser cientista social é poder estar no mundo e questioná-lo, é imaginar o quão podemos fazer de melhor a partir das teorias que lemos, é saber a dimensão da responsabilidade que temos diante dos nossos olhos, e que de certo modo, nos escapa das mãos. Mas que constantemente estamos à procura de respostas de como se dá a lógica social em meio aos seus múltiplos aspectos.
O Cientista Social nunca está satisfeito, é um eterno estudante, à procura de conhecimento. Ser cientista social é estar no mundo, questionar esse mundo, e procurar saber as razões pelas quais fazemos parte dele. É vida, é social, é cultural.

Gláucia Santos de Maria

sábado, 19 de novembro de 2011

Pelo direito a livre escolha da profissão




Muitas vezes, sonhamos. Idealizamos como deve ser interessante ser um profissional de determinada área. Entramos na faculdade, estudamos, nos empolgamos. Enfim, tudo o que temos direito.

Enfrentamos muitas influências ideológicas. Correntes de épocas diferentes são transformadas em livros e apostilas e vão sendo inseridas em nossas mentes, postas à prova em exercícios de avaliação constante e provas propriamente ditas. Aquelas em folhas brancas em que temos que preencher, copiosamente, pensamentos de quem viveu séculos antes de nós.
Todo esse cotidiano acadêmico é empolgante. Surgem bolsas de estudo em projetos de iniciação cientifica e você começa a fazer jus à máxima “Viva a universidade” ou “Não deixe que a universidade passe por você. Imprima sua marca nela!”. Enfim, os apelos são muitos.

Você vai se encantando em participar do Centro Acadêmico e começa a surgir em sua mente a ideia de ser pesquisador. Pronto! Nesse meio tempo, você já nem sabe dizer se prefere a pesquisa ou o mercado. Confusão! Se isso não acontece/aconteceu com você, ótimo! Mas, acredite: acontece com muita gente.
Tantos estão por aí frustrados, deslocados no mercado ou mesmo inseridos em um grupo de pesquisa e sendo professor. Gente, não me interpretem mal! Cada um é cada um. Há pessoas com vocações para os mais diferentes cargos profissionais.
Diante desse cenário, saiba escolher muito bem sua profissão. Leia bastante sobre os diferentes cargos que você poderá ocupar. Busque conversar com profissionais alocados no mercado e na universidade. Isso evita o dinheiro gasto em cursos pré-vestibulares, em universidades particulares ou mesmo tomar a vaga de um alguém em uma universidade pública.
Este não é um texto de uma profissional frustrada, como muitos podem pensar, mas é um depoimento de quem já viu salas de universidade vazias, devido a desistentes, e muitos (mas muitos mesmo!) profissionais que chegaram ao mercado e viram que não é nada do que imaginavam.
Pense nisso!


Girlene Medeiros
 23 anos, repórter do G1 Amazonas, formanda em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

sábado, 5 de novembro de 2011

O que se esconde por trás de um filme?


É interessante como um filme, seja qual for, move determinados elementos que por vezes passam despercebidos por quem o assiste. Em razão disso, faremos um breve comentário acerca do vídeo “Mensagens Subliminares em O Show de Truman” (http://www.youtube.com/watch?v=RyUmN8t9qBU) à luz da abordagem feita por Adorno e Horckeimer.
O filme, de um modo geral, de acordo com a indústria cultural, é um bem simbólico produzido para o consumo dos indivíduos, baseada na razão técnica instrumental que resulta na padronização e produção em série de bens culturais. O processo de elaboração de um filme é previamente esquematizado por quem o produz. Nada que o consumidor classifica, não deixa de passar pelos esquemas da produção. Tudo que é passado para os indivíduos é antes planejado por seus produtores. Ou seja, nada está ali por acaso, e no caso de “O Show de Truman”, tudo fora planejado para que fosse desenvolvida a história. Adorno e Horckeimer, afirmam que “quanto maior a perfeição com que suas técnicas duplicam os objetos empíricos, mais fácil se torna hoje obter a ilusão de que o mundo exterior é o prolongamento sem ruptura do mundo que se descobre o filme” (p.104)
No vídeo, podemos perceber que a apresentação de diversos elementos é apresentada de acordo com as ideias ou concepções de que o próprio produtor tem em si. Um exemplo disso mostrado no vídeo é a inserção de elementos da maçonaria, que a todo o momento são mostrados no filme, como as duas colunas de Jackin e Boaz, que é o símbolo para acessar outras dimensões e fugir do mundo de Deus, segundo os produtores do vídeo, que atravessam o desenrolar da trama protagonizada por Jim Carrey que vive em um reality show sem ter noção disso.
Adorno e Horkheimer afirmam que desde a introdução do filme sonoro, a produção mecânica é tudo planejamento antecipado, que limita os indivíduos de pensarem, como uma forma de adestramento que atrofia a capacidade imaginativa, tendo em vista, que o filme, sendo ele esquematizado, coloca tudo em nossa disposição, de modo que não precisamos raciocinar nem estabelecer um pensamento crítico e questionador, pois tudo está posto, dado. O indivíduo se torna prisioneiro dos esquemas propositalmente dados, impossibilitando sua capacidade imaginativa, reflexiva, de forma que este tem sua mente anestesiada.
O filme de certo modo, serve para entreter, para refletir símbolos, e também para influenciar subliminarmente. Assim como Truman, que é manipulado antes de ter o conhecimento da verdade de como vive, somos também levados a sermos manipulados pela mídia, na medida em que apenas introjetamos o seu conteúdo sem nenhuma reflexão acerca do que está sendo posto. Dessa forma, percebemos que a indústria cultural impede a formação de indivíduos autônomos, capazes de decidir, questionar e julgar de forma consciente.

Gláucia Santos de Maria

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O drama de uma tradição: a submissão das mulheres chinesas



