terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Será realmente que o certo não seja o errado?

Aleatoriamente costumamos reproduzir nossos costumes a partir da sociedade na qual vivemos. Desde pequenos observamos como a sociedade se expressa à nossa volta, e depois tentamos ao longo do nosso desenvolvimento intelectual, agir da forma pela qual aprendemos, para nos inserirmos no padrão que é imposto. É claro que desde a infância a busca de nos introduzirmos em determinados grupos de amizades é algo muito valorizado. No entanto, a partir do momento que você faz parte de um determinado grupo, o individuo inserido em certo ciclo de amigos, tem que agir de forma semelhante aos membros que fazem parte deste grupo. A não adaptação logo exclui o membro que não possuir as características fundamentais que cada grupo tem. As opiniões de cada ser humano não são iguais, porém, um grupo formado de um ciclo de amizade, preza pela semelhança de opiniões, para não haver atritos. É ai que aparece o assunto a ser explorado: costumamos fazer determinadas coisas que para uns é certo, mas para outros é errado.
            Um bom exemplo para discutir o certo e o errado é a guerra, há vários tipos de pontos de vista. Por exemplo: o lado A defende a sua verdade e o B também defende a sua. Lados opostos, mas que emitem opiniões semelhantes. No entanto não admitem que prezem pelas mesmas qualidades, e sim buscam mostrar as diferenças que separam um do outro, para gerarem a inimizade que precisam para ocorrer um confronto de ideologia, que é necessário para execução de uma guerra. Pois, a defesa de interesses sempre está contida nesses conflitos, da mesma forma que dentro dos grupos de amizades existem hierarquias que nos fazem promover atos vexatórios a outros indivíduos, que só não faríamos, por não haver da parte do individuo agressor nenhum interesse, que só torna interessante por causa do apoio de um grupo de amigos. O interesse do grupo está em jogo para mostrar sua força diante de outros grupos. E isso está visível em todos os cantos que regem a sociedade: no trabalho, no esporte e principalmente na escola, onde a exclusão de ciclos de amizades por parte de um individuo pode ser acometido pelo bullying. Um assunto muito discutido na atualidade, mas ainda muito complexo. Por haver inúmeras formas de explicar esse assunto.
            Sobre a temática do certo e o errado, em entrevista ao Café História, o filósofo Eduardo Jardim quando perguntado sobre a obra “Eichman em Jerusalém” de Hannah Arendt, dirá a partir da sua percepção sobre a obra que:
“Ela levantou, então, uma hipótese a respeito da existência de um vínculo entre a incapacidade de pensar e cometer o mal. Indagou: haverá na própria atividade de pensar alguma coisa que previne de fazer o mal?”
Dessa citação destacamos que a sociedade tende a moldar o caráter do individuo que está inserido em sua formação, os pensamentos e atos são frutos do seu sistema. A visão de Hannah Arendt, dada pelo filósofo Eduardo Jardim, nos proporciona entender, que os soldados nazistas e também o povo alemão, não agiam de forma premeditada por eles, e sim pelo sistema que conclamava as diferenças e o preconceito, dando conta de uma raça superior. Dessa forma, sob influência de uma força alienadora produzida pelo Estado presidido por Hitler, fora possível criar uma massa insensata, controlada pelo Estado nazista. Algo que ocorre parecido nos grupos, pois o líder sempre tem autoridade sobre os outros, e estes tendem a obedecer ao líder, pois tomar o lugar de um líder é difícil, tendo em vista que o mesmo tem que possuir carisma para exercer sua liderança e controle sobre outros indivíduos.
            Continuando na mesma perspectiva nazista, e para interpretar de que forma atua o certo e o errado na sociedade em geral, destaco o filme “O Menino do Pijama Listrado” do diretor Mark Herman. O mesmo conta a história do menino Bruno que é filho de um comandante de um campo de concentração para judeus. Bruno tem seu pai como um herói, no entanto o mesmo em sua mentalidade de criança observa ao longo do filme que, talvez seu pai não seja realmente o herói que imaginava. A imposição da ideologia nazista não é absolvida pelo protagonista do filme, que se torna amigo de um menino judeu, que conheceu a partir de sua exploração do ambiente em que vivia. O seu laço de amizade vai além da sua sociedade, e a sua inocência é capaz de interpretar o que é realmente ser ético, enquanto seu pai comete atos que não são considerados certos, mas o regime no qual estava inserido achava necessário, e ele cometia o mal em razão de uma força superior, o Estado. A descoberta da realidade por parte de uma criança que fora exposta a uma ideologia, mas que colocada em uma balança do que era certo ou errado, para este individuo, preferiu se deter a igualdade que ele tinha com seu amigo judeu, que vivia perto, no entanto longe, por causa de uma imposição.
            Determinar o que é certo e o que é errado é uma tarefa difícil. Será que realmente existem essas duas formas de proceder? Fica em vista que é o padrão de uma determinada sociedade que demarca essas ocasionalidades, e divergem, pois o certo pode tomar caminhos inesperados, como os exemplos citados, e é o que vale também para o errado. A realidade dos grupos aumenta ainda mais as variedades de formatações que esses podem assumir. O certo pode ser o errado, e o errado pode ser o certo, o caminho quem escolhe é o ser humano, no entanto, este precisa questionar a sua sociedade para ter noção do que realmente significa essas simples palavras.


Ronyone de Araújo Jeronimo

Um comentário:

  1. Gostei a abordagem "relativista" à dualidade certo x errado, mas opino que as dificuldades encontradas pela maioria da humanidade em distinguir as duas definições esteja relacionada à ausência de uma substância difícil definir, qual chamarei aqui nesse pequeno texto de "amor".


    Se amássemos mais os seres que surgem diante de nós em situação axiomaticamente igual a nossa (os nossos semelhantes)...

    Se amássemos o planeta em que vivemos, por perceber que ele é inquestionávelmente indispensável à nossa existências...

    ...verificaríamos que tudo o que agir para, ainda que milimetricamente, destruir esses dois elementos age também para nossa destruição.

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