sábado, 5 de novembro de 2011

O que se esconde por trás de um filme?


É interessante como um filme, seja qual for, move determinados elementos que por vezes passam despercebidos por quem o assiste. Em razão disso, faremos um breve comentário acerca do vídeo “Mensagens Subliminares em O Show de Truman” (http://www.youtube.com/watch?v=RyUmN8t9qBU) à luz da abordagem feita por Adorno e Horckeimer.
O filme, de um modo geral, de acordo com a indústria cultural, é um bem simbólico produzido para o consumo dos indivíduos, baseada na razão técnica instrumental que resulta na padronização e produção em série de bens culturais. O processo de elaboração de um filme é previamente esquematizado por quem o produz. Nada que o consumidor classifica, não deixa de passar pelos esquemas da produção. Tudo que é passado para os indivíduos é antes planejado por seus produtores. Ou seja, nada está ali por acaso, e no caso de “O Show de Truman”, tudo fora planejado para que fosse desenvolvida a história. Adorno e Horckeimer, afirmam que “quanto maior a perfeição com que suas técnicas duplicam os objetos empíricos, mais fácil se torna hoje obter a ilusão de que o mundo exterior é o prolongamento sem ruptura do mundo que se descobre o filme” (p.104)
No vídeo, podemos perceber que a apresentação de diversos elementos é apresentada de acordo com as ideias ou concepções de que o próprio produtor tem em si. Um exemplo disso mostrado no vídeo é a inserção de elementos da maçonaria, que a todo o momento são mostrados no filme, como as duas colunas de Jackin e Boaz, que é o símbolo para acessar outras dimensões e fugir do mundo de Deus, segundo os produtores do vídeo, que atravessam o desenrolar da trama protagonizada por Jim Carrey que vive em um reality show sem ter noção disso.
Adorno e Horkheimer afirmam que desde a introdução do filme sonoro, a produção mecânica é tudo planejamento antecipado, que limita os indivíduos de pensarem, como uma forma de adestramento que atrofia a capacidade imaginativa, tendo em vista, que o filme, sendo ele esquematizado, coloca tudo em nossa disposição, de modo que não precisamos raciocinar nem estabelecer um pensamento crítico e questionador, pois tudo está posto, dado. O indivíduo se torna prisioneiro dos esquemas propositalmente dados, impossibilitando sua capacidade imaginativa, reflexiva, de forma que este tem sua mente anestesiada.
O filme de certo modo, serve para entreter, para refletir símbolos, e também para influenciar subliminarmente. Assim como Truman, que é manipulado antes de ter o conhecimento da verdade de como vive, somos também levados a sermos manipulados pela mídia, na medida em que apenas introjetamos o seu conteúdo sem nenhuma reflexão acerca do que está sendo posto. Dessa forma, percebemos que a indústria cultural impede a formação de indivíduos autônomos, capazes de decidir, questionar e julgar de forma consciente.