         A tradição surge a partir de costumes comuns e casuais de todas as sociedades, no entanto como estas se tornam populares em determinada região ou espaço? E qual a razão de sua cultura tornar possível a adesão das camadas sociais de um povo? São questionamentos implícitos para costumes, que deflagram culturas ricas em costumes próprios de difícil compatibilidade com outros povos, a diferença será o marco da expansão em uma determinada região. Tomando como foco a China, observamos como a tradição será fundamental, para criar a sociedade chinesa dos dias atuais, a vivência milenar em regimes autocráticos faz com que os chineses não se rebelem contra o regime implantado, já que estes nunca possuíram um regime democrático ao longo de sua história. Assim, a submissão às tradições, é evocada pelo governo, para melhor controle das massas. Isso não quer dizer, que intelectuais e partes da massa chinesa concorde com o regime opressor, mas se omitem com medo das repressões que este propagar. Um fato a ser destacado nesse texto se relaciona ao passado da China, que trata das mulheres, no que diz respeito às práticas, nas quais as mulheres se acostumaram a praticar, em busca de padrões de beleza e obediência ao sistema familiar. Um costume que submetia a mulher a dores extremas e tornava esta, inútil para trabalhos domésticos e no campo, tendo em vista que essas eram fundamentais para a economia familiar. Mesmo assim, as famílias submeteram estas por um único motivo, tornar essas mais submissas, tirando toda capacidade física e tornando essas mulheres psicologicamente afetadas. A normalidade encarada por essas, tornava o enfaixe dos pés, uma dor referente à dor do parto, só que estas se enganavam, a dor do parto era passageira, mas esta era constante e não permitia que as mesmas tivessem uma vida comum.
             O historiador Americano John King Fairbank em sua obra “China uma nova história” vai descrever sobre esse costume no qual este ainda presenciou na década de 1930, quando o mesmo morou com sua mulher na China. Esta prática é descrita por Fairbank como horrorosa diante das mulheres que este avistou já no inicio do século XX, com pés enfaixados. A locomoção dessas mulheres era lenta e desengonçada, em seus rostos o sofrimento por estar em pé, com pés minimamente pequenos.  Fairbank vai dizer em seu texto que essa prática de enfaixar os pés, foi muito disseminada no século XIX, mas sua origem remete a corte chinesa do século XII, da dinastia Song, mas com o passar do tempo se tornou comum o enfaixe dos pés nas classes mais baixas da sociedade chinesa, principalmente na camponesa, que vivia da agricultura. Como já falado no início do texto, as mulheres possuíam uma grande responsabilidade nas plantações, mas estas perderam a capacidade física a partir deste costume, tudo isso para adentrar aos padrões de belezas que dariam bons casamentos para estas e ajudariam as suas famílias com dotes que atingiriam um percentual referente ao tamanho dos pés que estas mulheres possuíam. O fetiche sexual criado pelos homens diante dos pés pequenos influenciou essa prática cruel. Poemas eram feitos em referência aos pés das mulheres, a beleza enfatizada pelas mulheres escondia o desejo sexual masculino, que submetia desde menina ao enfaixe dos pés, meninas de cinco a seis anos iniciavam ao processo, muitas não resistiram aos procedimentos de enfaixamento dos pés, a mortalidade foi grande, a dor implacável que se sucedia para que os pés não crescessem, continuava na vida adulta. Muitas não tiravam o enfaixe, e permaneciam até sua morte, mesmo assim essas infligiam suas filhas a fazerem os mesmos procedimentos. Nem sempre o enfaixe impedia o crescimento dos pés, dessa forma, em uma atitude desesperada muitas se mutilavam, cortando metade dos pés, tudo isso para ficarem nos padrões femininos da tradição chinesa.
              O enraizamento desta cultura se tornou tão comum, que mesmo passando por dores implacáveis, as mulheres que se submetiam a este processo de enfaixe dos pés ridicularizavam as mulheres que possuíam pés normais. A adesão dessa prática não atingiu as minorias chinesas, esse é o caso dos manchus, dos mongóis e convertidos ao cristianismo. Inclusive no período mais disseminado do enfaixe dos pés, que fora no século XIX a dinastia que comandava a vida dos chineses, era de origem manchu, os Qing. Os imperadores contestavam essa prática, já que sua etnia não era adepta. No entanto estes não eram chineses, e para governar um povo que grande maioria seguia um costume, estes tiveram que se adaptar, para se manter no poder, e evitar uma rebelião de uma massa de tradicionais chineses, que se sentiam infligido, pelo poder está nas mãos de um povo que possuía minoria em território chinês. Dessa forma os imperadores Qing, não tinham voz para contestar essa atividade, que tornava a mulher um flagelo. Princípios Confucianos também discordavam dessa prática cruel. Fairbank se pergunta será que as mulheres acreditavam na teoria masculina de que o enfaixe dos pés produzia músculos que aumentavam o prazer dos homens na copulação? O que essas mulheres poderiam mesmo sentir, a não ser inferioridade, medo de romper as tradições e a autoridade familiar, estas viviam aprisionadas pelo um regime tradicional, que não as permitia fugir de suas obrigações, a incorporação desses sentimentos criavam a personalidade deturpada da mulher chinesa dos pés enfaixados, que depois submetia suas próprias filhas a este costume, por considerar uma convenção que não podia ser rompida, assim a mãe ensinava a filha a ser submissa. Uma prática que nos dias atuais, não existe preocupação dos historiadores e sociólogos chineses de estudarem esse acontecimento, pelo fato de que homens e mulheres chineses ainda possuem dificuldade de assumir a existência desta atividade, uma tentativa de obscurecer algo que outrora fora comum, e hoje entre algumas famílias camponesas chinesas deve ter permanecido essa prática horrenda, que machuca e agride, e cria pessoas com distúrbios psicológicos. 

