O tema homossexualidade, sem dúvida, é uma questão que pressupõe discussões em diversos âmbitos: religioso, político, familiar, social, enfim, é um assunto que dá muito pano para manga. Há uma verdadeira obsessão por parte dos mais conservadores- se assim vocês me permitam- em saber o que os homossexuais fazem na cama ou por que elas não largam essa vida, ou ainda não assumem publicamente que são. Bom, posso até estar tendo uma atitude muito generalizadora ao fazer tais afirmações, então vamos por partes.
A sociedade
como um todo, ou melhor, dizendo, a maioria dos grupos sociais existentes
estabelecem modelos de comportamento. É sabido que o padrão heterossexual é
tido como o “fundamental” comportamento para a procriação, aceito moralmente
pelas diversas famílias de “respeito”, e de suma importância para “manter” a
ordem social. Para quem se afirma heterossexual, pode até concordar ou não com
tais ditames, mas diante de tal posição é bem mais fácil conciliar sua vida com
tudo isso. Mas quem se sente- não sei se seria esse um termo apropriado-
homossexual, há uma verdadeira confusão diante de tais imposições. É claro que
muitos homossexuais já têm essa questão mais resolvida. E os demais?
É incrível
como quando “os pais, as tias, os amigos, os colegas da escola, os professores
percebem a orientação dos desejos sexuais e afetivos de um jovem ou de uma
jovem, organiza-se em torno deles uma verdadeira campanha” (BERNADET, 2008).
Nem sempre a pessoa tem formado isso na cabeça, mas ao se comportar de
determinadas formas, esse “desviante” já é apontado como anormal,
comprometedor, uma criatura que merece tratamento, seja psicológico ou de
caráter religioso. Eis que esse clima de insegurança paira o imaginário social
em torno do que o sujeito pode causar.
É perceptível
que o preconceito gerado por essas pessoas gera uma perfeita conflitualidade
dentro da mente daquele que não se enquadra dentro do modelo proposto pelos
ditos “normais”. Pior ainda quando querem, a todo custo, que afirmem que são
gays, e que se decida a saírem definitivamente do armário. Digo sair do armário
no modo pejorativo do termo, não no movimento gay ou bi que tem como ideologia
o enfrentamento sobre os direitos dessas pessoas. Mas é importante pensar que
uma pessoa homossexual não é “obrigada” a estampar nos outdoors da cidade uma identidade gay. Essa tal política do
reconhecimento exige que sejam reconhecidos publicamente de modo opressivo para
aqueles que querem tratar de seu corpo, de suas relações como dimensões pessoais
do eu (VITA, 2002).
Com esse
argumento anterior não quero afirmar que não tenha de se dar visibilidade aos
movimentos, as manifestações em torno da questão homossexual. Longe disso.
Reforço minha discussão desse modo:
Em que medida alguns homossexuais (os militantes de
movimentos gays, por exemplo) se empenharão ativamente na afirmação de uma
identidade gay, ao passo que outros (mesmo tendo “saído do armário”) preferirão
não fazê-lo, essas são escolhas que ficam por conta da liberdade de associação
e da responsabilidade que cada um deve ter pelos próprios objetivos e fins. (VITA,
2002)
A
minha discussão gira em torno dessa questão da escolha, do respeito à liberdade
de se afirmar ou não como homossexual. Cada um, na sua posição como pessoa,
como indivíduo tem essa liberdade, mesmo que seja passível de questionamento.
Isso, certamente, terá. Mas ao invés de se estabelecer tal campanha: assuma o
que você é, o que você faz, não seria melhor pensarmos que essa pessoa não deve
ser pensada em termos (perdoe-me a expressão) do que ela faz ou deixa de fazer
na cama com seus parceiros? Um homossexual e demais denominações que usamos
para qualificarmos e separarmos os grupos, são antes de tudo pessoas!
Indivíduos que tem vivências, trabalhos, profissões, famílias, projetos,
sonhos... Somos sim diferentes, mas ser diferente não é sinônimo de tratar com
desigualdade. E quando reconhecidos como tal, é preciso mesmo obrigar a “sair
do armário”? Quem precisa sair do armário? Seria melhor esconder nossos
preconceitos nele? Resolveria também? Pense.