sexta-feira, 7 de setembro de 2012

As aventuras de Dante no Inferno, Purgatório e Paraíso



Dante considera os riscos e trabalhos da jornada. Virgílio, para esforçá-lo, explica-lhe o motivo do seu aparecimento: fora enviado por Beatriz, que o procurara no Limbo. Revigora-se Dante e prossegue na jornada com ânimo resoluto. (Canto II)

O trecho anterior é referente a uma das obras consideradas como clássicas da literatura mundial: Divina Comédia de Dante Alighieri, nascido em Florença, 1265. Nesse texto procuraremos discorrer alguns dos acontecimentos relativos à Divina Comédia, segundo a qual Dante fala através de alegorias, de modo que ele é ao mesmo tempo autor e personagem do livro em questão, e mostraremos assim algumas das aventuras vividas por ele na presente obra.
A carga literária contida em Divina Comédia se dá também em virtude da influência de Virgilio, autor da obra Eneida, considerado um dos pensadores mais importantes do ocidente. Nesse sentido, convido a todos a acompanharem as aventuras de Dante, que mesmo em vida, percorreu os caminhos do mundo extraterreno: Inferno, Purgatório e Paraíso.
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Era meia noite de março de 1300, Roma. Lá estava Dante, perdido na Selva Selvaggia, onde lhe fora concedido nessa ocasião uma jornada que marcaria sua vida: dois dias no Inferno, quatro no Purgatório e um no Paraíso. Partia assim o aventureiro, do mundo físico e concreto para o invisível.
Dante se esforça a subir uma colina e defronta-se com uma pantera, um leão e uma loba. A pantera não é dita explicitamente sua simbologia, mas o leão refere-se a moral e a loba tem dois sentidos: moralmente é a avareza e politicamente representa o poder temporal dos papas.
Para evitar esses perigos, aparece-lhe Virgilio, aquele que representa razão, sabedoria moral e a própria consciência do poeta. E este lhe propõe visitar os três reinos eternos, servido assim como um guia pelos círculos do Inferno, Purgatório e indo de encontro com Beatriz, a mulher amada: aquela que revela a sabedoria cristã iluminada pela graça, e que o conduzirá ao Paraíso. É por isso que o fragmento que abre a nossa discussão revela que Dante “prossegue na jornada com ânimo resoluto” tendo em vista que a amada Beatriz o procurara.
Dante chega à porta do Inferno e lá há uma inscrição que explica que lá estão as almas que, indiferentes do bem e do mal permaneceram neutras e, por isso foram excluídas do Céu e foram lançadas ao Inferno. E eis que em um barco Dante se encontrava: percorria assim a passagem do arrependimento dos pecados dos que lá se encontravam, mas não seria então uma reflexão das suas próprias culpas diante do sofrimento destes? Ele adormece.
O Inferno, assim como as outras duas dimensões (Purgatório e Paraíso) é dividido em círculos, nos quais se encontram as almas que, de acordo com suas falhas foram arrebatadas. Encontramos nesse lugar os desesperados, os atormentados, os gulosos, onde estes últimos são vigiados por um cão monstruoso Cerbélo que não para de latir, onde caí sempre uma chuva misturada com neve e que exala um odor insuportável. E Dante segue viagem.
Avareza, Orgulho, Inveja: incêndio nos peitos das almas pecadoras. O poeta assim encontra hereges, soberbos, e aqueles que tiraram suas próprias vidas: estes últimos acham-se transformados em troncos de árvore: ásperos e nodosos. E um suicida clama: “Fui homem, hoje o lenho, o que estás vendo!” (p.83).  Dor, gritos e gemidos dos seres arrebatados; apresentam-se também os “hipócritas, que andam revestidos de capas e capuzes de chumbo e exteriormente dourados”. (Canto XXIII, Inferno, p.129).
E assim, Dante vê diante dos seus olhos as penas daqueles que em vida cometeram atos, que considerados nocivos à vida humana, foram jogados ao martírio eterno devido suas faltas.
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Para o nosso hemisfério de repente.
 Também fugiu de medo, a que se avista;
Vácuo deixando aqui fez monte ingente.
 (Canto XXXIII, Inferno, p.178)

O monte ao que se encontrava Dante era o Purgatório. Chegam o poeta e Virgílio à barca dirigida por um anjo e muitas almas, percebem ao longe o sol no horizonte. Lá encontram as almas daqueles que se arrependeram dos seus pecados na hora da morte, no seu último suspiro, e vê alguns daqueles que findaram suas vidas do mundo terreno: são amigos, desconhecidos e personalidades de sua época. Veem-se soberbos, invejosos que têm suas pálpebras unidas a fio de ferro.  Em outro círculo Dante percebe os que cometeram a ira, e estes cantam hinos de misericórdia. Dante aproxima-se e vê os avarentos e, os que foram consumidos em vida pelos prazeres da carne, pela luxúria. Virgilio a essa altura, diz a Dante que não precisa dar-lhe mais conselhos, e parte.
No canto XXX aparece Beatriz, rodeada de anjos e Virgilio desaparece. Dante se confessa culpado de muitos de seus atos e renuncia, assim, muitas das suas práticas.
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Dante parte para o Paraíso ao encontrar:

Mais frescas na hástia mostram-se, mais belas,
Puro sai das águas consagradas,
Pronto a me alar às lúcidas estrelas.
 (Canto XXXII, Purgatório, p.355)

É a visão do Paraíso. E assim, Dante sobe ao primeiro céu acompanhado de Beatriz, e esta lhe tira suas dúvidas. Ele atravessa o céu da Lua, interroga alguns espíritos, e deseja saber sobre a imortalidade. Conhece através de Cacciaguida, seu progenitor, a sua genealogia familiar. Avista anjos e arcanjos. E diz:
Mas a vontade minha a ideias belas,
Qual roda, que motor pronto obedece,
Volvia o Amor, que move o Sol e estrelas.
(Canto XXXII, Paraíso, p.522)
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Após a visão desse imaginado Paraíso, no final do poema, é revelado a Dante que destino levará o seu desterro, sua finitude. Por que se chama Divina Comédia? Folhei a obra e visite os caminhos, segredos e obstáculos enfrentados por esse poeta que, ainda em vida, conseguiu atravessar e conhecer o mundo extraterreno.

Gláucia Santos de Maria

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