Ronyone de Araújo Jeronimo

sábado, 24 de setembro de 2011

O melhor amigo do homem: a história social do cão


Dizem por aí que o cão é o melhor amigo do homem, principalmente na fala de muitos apreciadores dessa espécie animal. Mas se levarmos em conta a história da humanidade, é bem verdade que o cão, esteve sempre presente na vida humana, e a partir de sua existência, juntamente ao lado  deste, o cachorro conseguiu marcar o seu território.
A origem do cão doméstico data de 35 mil anos, com o aparecimento dos miacídios que deram origem aos canídeos primitivos, de acordo David Tylor em sua obra “You & Your Dog”. Com a evolução da espécie, hoje podemos encontrar uma diversidade de raças e de usos sociais que o homem procura fazer deste a partir de suas características.
Fazendo um percurso na história, encontramos os cães que eram (e são) caçadores, ou pastores de ovelhas. Outros possuem a capacidade de rastrear, ou para simplesmente fazer companhia ao seu dono, como forma de entretenimento.
Um caráter social bastante relevante é o que diz respeito aos cães guias. Estes são treinados e adestrados para darem suporte e assistência a deficientes visuais. Através de sua perspicácia, o cão guia tem de saber discernir os perigos que rondam o percurso da rotina diária do deficiente visual. Imaginem só a nobreza desse ato!
Um fato interessante e que merece destaque é quanto à história social do cão nas diversas civilizações. No Egito, por exemplo, o cão era adorado como um deus conhecido como Anúbis que tinha a cabeça no formato de um chacal, e que era considerado como o guardião dos mortos. Já na Grécia, o cão tinha um lugar específico: era o protetor do Hades. Entre os fenícios, os cães passaram a ser difundidos. E em Roma, muitos desses animais eram adestrados para participarem dos espetáculos dos gladiadores.
Chegando à Idade Média, com a epidemia da peste negra que dizimou muitas pessoas, os cães dessa época, devoravam os mortos encontrados. Por esse motivo, os cães eram vistos como o limite entre a vida e a morte.
Chegando ao período do Renascimento, o cão ganha uma difusão ainda maior, devido às navegações, e é expandido em muitas sociedades.
Percebam que o cão ao longo da história da humanidade sempre esteve presente, a partir de sua origem, nas atividades do homem, seja para auxiliá-lo, ou dando suporte a este.  E isso pode ser percebido com a participação de cães de grande porte na Primeira Grande Guerra, prestando serviços de comunicação e transportando víveres e munições, além de vigiarem campos de prisioneiros e rastreando foragidos.
Nos tempos de hoje, vemos um processo de hominização dos cães: eles vão perdendo caracteres animais e transformando-se em homens, ao passo que passam a adotar determinados costumes humanos, como o uso de roupas, perfumes, acessórios; não por vontade própria, mas por imposição de seus donos.
O cão é representado nas artes, na literatura, como a figura “Baleia” da obra Vidas Secas de Graciliano Ramos, que num momento de extrema miséria, caçou um preá e o entregou a Fabiano, seu dono. Nas animações encontramos o Pateta e o Pluto de Walt Disney; nos desenhos temos os exemplos de Snoop, Scooby Doo, bem como o Bidu, de Maurício de Souza, nos seus quadrinhos. Sem contar que esses caninos marcam presença nas telonas como o grande sucesso “Marley e eu” e a história contida no emocionante filme “Sempre ao seu lado”.
É impressionante como esse pequeno grande ser acompanha o homem há muitos anos, num laço afetivo de amizade, companheirismo e gratidão. Amizade e serviço que atravessam fronteiras que vão além da morte. Um bom exemplo disso, tomando como referência o filme anteriormente citado, “Sempre ao seu lado”, baseado em uma história real, Hashiko, mesmo após a morte do seu dono, ficava a espera deste no mesmo ponto de sempre, aguardando seu amigo. Sempre fiel e leal, o cão nunca abandona o homem, e passa a fazer parte da família deste, criando laços tão profundos que jamais serão desatados. E mesmo que no seu pequeno curso de vida, de acordo com sua espécie, o cão quando parte, deixa marcas e boas lembranças de um tempo que não volta mais.

(Texto dedicado a um grande amigo, que na sua passagem meteórica deixou gravada na minha memória bons momentos. Meu amigo, meu Kenai).

Gláucia Santos de Maria

domingo, 11 de setembro de 2011

Os indígenas sobre o olhar Europeu e a discutida descoberta do Brasil



A chegada dos portugueses no Brasil é um tema que envolve diversas discussões. Levando em conta o olhar Europeu, daqueles que nos colonizaram, e as dimensões das conquistas que estes obtiveram. A partir do momento no qual estes dominaram seus medos e buscaram através dos mares, adquirir suas fontes de riquezas. Porém, para chegarem ao propósito tiveram que domar os nativos, que já viviam nos locais onde as naus portuguesas atracaram. Diante da premissa descoberta por parte de Portugal, no qual  hoje chamamos Brasil, surge a contestação, pelo fato destes se colocarem como descobridores da Nova Terra, desqualificando a existência dos nativos no qual o padre Antonio Vieira diria que a América considerada pelos europeus o Mundo Novo, seria apenas novo para os sábios que fechavam os olhos, ignorando a existência da população indígena que já vivia naquele continente a milhares de anos. Então, levando em conta esse pressuposto, o que teria ocorrido fora à conquista dos portugueses diante das populações indígenas brasileiras e não uma descoberta, pelo fato destes imaginarem a possibilidade da existência dessas terras. Contrapondo essa ideia o historiador Português Vitorino Magalhães Godinho diz que “Descobrir insere-se num circulo cultural onde ainda nada se sabe do que se vai encontrar (achar); mesmo sabendo o que se procura (buscar)”. Neste caso, de fato, os portugueses teriam mesmo descoberto o Brasil. Pois estes buscavam em suas viagens o desconhecido, sem imaginar, no entanto, o que iriam encontrar.
Levando em conta os preceitos religiosos europeus e os conceitos fundados na antiguidade da mesma, os povos encontrados na América e principalmente no Brasil seriam bárbaros. Seres bestiais com formas humanas, porém, seus costumes eram diferentes. O fato de andarem nus era bastante enfatizado. O eurocentrismo por parte dos portugueses e os outros colonizadores europeus, foi o que causou a dizimação da grande população indígena na América. Antes disso, tentaram de toda forma escravizar os Índios, mas, estes não possuíam uma cultura de trabalho semelhante com o resto do mundo. Na não possibilidade de escravizar, tentaram europerizar o Índio. Primeiramente o catequizando, expondo para este o catolicismo. O ideal cristão que o ajudaria a esquecerem dos seus costumes e práticas, e tornariam mais dóceis, diante da exploração portuguesa em suas terras. No entanto, não fora possível civilizar nos moldes europeus os indígenas, dessa maneira, a matança rolou solta. Os indígenas que se mantém até os dias atuais, são aqueles que cooperaram com os colonos ou os que tornaram parte da multidão. A descoberta portuguesa do Brasil daria a este a posse de algo que relativamente não era povoado, e sim habitado por animais e seres animalescos, iguais aos monstros marinhos que tanto assustaram os navegadores de outrora. Todavia os índios eram tratados como seres inferiores. E o medo que rondava o imaginário dos mares, não era o mesmo que os portugueses sentiam pelos índios. Estes eram apenas seres descartáveis em uma terra na qual o morador não tem valor e o descobridor dar as cartas.

Ronyone de Araújo Jeronimo

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Racismo é violência. Diga não!





Nosso país, hoje conhecido como Brasil carrega em suas raízes diversos tipos de culturas, fruto da colonização. Como todos sabem fomos colonizados pelo “homem branco”. Como fruto dessa colonização recebemos como apêndice uma prática da qual não temos muito que nos orgulhar: A escravidão, escravidão não só de negros, mas de indígenas entre outros. Mas o corrente texto irá tratar (como já anuncia o título) dos frutos deixados pela escravização dos negros, ou melhor o preconceito contra os negros principalmente no Brasil. Frequentemente debatemos que as raízes desse preconceito tenha sido a escravidão no Brasil, mas será que o preconceito contra os negros no Brasil é mesmo fruto da escravidão ou não seria o racismo um fenômeno de cunho mundial?

Gostaria de antemão esclarecer que eu não tenho respostas para todas as questões que serão levantadas, mas o objetivo do texto é fazer-nos refletir sobre a temática.