Gláucia Santos de Maria

terça-feira, 11 de outubro de 2011

O drama de uma tradição: a submissão das mulheres chinesas



         A tradição surge a partir de costumes comuns e casuais de todas as sociedades, no entanto como estas se tornam populares em determinada região ou espaço? E qual a razão de sua cultura tornar possível a adesão das camadas sociais de um povo? São questionamentos implícitos para costumes, que deflagram culturas ricas em costumes próprios de difícil compatibilidade com outros povos, a diferença será o marco da expansão em uma determinada região. Tomando como foco a China, observamos como a tradição será fundamental, para criar a sociedade chinesa dos dias atuais, a vivência milenar em regimes autocráticos faz com que os chineses não se rebelem contra o regime implantado, já que estes nunca possuíram um regime democrático ao longo de sua história. Assim, a submissão às tradições, é evocada pelo governo, para melhor controle das massas. Isso não quer dizer, que intelectuais e partes da massa chinesa concorde com o regime opressor, mas se omitem com medo das repressões que este propagar. Um fato a ser destacado nesse texto se relaciona ao passado da China, que trata das mulheres, no que diz respeito às práticas, nas quais as mulheres se acostumaram a praticar, em busca de padrões de beleza e obediência ao sistema familiar. Um costume que submetia a mulher a dores extremas e tornava esta, inútil para trabalhos domésticos e no campo, tendo em vista que essas eram fundamentais para a economia familiar. Mesmo assim, as famílias submeteram estas por um único motivo, tornar essas mais submissas, tirando toda capacidade física e tornando essas mulheres psicologicamente afetadas. A normalidade encarada por essas, tornava o enfaixe dos pés, uma dor referente à dor do parto, só que estas se enganavam, a dor do parto era passageira, mas esta era constante e não permitia que as mesmas tivessem uma vida comum.
             O historiador Americano John King Fairbank em sua obra “China uma nova história” vai descrever sobre esse costume no qual este ainda presenciou na década de 1930, quando o mesmo morou com sua mulher na China. Esta prática é descrita por Fairbank como horrorosa diante das mulheres que este avistou já no inicio do século XX, com pés enfaixados. A locomoção dessas mulheres era lenta e desengonçada, em seus rostos o sofrimento por estar em pé, com pés minimamente pequenos.  Fairbank vai dizer em seu texto que essa prática de enfaixar os pés, foi muito disseminada no século XIX, mas sua origem remete a corte chinesa do século XII, da dinastia Song, mas com o passar do tempo se tornou comum o enfaixe dos pés nas classes mais baixas da sociedade chinesa, principalmente na camponesa, que vivia da agricultura. Como já falado no início do texto, as mulheres possuíam uma grande responsabilidade nas plantações, mas estas perderam a capacidade física a partir deste costume, tudo isso para adentrar aos padrões de belezas que dariam bons casamentos para estas e ajudariam as suas famílias com dotes que atingiriam um percentual referente ao tamanho dos pés que estas mulheres possuíam. O fetiche sexual criado pelos homens diante dos pés pequenos influenciou essa prática cruel. Poemas eram feitos em referência aos pés das mulheres, a beleza enfatizada pelas mulheres escondia o desejo sexual masculino, que submetia desde menina ao enfaixe dos pés, meninas de cinco a seis anos iniciavam ao processo, muitas não resistiram aos procedimentos de enfaixamento dos pés, a mortalidade foi grande, a dor implacável que se sucedia para que os pés não crescessem, continuava na vida adulta. Muitas não tiravam o enfaixe, e permaneciam até sua morte, mesmo assim essas infligiam suas filhas a fazerem os mesmos procedimentos. Nem sempre o enfaixe impedia o crescimento dos pés, dessa forma, em uma atitude desesperada muitas se mutilavam, cortando metade dos pés, tudo isso para ficarem nos padrões femininos da tradição chinesa.
              O enraizamento desta cultura se tornou tão comum, que mesmo passando por dores implacáveis, as mulheres que se submetiam a este processo de enfaixe dos pés ridicularizavam as mulheres que possuíam pés normais. A adesão dessa prática não atingiu as minorias chinesas, esse é o caso dos manchus, dos mongóis e convertidos ao cristianismo. Inclusive no período mais disseminado do enfaixe dos pés, que fora no século XIX a dinastia que comandava a vida dos chineses, era de origem manchu, os Qing. Os imperadores contestavam essa prática, já que sua etnia não era adepta. No entanto estes não eram chineses, e para governar um povo que grande maioria seguia um costume, estes tiveram que se adaptar, para se manter no poder, e evitar uma rebelião de uma massa de tradicionais chineses, que se sentiam infligido, pelo poder está nas mãos de um povo que possuía minoria em território chinês. Dessa forma os imperadores Qing, não tinham voz para contestar essa atividade, que tornava a mulher um flagelo. Princípios Confucianos também discordavam dessa prática cruel. Fairbank se pergunta será que as mulheres acreditavam na teoria masculina de que o enfaixe dos pés produzia músculos que aumentavam o prazer dos homens na copulação? O que essas mulheres poderiam mesmo sentir, a não ser inferioridade, medo de romper as tradições e a autoridade familiar, estas viviam aprisionadas pelo um regime tradicional, que não as permitia fugir de suas obrigações, a incorporação desses sentimentos criavam a personalidade deturpada da mulher chinesa dos pés enfaixados, que depois submetia suas próprias filhas a este costume, por considerar uma convenção que não podia ser rompida, assim a mãe ensinava a filha a ser submissa. Uma prática que nos dias atuais, não existe preocupação dos historiadores e sociólogos chineses de estudarem esse acontecimento, pelo fato de que homens e mulheres chineses ainda possuem dificuldade de assumir a existência desta atividade, uma tentativa de obscurecer algo que outrora fora comum, e hoje entre algumas famílias camponesas chinesas deve ter permanecido essa prática horrenda, que machuca e agride, e cria pessoas com distúrbios psicológicos. 

