Em
15 de Novembro de 1889 era proclamada a República no Brasil, e com isso era
destituído do poder o Imperador D. Pedro II. A realeza deixaria o lugar aos
plebeus, que daquele momento em diante seriam os responsáveis pelo destino da
Nação. O povo observava “bestializado”
os acontecimentos que acarretaram o fim do Império. Era difícil de imaginar que
um dia antes o Imperador D. Pedro II, governava com amplos poderes o Brasil.
Nada como um dia após o outro para vermos transformações imediatas. A República
construiria um novo Brasil imbuído sobre ideal progressista e reformador, que
tiraria o país da “inércia” que vivia. Nosso primeiro Presidente seria o
militar Deodoro da Fonseca, e nas mãos desse primeiro plebeu a governar o
Brasil, mudanças deveriam ser efetuadas para o desenvolvimento da Nação.
Essas mudanças afetariam o povo, que
constituía a Nação Brasileira. No Império o povo não possuía participação, já
que o Imperador era o senhor do destino do país. Já no regime Republicano o
povo ganharia participação nas decisões da sua Nação, e deixava o anonimato
para se tornar cidadão. No império, ser cidadão segundo o pesquisador José
Murilo de Carvalho, era necessário comprovar renda para exercer a cidadania,
assim, ser cidadão no período imperial no Brasil, era privilégio de poucas
pessoas. Na República isso iria mudar, “todos
teriam direitos iguais”, (ricos e pobres teriam direito ao voto e a serem
votados), exceto os menores de 21 anos, as mulheres, os analfabetos, militares
e clérigos. O que ficou em parênteses explica bem o sentido real expresso pelo
regime Republicano no Brasil, em seus primeiros anos. A comprovação de renda
não era mais necessária para ser cidadão, porém, esse deveria está dentro dos pré-requisitos
que o regime republicano queria.
A República no Brasil igualmente ao
Império também seria exclusiva. Dentro da obra de José Murilo de Carvalho “Os Bestializados: O Rio de Janeiro e a
República que não foi.” (1987) Podemos
observar como essa exclusão era perceptível dentro da sociedade brasileira. O
Rio de Janeiro seria uma prova da manutenção do poder dessa prática. Um ano
após a proclamação da República no Brasil, surge a primeira oportunidade do
cidadão republicano exercer sua participação dentro dos interesses políticos da
nação. Em uma cidade onde o número de eleitores em potencial chegavam a mais de
500 mil, é verdade que diante dos pré-requisitos impostos pelo Regime
Republicano no Brasil, esse número se resumiria há um pouco mais de 100 mil
eleitores. Porém, o número de cidadãos que foram as urnas não passou de 12 mil
pessoas.
O número baixo de pessoas que foram
as urnas alertou o novo Regime de uma apatia política advinda dos moradores da
Capital brasileira que acabava englobando toda sociedade no geral. Já que no
decorrer dos anos essa apatia nas eleições não mudava, e uma explicação que
pode ser retirada desses acontecimentos. É que o povo sabia que igualmente como
no período imperial, a República no Brasil não daria espaço para os cidadãos
menos abastados. Os cidadãos da elite Brasileira que já se faziam ser ouvidos
no Regime Imperial, na República esses seriam os detentores dos destinos do
Brasil.
E para manter essa autonomia, dentro do novo
sistema, nos dias das eleições, os candidatos andavam com assassinos conhecidos
e capoeiras, isso provocava no eleitor um sentimento de medo, que mesmo que o
eleitor não se intimidasse com essas figuras que geravam temor para exercer seu
voto, ainda haveria as fraudes eleitorais. O povo então quis se manter distante
da política. Segundo o pesquisador José Murilo de Carvalho. “O povo do Rio, quando participava politicamente, o fazia fora dos
canais oficiais, através de greves políticas, de arruaças, de quebra-quebras”.
(Carvalho, 1987, p.90) O povo da capital do Brasil era político, a elite que
tinha o poder é que não permitia o povo de exercer a sua cidadania.
A
República no Brasil era algo novo, era compreensível esse primeiro momento de
afastamento do povo. Se no Rio de Janeiro era dessa maneira, é imaginável como
não seria nas outras regiões do País. A novidade da República assustava algumas
pessoas. Esse foi o caso da Revolta de Canudos, já que a figura do imperador
para as pessoas humildes do povoado de Canudos, no sertão da Bahia, era
sagrada, igualmente a figura de Jesus Cristo. Algumas medidas que surgiram
junto com a República, além de derrubar a figura sagrada para esse povo, também
afetariam tradicionalmente os costumes da população que formou o povoado de
Canudos. Revoltado contra o afastamento da Igreja Católica do Estado, e com sua
própria miséria, surgiria o povoado de Canudos que logo ganhou muitos adeptos,
sobre a liderança de Antônio Conselheiro, um Messias da Monarquia, para os
republicanos.
Esse
povoado entre 1893 a 1897 assustou as autoridades Republicanas do Brasil.
Suprimida por uma grande investida militar, após alguns fracassos a República
venceu os conspiradores da Monarquia. O povo se mostrava contra a República,
por essa agir autoritariamente nas suas tradições e no seu cotidiano. Os
acontecimentos ocorridos no sertão da Bahia seriam evidenciados na capital
brasileira. A Revolta da Vacina no ano de 1904, não foi apenas uma revolta em
função da obrigatoriedade de todos serem vacinados. E sim pela forma
autoritária que o Governo agia com os cidadãos menos abastados, vacinando a
força, após deixar muitas dessas pessoas sem moradia, com a reforma urbana da
cidade do Rio de Janeiro. O que esperar da vacina obrigatória da República?
O
povo então se manifestava quando eram afetados drasticamente, os movimentos
surgiam quase revolucionariamente, assustando a Elite e a República. O fato de
se abster do voto não queria dizer que o povo, não era político, e sim que este
estava descontente com os rumos do novo regime. A democracia pregada pela
República não era tão acolhedora para o Povo. Deve ser por isso que o povo
acompanhou “bestializado” a Proclamação
da República. Imaginando que o novo regime não mudaria sua condição de vida
como era enfatizado pelos republicanos, não momentaneamente, como se dizia. As
transformações só surgiram com os movimentos sociais, que ao longo da história
vem moldando a República no Brasil.
Ronyone
de Araújo Jeronimo