Com a abolição da escravatura (1888) supera-se a escravidão formal (trabalho escravo) de negros e seus descendentes no Brasil. Porém muitos obstáculos ainda hoje não foram superados. Supera-se o trabalho escravo, mas o preconceito não. O Brasil se autodenomina um país livre de racismo, que valoriza e superestima a cultura “afro-descendente”, mas no cotidiano a realidade é muito diferente.

Há quem defenda que o racismo tem origem xenofóbica se estendendo até o racismo dito. Desde o período das colonizações africanas, o colonizado acabava por se submeter ao colonizador e a áfrica foi basicamente colonizada por europeus. Daí podemos concluir que o racismo não é “privilégio” apenas do Brasil. Ouvimos constantemente as pessoas dizerem: “Ah! Mas os negros têm preconceito com eles próprios”. O relato a seguir poderá nos fazer refletir melhor sobre essa questão. Em 1947 o casal de psicólogos americanos Kenneth and Mamie Clark realiza um teste, para tentar avaliar a percepção de crianças negras, de 3 a 7 anos, em relação à discriminação, auto-estima e segregação racial. O teste se dava da seguinte forma: duas bonecas, uma negra e outra branca eram posicionadas uma ao lado da outra, o teste em si iniciava-se após as crianças identificaram prontamente a etnia das bonecas. Em seguida os psicólogos perguntavam quais bonecas elas prefeririam e quais as atribuições positivas e negativas elas relacionariam a cada uma das bonecas. O resultado do teste foi chocante, a percepção das crianças negras em relação ao sua própria etnia retrata o que ocorre em nosso cotidiano. A maioria delas agregou às bonecas valores segundo a cor ou a etnia da boneca observada. A boneca negra era caracterizada como má, feia, desagradável, enquanto que a boneca “branca” era taxada de boa, bonita e legal, dentre outros aspectos (um vídeo foi feito baseado nesse teste. O resultado pode ser conferido em: http://www.youtube.com/watch?v=PKqSPf-hKR4&feature=player_embedded).

Testes como esses nos retratam a dura realidade, frequentemente os negros são tratados como sendo maus, marginais, ladrões, quando não, são no mínimo vistos como feios. Sabemos que o que define a cor da pele é uma substância chamada melanina, quanto mais o indivíduo possui melanina mais escura é a cor da sua pele. Relembrado esse ponto questionemos como é possível que tentemos definir o caráter de um indivíduo pela quantidade de melanina existente em seu corpo. É biologicamente inconcebível que a cor da pele tenha alguma correspondência com o caráter do indivíduo.

Pesquisas realizadas por cientistas em um projeto chamado GENOMA HUMANO levam a crer, que quando o homem moderno (homo sapiens) surgiu, na África, há cerca de 150 mil anos, todas as pessoas tinham pele negra. Com a migração, para a Ásia e a Europa, foram surgindo as diferentes tonalidades. Deste modo as velhas teorias sobre a superioridade racial caem por terra.

Uma outra questão a ser levantada é a seguinte: quem é realmente Branco no Brasil? Quem tem origem cem por cento européia? Difícil responder, mas ainda que tenha, não há justificativas para o racismo, principalmente depois de cogitarmos todos termos origens africana. Acho que já foi esclarecido que as nossas origens são um tanto quanto questionáveis (se isso justificar o racismo). Mas alguém pode dizer: “eu não sou preconceituoso, apenas tenho preferência por pessoas de pele, cabelo e olhos claros”. Mas levantamos agora outra questão, o “gosto” também não é algo questionável? Um exemplo para fazer entender melhor. uma criança que cresceu em um ambiente cujos pais têm o hábito de ouvir música clássica e freqüenta o teatro provavelmente será um adulto que também irá carregar consigo as mesmas preferências que seus pais. Já uma criança que cresce em uma comunidade carente que nunca ouviu uma música clássica, mas ao contrário era acostumada a ouvir funk ou outro estilo qualquer será muito provável que esse estilo o acompanhe por toda a sua vida, não é mesmo? Então agora eu pergunto, será que o negro é realmente mais feio que o branco ou fomos nós que ouvimos isso a vida inteira também nossa família e nossos antepassados? A mídia nos apresenta o tempo todo padrões de beleza a serem seguidos e as pessoas fazem disso uma religião, não importa o quão crespo seja o seu cabelo, ele tem que ser alisado, não importa quão escuro, tem que ser pintado de loiro, se seus olhos não são azuis, apele para lentes de contato e só assim você será uma pessoa feliz. O nosso país é conhecido mundialmente por suas belas mulheres, no entanto as modelos “exportadas” são aquelas que correspondem ao padrão de beleza europeu, jamais uma indígena e muito menos um negra. O negro retratado nas telenovelas ou é morador de comunidade carente, ladrão, traficante, empregado (a) ou motorista dentre outros papéis com o intuito de solidificar a imagem do negro da forma mais pejorativa possível. E é isso que absorvemos constantemente e em nosso dia-dia, pela mídia, pelo cinema, pelos meios de comunicação em geral.

Cada etnia tem suas qualidades, mas como colonizados que somos (nós brasileiros) tenderemos a ver sempre o padrão de beleza europeu como o único digno de admiração! Devemos nos libertar das correntes do colonialismo e valorizar cada indivíduo com suas características! Eu não diria aquela frase clichê, “vamos respeitar-nos, afinal, somos todos iguais”. Mas eu diria somos todos diferentes, eis o cerne da questão. Viva as diferenças, pois padronização é um desrespeito a individualidade! A preferência de cada um deve ser respeitada, mas o preconceito (ou conceito preconceituoso), ah, isso não!  
 
Gracielle Silva

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Histórias em Quadrinhos: o que de fato elas nos revelam?