Ronyone de Araújo Jeronimo

sábado, 24 de setembro de 2011

O melhor amigo do homem: a história social do cão


Dizem por aí que o cão é o melhor amigo do homem, principalmente na fala de muitos apreciadores dessa espécie animal. Mas se levarmos em conta a história da humanidade, é bem verdade que o cão, esteve sempre presente na vida humana, e a partir de sua existência, juntamente ao lado  deste, o cachorro conseguiu marcar o seu território.
A origem do cão doméstico data de 35 mil anos, com o aparecimento dos miacídios que deram origem aos canídeos primitivos, de acordo David Tylor em sua obra “You & Your Dog”. Com a evolução da espécie, hoje podemos encontrar uma diversidade de raças e de usos sociais que o homem procura fazer deste a partir de suas características.
Fazendo um percurso na história, encontramos os cães que eram (e são) caçadores, ou pastores de ovelhas. Outros possuem a capacidade de rastrear, ou para simplesmente fazer companhia ao seu dono, como forma de entretenimento.
Um caráter social bastante relevante é o que diz respeito aos cães guias. Estes são treinados e adestrados para darem suporte e assistência a deficientes visuais. Através de sua perspicácia, o cão guia tem de saber discernir os perigos que rondam o percurso da rotina diária do deficiente visual. Imaginem só a nobreza desse ato!
Um fato interessante e que merece destaque é quanto à história social do cão nas diversas civilizações. No Egito, por exemplo, o cão era adorado como um deus conhecido como Anúbis que tinha a cabeça no formato de um chacal, e que era considerado como o guardião dos mortos. Já na Grécia, o cão tinha um lugar específico: era o protetor do Hades. Entre os fenícios, os cães passaram a ser difundidos. E em Roma, muitos desses animais eram adestrados para participarem dos espetáculos dos gladiadores.
Chegando à Idade Média, com a epidemia da peste negra que dizimou muitas pessoas, os cães dessa época, devoravam os mortos encontrados. Por esse motivo, os cães eram vistos como o limite entre a vida e a morte.
Chegando ao período do Renascimento, o cão ganha uma difusão ainda maior, devido às navegações, e é expandido em muitas sociedades.
Percebam que o cão ao longo da história da humanidade sempre esteve presente, a partir de sua origem, nas atividades do homem, seja para auxiliá-lo, ou dando suporte a este.  E isso pode ser percebido com a participação de cães de grande porte na Primeira Grande Guerra, prestando serviços de comunicação e transportando víveres e munições, além de vigiarem campos de prisioneiros e rastreando foragidos.
Nos tempos de hoje, vemos um processo de hominização dos cães: eles vão perdendo caracteres animais e transformando-se em homens, ao passo que passam a adotar determinados costumes humanos, como o uso de roupas, perfumes, acessórios; não por vontade própria, mas por imposição de seus donos.
O cão é representado nas artes, na literatura, como a figura “Baleia” da obra Vidas Secas de Graciliano Ramos, que num momento de extrema miséria, caçou um preá e o entregou a Fabiano, seu dono. Nas animações encontramos o Pateta e o Pluto de Walt Disney; nos desenhos temos os exemplos de Snoop, Scooby Doo, bem como o Bidu, de Maurício de Souza, nos seus quadrinhos. Sem contar que esses caninos marcam presença nas telonas como o grande sucesso “Marley e eu” e a história contida no emocionante filme “Sempre ao seu lado”.
É impressionante como esse pequeno grande ser acompanha o homem há muitos anos, num laço afetivo de amizade, companheirismo e gratidão. Amizade e serviço que atravessam fronteiras que vão além da morte. Um bom exemplo disso, tomando como referência o filme anteriormente citado, “Sempre ao seu lado”, baseado em uma história real, Hashiko, mesmo após a morte do seu dono, ficava a espera deste no mesmo ponto de sempre, aguardando seu amigo. Sempre fiel e leal, o cão nunca abandona o homem, e passa a fazer parte da família deste, criando laços tão profundos que jamais serão desatados. E mesmo que no seu pequeno curso de vida, de acordo com sua espécie, o cão quando parte, deixa marcas e boas lembranças de um tempo que não volta mais.

(Texto dedicado a um grande amigo, que na sua passagem meteórica deixou gravada na minha memória bons momentos. Meu amigo, meu Kenai).