As histórias em quadrinhos são um recurso que abrange um público bastante vasto. Quem nunca leu uma na infância? Aposto que seu avô, seu pai, seu irmão já lhe contou algumas dessas histórias que marcaram seu tempo e que nos marcam até hoje. Percebemos que independente da idade, nos deparamos alguma vez com um quadrinho nas mãos.
As primeiras histórias em quadrinhos surgiram no fim do século XIX e início do século XX. Um dos primeiros personagens criados que conseguiram reconhecimento, foram às figuras: The Yellow Kid, Max and Moritz etc, que marcaram o seu tempo e que ganhou repercussão desse tipo de produção cultural.
Antigamente, os quadrinhos eram vistos apenas como tirinhas de veículos de informação como os que são colocados em jornais. Hoje por exemplo, continuamos a ver tirinhas em muitos jornais, bem como em revistas e sites da internet. Mas comumente elas aparecem em revistas específicas, como as que temos no Brasil, os famosos “gibis”, que por sinal foi o primeiro nome das HQs do Brasil.
Os quadrinhos possuem personagens reais ou não, que desempenham um determinado papel na sociedade. Os recursos imagéticos das HQs se expressam no diálogo entre as personagens representadas nos balões. As primeiras HQs tinham como característica a ficção, bem como um caráter cômico. Mas a partir dos anos 20, de acordo com Viana, os quadrinhos passam a ter um lado mais realista, tendo em vista que anteriormente a combinação de comicidade, simplicidade de temas familiares e infantis eram traços marcantes.
Mas afinal de contas, o que os quadrinhos nos mostram?
Os quadrinhos têm a função de nos transmitir mensagens. Elas expressam através dos diálogos, valores, idéias, concepções, etc. A partir da comunicação, das indagações das personagens, conseguiram compreender o que eles nos revelam. E com uma leitura bastante atenta e apurada, percebemos que esses mesmos personagens revelam as subjetividades do desenhista. A reflexão pode transmitir a nós, através das HQs, momentos históricos que são, na vida real, vividos por um povo ou pela humanidade inteira. A título de exemplo, com a hegemonia do neoliberalismo, uma gama de personagens foram criadas por muitos desenhistas e roteiristas. Personagens como o Homem-Aranha, O Homem de Ferro, Capitão América, Hulk e X-Men, a partir de seus papéis desempenhados nas histórias, conseguiram exprimir os valores e idéias, que por vezes tendenciosas, mas que remetiam a um dado momento da história, de um contexto de um grupo que os criou, tomando como base, as suas opiniões acerca do que os rodeavam.
Pegando o gancho de um personagem que está em cartaz nos cinemas, “O Capitão América”, por exemplo, período em que no mundo eclodia a Segunda Grande Guerra (1939-1945), este, criado pela Marvel Comics, fora recrutado para defender sua pátria nos quadrinhos, funcionando como uma arma de caráter ideológico, no qual, segundo estudos, ele lutou na primeira revista contra o próprio Hitler. Com isso, mas sem deixar de lado uma análise bem mais aprofundada, percebemos como esse veículo imagético leva consigo uma carga de valores de grupos que se opuseram na época. E os exemplos não faltam...
Por fim, podemos considerar que as HQs são uma ferramenta bastante rica, pois nos remete a fatos, que mesmo sendo fictícios ou não, nos ajudam a refletir acerca do nosso mundo, e também elas nos possibilitam entender as imagens implícitas que de maneira fantasiosa nos iludem, mas com uma atenção maior nos ajuda a compreender as coisas como realmente são.

Gláucia Santos de Maria

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Nem tudo o que a gente vê é!!!


Os sentidos: representações da memória social

O mundo em que vivemos, está repleto de cheiros, sons, imagens, gostos e atritos. Mas, o que percebemos em grande parte em nosso cotidiano, é o visual, deixando de lado os outros sentidos que movem o homem. Isso não quer dizer que o individuo humano não utilize seus outros sentidos no dia-a-dia. Porém, as maneiras que este desenvolve as suas sensibilidades não são, de certa maneira, apurado, ao que reflete o espaço no qual o seu ser está inserido. Então, são os sentidos que movem nossas práticas habituais, em todos os âmbitos. O exemplo lógico para destacar essa temática é o amor. É diante desta característica humana, que os nossos cinco sentidos se tornam visíveis, o visual nos mostra a pessoa amada; a audição emite a voz que nos acalma e sensibiliza; o olfato permite sentir o cheiro da pessoa que adentrou o seu intimo; o paladar experimenta o gosto da outra boca que pertence ao amado; por ultimo destaco o tato, contato necessário entre corpos que emitem o prazer carnal ou sensível. O exemplo citado coloca os sentidos humanos em uma posição, no qual estes se tornam mais aguçados. O que não ocorre diante de algumas coisas inanimadas, que fazem parte de nossa vida.
Ao destacar os cincos sentidos, como razões que cercam o nosso viver, deslocando das funções que estes são enfatizados em nossa existência. Como algo apenas fisiológico, a que todo ser vivo possui. Assim os seres não vivos não possuiriam os seus cheiros? É a partir desta interrogação, que me apegarei às considerações do historiador brasileiro Durval Muniz Albuquerque Jr, em sua obra “O espaço em cinco sentidos”. No qual, o enredo do seu texto é referente, as maneiras de sentir determinados efeitos de uma forma natural, na qual a visão não seja o único aspecto que possibilite o homem de ver o que está a sua volta.
 As cidades possuem seus cheiros, que nos remetem lembrar locais agradáveis ou até mesmo de locais que não nos agradam. Os sentidos nos trazem memórias boas e ruins. Segundo Albuquerque Jr, as paisagens podem ser construídas a partir da audição, do paladar, do tato e do olfato. A visão seria apenas complementar, diante do que estava à frente do individuo que contempla.
A utilização apenas da visão, sem um olhar critico, é o mesmo que um cego, que possui uma boa visão. Pois, aquele que não enxerga, supriu a sua deficiência apurando os outros sentidos, tornando-o capaz de uma melhor sensibilidade com o mundo. Os sentidos são fundamentais em nossa vida e cada representação de um aspecto, pode ser vista em qualquer lugar, tudo possui uma característica em nossa memória. Então cada setor da área urbana ou rural, tem o seu cheiro, a lembrança de um gosto ou de um toque, seguido de um som, que nos leva a uma visão de uma bela paisagem, nunca vista, pelos olhos. Já que estes, distraídos, não vêem a beleza das coisas mais simples e belas que o mundo nos proporciona. Como diria Albuquerque Jr, a visualização de outras dimensões e aspectos da realidade, entorpece os nossos outros sentidos. Colocando estes de lado e valorizando apenas um, dando origem a uma possível alienação visual. No qual só o exterior das coisas é admirado, enquanto o interior raramente é apreciado.

Ronyone de Araújo Jeronimo

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

" A felicidade consiste em fazer o bem". (Aristóteles)

Quando o assunto é amor

Se pararmos para pensar um pouco, já perceberam que o amor é um tema bastante discutido? O ser humano busca a felicidade a todo o momento, seja nas suas relações pessoais ou sociais. A temática amor é palco de discussões científicas, é mencionada por muitos poetas, encontrado em muitas músicas, utilizado como razões de suicídios (morrer por amor), assassinatos (matei por amor) etc. O amor é natural do homem ou se constrói culturalmente? Esse tal amor é complicado...
Os filósofos são um bom exemplo de questionadores quando o assunto é amor. Eles se perguntam: como definir o amor? Como compreendê-lo? O amor é necessário? É útil? Percebem? Desde os primórdios esse sentimento é tão debatido.
Na mitologia grega, por exemplo, tomamos como ponto de partida a obra “O banquete” do poeta Hesíodo. Nessa obra, um dos personagens, o autor satírico Aristófanes, narra o mito de Eros*, que de acordo com ele, este é o maior amigo do homem.
Aristófanes discursa que no início dos tempos, os seres humanos eram completos, entretanto em virtude de uma punição divina, fomos separados, divididos. Existiam homens, mulheres e os seres chamados andróginos. Os homens possuíam quatro mãos, quatro pés e dois órgãos sexuais masculinos. As mulheres por sua vez da mesma forma, mas com dois sexos femininos. E por últimos, os andrógenos, possuíam um sexo de cada. O mito afirma que todos esses seres eram muito velozes e vigorosos. E por isso quiseram atacar o mundo dos deuses: e o maior destes, Zeus, os cortou pela metade. E devido a essa separação, sentimo-nos incompletos, e procuramos sempre a nossa metade perdida. E de acordo com Aristófanes, o amor nos impulsiona a buscar o outro. E esse desejo de nos sentirmos amados se dá pela vontade de nos tornarmos completos.
De acordo com Sócrates, nessa mesma obra, o amor é um processo de evolução. Como assim? Segundo ele, nós humanos começamos primeiramente a amar a beleza física dos corpos, entretanto passamos a perceber que existe uma beleza bem mais profunda no outro, é a beleza da alma. O amor das almas é muito mais nobre, tendo em vista que está direcionado a algo considerado eterno. Esse amor leva o ser humano a cuidar do outro, zelar pelo outro, levando sempre ao caminho do bem. O ápice do amor em Sócrates é aquele que o indivíduo se dedica na educação do outro. E essa forma de amor, é o pedagógico, que é o mais sublime de todos na visão de Platão.
Na primeira metade do século XVII encontramos o amor romântico, exaltado por poetas, pintores e filósofos no movimento conhecido como Romantismo. Um fato interessante que chama a atenção é que todas as histórias contadas por escritores românticos acabavam em tragédia. Eram amores impossíveis, utópicos como o clássico Romeu e Julieta de Shakespeare dentre outros.
No caso da psicologia, o amor foi tratado de diversas maneiras. De acordo com a psicóloga norte-americana Dorothy Tennov, em uma pesquisa por ela realizada com muitos pacientes, chegou à conclusão de que existe um estado que corresponde ao amor romântico que ela denominou limerance; e trata-se de algo universal, que independe de cultura.
Esse estado de limerance é um estado emocional que uma pessoa sente um forte desejo romântico por outra, mas que este, segundo a psicóloga não é amor, pois este é revelado pela preocupação com o outro. E essa limerance não tem isso. Seus sintomas são: medo de ser rejeitado, fascinação pelo objeto desejado, palpitações, ansiedade, excitação etc.
Como podemos ver, o amor é um assunto que permeia a cabeça de muitos pensadores, artistas, cientistas... Todos em seu ramo buscam explicar esse tal amor que consome a vida de nós humanos. E você, saberia explicar o amor? Nascemos com ele, ou é apenas convenção social? Você ama? É amado? Esse tal amor é tão complicado...
*Na mitologia grega , era o deus primordial do amor sexual e da beleza.

Gláucia Santos de Maria

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Quando chega a hora, não tem jeito...

A morte como fator constitutivo do nosso saber intelectual

A vida humana é fundada de incertezas, na qual os indivíduos tendem a optar por determinadas circunstâncias para atingir a sua satisfação. A partir do prazer surge a convicção, que o ser humano tanto necessita para estar seguro do que vai fazer. A idéia de algo duvidoso, incerto, causa temor no homem, pois o desconhecido nos assusta. Uma das maiores certezas da humanidade é a morte, que por incrível que pareça é o que impõem mais receio no homem, pois ela trás consigo a incerteza que tanto assusta o individuo humano. Este nasce e em um curto espaço de tempo se defronta com este mal, que assola a existência humana. A partir de um primeiro contato com esta realidade findoura, nos coloca diante de nossa reflexão interior. E é por esse motivo que o homem tende a idealizar algo sobre a morte, para a sua consciência se sentir melhor diante de algo tão certo como é o fim de nossa existência.
A partir deste ponto me apego às considerações do filósofo Alemão Artur Schopenhauer. Quando este sintetiza suas idéias e compara os seres humanos com as outras espécies animais diante da morte. Os animais vivem no presente e por isso, não possuem noção de tempo futuro e passado. Logo estes seres não sabem o que é realmente a morte. O contato destes com o mal que extingui nossa vida se dá somente no momento em que esta se apresenta, ou seja, quando estes já tem falecido. Para Schopenhauer o animal vive um prolongado presente, sem ter idéia do que está a sua volta, sem reflexão, eles vivem de si e de si sempre sucumbem inteiramente, sem propriamente saber que está fundado a morrer. Diferente do homem que possui consciência e noção de tempo. Assim, a cada hora que passa, o individuo humano sabe que mais próximo do encontro da morte ele está. Por isso, Schopenhauer chegaria à conclusão que a existência da filosofia e das religiões surgiria apenas pela compressão do homem de sua finitude. O saber intelectual surgiria para suprir nossas dúvidas em circunstância da morte.
As religiões e as crenças surgiram no intuito de suprimir a nossa incerteza sobre a morte. Todas estas, estão fundadas na perspectiva, da pós-vida. Colocando a existência na terra como algo passageiro para uma vida eterna de felicidade, e em outros casos de dor ou até mesmo multiplicativo, se considerarmos que algumas religiões possuem em sua corrente doutrinária a reencarnação. Os princípios religiosos amenizam o temor humano, e a sombra negra que impera na morte. É verdade que o fim de nossa existência nos traz dúvidas, mas para alguns a morte é um alivio (uma prerrogativa suicida) e para outros a glória. Esta última pode ser buscada pelos heróis, pegando como exemplo a Ilíada de Homero. O herói Aquiles buscava incessantemente esta glória. Para ser reconhecido por toda eternidade. O apogeu para o grego era ser lembrado pelos seus feitos heróicos: morrer jovem no campo de batalha era o ideal. A busca para continuar vivo no combate, era importante. Para se comprovar a austeridade daquele o qual os seus feitos seriam reverenciados. Por isso Aquiles decidiu combater na guerra de Tróia, pois o seu objetivo estava traçado naquele confronto. A sua morte como grande guerreiro valia mais que uma vida duradoura, e um final de existência extremamente apagado. O materialismo histórico surgido na corrente marxista dá outro sentido a morte, colocando esta como o fim de tudo, sem nenhuma passagem para outro plano, divergindo do pensamento religioso. Diante desta idéia materialista, me coloco a pensar: qual seria a importância de nós seres vivos neste mundo? Esta pergunta nos fazemos desde o início da Humanidade. A morte nos alimenta intelectualmente. E esta razão na qual o homem viva a sua existência, na busca de suprimir a sua incerteza de algo que ele não pode fugir. A falência de sua matéria.


Ronyone de Araújo Jeronimo

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Santa X Outra

A santa e a outra

Refletia sobre esse seguinte trecho da música “Ponto de interrogação” de Gonzaguinha:
“Quem te diz que não é só vício
Da obrigação
Pois com a outra você faz de tudo
Lembrando daquela santa
“Que é dona do teu coração”.
É interessante como são formadas as imagens sociais dos indivíduos, e cá para nós mulheres, quantos estigmas nos colocam... Observemos, pois, somente dois, para que não nos alonguemos tanto: a outra e a santa.
Com a outra, o homem “faz o que quer”, mas sem generalizar, pois cada caso é um caso; ela é aquela mulher perigosa, que está disposta a levar qualquer homem aos ares. Em contraposição, existe aquela, dona do coração do homem (ou não), a fiel, a santa. Muitas vezes fora vista como mera procriadora.
Essa distinção está relacionada com a velha dualidade que cerca o mundo, como a que Leach coloca quando trata do mito: masculino/feminino, bem/mal etc. Do mesmo modo percebemos essa distinção entre o sexo para o prazer e para tão somente procriar, perpetuar a espécie.
A outra é aquele tipo de mulher que encontramos na Bíblia, que leva o homem ao pecado original: é Eva, tentadora como a serpente. A santa é vista como aquele tipo de mulher bondosa, fiel, a virgem, a Maria da escritura sagrada. A outra abre a porta do inferno, a santa a dos céus.
Se retomarmos a história do Brasil - colônia podemos verificar que a Igreja Católica combatia o concubinato, defendendo um modelo de família patriarcal. O homem, branco, tinha poderes supremos sobre os membros da família e principalmente de sua esposa. Era consentido que o desejo se destinasse apenas para a prostituta e as de classes pobres como brancas, negras, mestiças e índias. E, diga-se de passagem, eram as preferidas dos portugueses e espanhóis. A mulher, esposa branca, mesmo pertencendo a uma classe superior, ocupava um lugar na sociedade como um ser anti-sexual, papel que lhe cabia somente de procriar, cuidar dos filhos e dos empregados.
Eis um ditado muito citado na época, e que encontramos em “Casa Grande & Senzala” de Gilberto Freyre que resume a situação das mulheres no Império: “Branca para casar, mulata para foder e negra para trabalhar”. E nos dias de hoje, como isso ocorre? Do mesmo jeito? São de fato, contextos diferentes, mas que levam a reflexão sobre esse aspecto: talvez, não é certo, mas às vezes só muda a nomenclatura.
Marilena Chauí fala sobre o moralismo de resistência, que defende o tradicionalismo quando a questão se trata da virgindade, associada à reprodução, pelo papel da santa. Os membros familiares falam sobre a vigilância que se deve ter da moça de boa família, casta e dentro dos bons costumes. Ela deve se preservar até o dia do casamento. As que não primam por essa “ideologia dos bons costumes”, por vezes são taxadas de “galinha”, “vaca”, “piranha”, dentre outros insultos que talvez não sejam necessários.
As opiniões se divergem quanto ao que permeia nas mentes de homens e mulheres. De acordo com alguns entrevistados por Maria Amélia A. Goldberg, em seu livro “Educação Sexual: uma proposta, um desafio (1988)”, muitos não viam tanta importância quanto à virgindade, tanto homens quanto mulheres, mas outros um pouco mais conservadores eram seguidores da moda à antiga.
Vemos que do lado masculino, em nossa sociedade, esses estigmas não são colocados, ninguém chama um homem de “santo” ou “outro”.  Por que será então hein? Deixo essa pergunta por enquanto sem resposta, tendo em vista que são inúmeras, mas que podem ser respondidas, ou não. Mas o que você acha de dividir o universo feminino em dois grupos: as santas para o compromisso, e as outras para o passatempo? Qual a sua opinião acerca disso? Qual o seu posicionamento?

Gláucia Santos de Maria

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Augusto e Enéias...

A Eneida, a saga de um império

Como se surge um império? Não é tão fácil responder sobre uma pergunta dessa magnitude, e sim citar de que forma isso poderia ter acontecido. Um império pode surgir a partir de uma junção de territórios e de povos de uma cultura muito parecida, apesar de que, nem sempre há consenso em um vasto território, sempre há divergências culturais. O jogo político é que determina a concessão de um império. O nascimento em si, vai depender de vários aspectos preponderantes. No caso do império romano, há muitas histórias, sobre a sua origem. Uma delas é a ligação de Roma com Tróia, reino sucumbido pelos gregos, na famosa guerra de Tróia, descrita por Homero em sua epopéia conhecida como a Ilíada. Ao término dessa história, nasce o relato de um sobrevivente da cidade de Príamo, um herói que fica encarregado de reerguer os muros de uma nova Tróia em outro território. Os deuses determinam que este local seja distante, e o território italiano é o escolhido para ser restaurado o reino que decaíra, dessa forma nasceria um império, onde Enéias prometera restaurar a força dardanida e restituir um poder de um povo.
            A queda dos muros de Príamo dera início a uma grande saga, onde o herói Enéias e os refugiados da cidade de Tróia saíram pelo mundo em busca da terra prometida pelos deuses. Uma história repleta de mitologia e de atos de heroísmos constituía a obra de Virgilio, poeta Romano que vivera em um período de grande ascensão cultural. No qual as artes e a literatura estavam em alta, pois possuíam o apoio do Imperador Augusto, que governara o império (43 A.C.-19 D.C.). A paz Octaviana, e a proteção admirável de Mecenas aos artistas e letrados, fora o marco para a difusão de obras como a épica Eneida, que reconstruía um passado glorioso para um império que em seu presente, só possuía glórias. A escrita da Eneida, por parte de Virgilio, cria uma ascendência do povo romano, distanciando estes da cultura helênica, e criando o seu próprio modelo cultural, a cultura latina. Uma afirmação buscada naquele momento, no qual Roma voltava a ser império, a grande epopéia de Virgilio, que ajudara a legitimar o poder de Augusto, que se dizia herdeiro de Enéias, o primeiro dos seus iguais, para não atingir a população romana que em si possuía grande simpatia pelo antigo regime, o republicano. Este adotou esta alcunha e a de príncipe do senado, para não afirmar que propriamente era um imperador, que, no entanto ditava sozinho a sua lei. O patrocínio para escrever a saga de Enéias partira do próprio imperador.
            A Eneida fora concluída no ano 19 do século I. A semelhança da obra de Virgilio com a Ilíada e Odisséia, de Homero, leva-nos a concluir que Virgilio tivera lido a história épica homérica, para construir a história épica latina. Pois as obras possuem um alto índice de analogias, que podemos reparar facilmente lendo as obras. A Eneida é constituída por 12 livros, onde os seis primeiros livros são muito parecidos com A Odisséia. Odisseu e Enéias até parecem à mesma pessoa. Odisseu buscava voltar para Ítaca, local de onde vivia e era senhor. Enquanto Enéias buscava reconstruir sua nova moradia, na terra prometida pelos Deuses, para levantar novamente os muros troianos. Os dois passam por grandes aventuras e angústias, que em alguns momentos levam os dois heróis ao desespero. As duas obras se remetem aos seus nomes: A Odisséia referente ao herói Odisseu, e a Eneida a Enéias. O ponto de partida das duas histórias nasce com o fim da Ilíada. De uma forma ou de outra a cultura helênica continuou presente dentro da cultura latina. É claro que a escrita de Virgilio era diferente da escrita homérica. Virgilio conseguiu expor na Eneida de uma forma poética os motivos pelo quais os Romanos mereciam ser os donos do mundo.  O início da Eneida trás um fragmento que faz refletir sobre isso. “Canto os combates e o herói que, por primeiro, fugindo do destino, veio das plagas de Tróia para a Itália e para as praias de Lavínio. Longo tempo foi o joguete, sobre a terra e sobre o mar, do poder dos deuses superiores, por causa da ira da cruel Juno; durante muito tempo, também, sofreu os males da guerra, antes de fundar uma cidade e de transportar seus deuses para o Lácio: daí surgiu a raça latina e os pais albanos e as muralhas da soberba Roma.” ( pag.11).
Ronyone de Araújo Jeronimo

terça-feira, 12 de julho de 2011

Cada um na sua tribo...

Zadoque* : renascendo sem trocar de roupa

"A figura tradicional do crente vestindo um terno preto, segurando uma Bíblia e seguido de sua mulher trajando um vestido comprido e cabelo longo, foi substituída pelos fiéis usando roupas descontraídas, coloridas e cabelos da moda" ( Márcia Regina da Costa).
É o que verificamos em muitas denominações protestantes que vem tomando forma e o gosto dos devotos que primam por uma maior liberdade de manter seu estilo, mas sem deixar de lado seus ideais cristãos.
Sobre uma dessas igrejas fundadas no âmbito evangélico, queria dar destaque a Zadoque, grupo estudado pela professora  de Antropologia Márcia Regina da Costa, mas analisando tão somente seus ideais e características. Tendo em vista que Costa realizou um estudo mais aprofundado quanto a questão da origem desse tipo de religião, de modo que ela argumenta sobre tribos urbanas, bem como os aspectos midiáticos que esse tipo de instituição procura potencializar a circulação dos seus preceitos através dos veículos de informação.
A Zadoque foi fundada em 1999,  na Barra Funda e surgiu devido a necessidade de evangelizar jovens do subúrbio, da periferia de São Paulo, tendo em vista que a igreja da qual vieram, a Renascer em Cristo, tinha como alvo estabelecido, os jovens da classe média e alta. E um dos membros dessa denominação sentindo-se discriminado,devido seu estilo, de acordo com Batista (pastor da Zadoque e líder de uma banda heavy metal- Anti-Demon) resolveu criar uma igreja que pudesse resgatar a juventude marginalizada que por vezes é vista como violenta, consumidora de drogas e formadora de gangues.
A fachada do templo da Zadoque é colorida com tons fortes, que mais parecem com os os cenários produzidos para espetáculos de shows de rock e rap. Seu interior é pintado de preto, com luzes especiais que iluminam o ambiente. Encontramos também, no fundo do palco a bandeira do Brasil e também dizeres que se expressam da seguinte maneira: "Minha Pátria para Cristo".
Na entrada do templo podemos encontrar diversos jovens que aguardam o início do espetáculo/culto/pregação, como bem coloca a professora. São punks, carecas (inspirados nos skinheads ingleses), rappers e outros. Muitos destes não fazem parte da igreja, mas frequentam principalmente os shows (gratuitos) que são transmitidos pelas bandas, e durante estes são recolhidos alimentos não-perecíveis para serem doados. A única exigência dos membros da Zadoque é que as normas de convivência entre os grupos sejam respeitadas.
A iniciativa dos membros da Zadoque é interessante, pois consegue unir de maneira pacífica grupos de jovens, ou tribos diferentes, que por vezes quando se cruzam nos subúrbios, são personagens que encenam ações violentas entre si. E nesse espaço, esses diversos grupos conseguem viver sem conflitos. Por isso que o lema da Zadoque é que todos podem curtir seu estilo, desde que tenham Jesus no coração. Batista, pastor da igreja, por exemplo, em seus shows e pregações, veste-se de preto, usa botas longas e caracterizado com cabelos compridos, já que pertence a uma banda heavy metal.
As músicas que são tocadas, misturam o som de rap, rock e heavy metal com letras que exaltam Cristo. Durante os shows, dá-se início as pregações, os testemunhos. De forma que se percebe que são contrários ao mal, a corrupção do país; enfatizam a família, a moral e defendem a Pátria, o Brasil. Muitos jovens usam piercings, cabelos de vários estilos, tatuagens, pois nada disso impede de pertencer a uma igreja evangélica.
A Zadoque se expandiu no interior de São Paulo, segundo Márcia Regina, na época de sua pesquisa, e encontrou muitos adeptos em outras cidades e capitais do Brasil. No ano de 2002 foi fundada a Zadoque no México. Tentaram da mesma maneira em Portugal, mas não obtiveram êxito.
É interessante notar, como a professora aborda um tema tão importante, que é tão pouco divulgado. Segundo ela, esses jovens têm a possibilidade de serem aceitos e reconhecidos pela sociedade, de maneira que não seja construída uma imagem tão negativa, principalmente os que possuem o estilo do tipo dos carecas, muito discriminados socialmente. Esses jovens têm a oportunidade de continuarem utilizando o que "curtem" sem seguirem uma "padronização" estabelecida, e mais que isso: pregam seus preceitos sem trocar de roupa!
O papel do pesquisador nesse aspecto é de dar voz a grupos que carecem de visibilidade social, construindo a partir de seus estudos, imagens significativas que são omitidas pelo preconceito de quem de fato não conhece a fundo determinados grupos sociais. Através da pesquisa de Costa, é possível conhecer e até nos identificarmos com as "tribos", a partir do papel que esses grupos desempenham na sociedade. Inseridos nesse espaço, os jovens membros da Zadoque procuram se destacar, cada um com seu estilo e ao mesmo tempo expressando seus ideais.
* Origem Hebraica: justo, reto; retidão.
**  Márcia Regina da Costa é professora do Departamento de Antropologia da PUC-SP e pesquisadora do Projeto de Cooperação Internacional Capes/ Grices Tribus Urbanas: Produções Artísticas e Identidades.
Gláucia Santos de Maria