Gláucia Santos de Maria

domingo, 11 de setembro de 2011

Os indígenas sobre o olhar Europeu e a discutida descoberta do Brasil



A chegada dos portugueses no Brasil é um tema que envolve diversas discussões. Levando em conta o olhar Europeu, daqueles que nos colonizaram, e as dimensões das conquistas que estes obtiveram. A partir do momento no qual estes dominaram seus medos e buscaram através dos mares, adquirir suas fontes de riquezas. Porém, para chegarem ao propósito tiveram que domar os nativos, que já viviam nos locais onde as naus portuguesas atracaram. Diante da premissa descoberta por parte de Portugal, no qual  hoje chamamos Brasil, surge a contestação, pelo fato destes se colocarem como descobridores da Nova Terra, desqualificando a existência dos nativos no qual o padre Antonio Vieira diria que a América considerada pelos europeus o Mundo Novo, seria apenas novo para os sábios que fechavam os olhos, ignorando a existência da população indígena que já vivia naquele continente a milhares de anos. Então, levando em conta esse pressuposto, o que teria ocorrido fora à conquista dos portugueses diante das populações indígenas brasileiras e não uma descoberta, pelo fato destes imaginarem a possibilidade da existência dessas terras. Contrapondo essa ideia o historiador Português Vitorino Magalhães Godinho diz que “Descobrir insere-se num circulo cultural onde ainda nada se sabe do que se vai encontrar (achar); mesmo sabendo o que se procura (buscar)”. Neste caso, de fato, os portugueses teriam mesmo descoberto o Brasil. Pois estes buscavam em suas viagens o desconhecido, sem imaginar, no entanto, o que iriam encontrar.
Levando em conta os preceitos religiosos europeus e os conceitos fundados na antiguidade da mesma, os povos encontrados na América e principalmente no Brasil seriam bárbaros. Seres bestiais com formas humanas, porém, seus costumes eram diferentes. O fato de andarem nus era bastante enfatizado. O eurocentrismo por parte dos portugueses e os outros colonizadores europeus, foi o que causou a dizimação da grande população indígena na América. Antes disso, tentaram de toda forma escravizar os Índios, mas, estes não possuíam uma cultura de trabalho semelhante com o resto do mundo. Na não possibilidade de escravizar, tentaram europerizar o Índio. Primeiramente o catequizando, expondo para este o catolicismo. O ideal cristão que o ajudaria a esquecerem dos seus costumes e práticas, e tornariam mais dóceis, diante da exploração portuguesa em suas terras. No entanto, não fora possível civilizar nos moldes europeus os indígenas, dessa maneira, a matança rolou solta. Os indígenas que se mantém até os dias atuais, são aqueles que cooperaram com os colonos ou os que tornaram parte da multidão. A descoberta portuguesa do Brasil daria a este a posse de algo que relativamente não era povoado, e sim habitado por animais e seres animalescos, iguais aos monstros marinhos que tanto assustaram os navegadores de outrora. Todavia os índios eram tratados como seres inferiores. E o medo que rondava o imaginário dos mares, não era o mesmo que os portugueses sentiam pelos índios. Estes eram apenas seres descartáveis em uma terra na qual o morador não tem valor e o descobridor dar as cartas.

Ronyone de Araújo Jeronimo

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Racismo é violência. Diga não!





Nosso país, hoje conhecido como Brasil carrega em suas raízes diversos tipos de culturas, fruto da colonização. Como todos sabem fomos colonizados pelo “homem branco”. Como fruto dessa colonização recebemos como apêndice uma prática da qual não temos muito que nos orgulhar: A escravidão, escravidão não só de negros, mas de indígenas entre outros. Mas o corrente texto irá tratar (como já anuncia o título) dos frutos deixados pela escravização dos negros, ou melhor o preconceito contra os negros principalmente no Brasil. Frequentemente debatemos que as raízes desse preconceito tenha sido a escravidão no Brasil, mas será que o preconceito contra os negros no Brasil é mesmo fruto da escravidão ou não seria o racismo um fenômeno de cunho mundial?

Gostaria de antemão esclarecer que eu não tenho respostas para todas as questões que serão levantadas, mas o objetivo do texto é fazer-nos refletir sobre a temática.

Com a abolição da escravatura (1888) supera-se a escravidão formal (trabalho escravo) de negros e seus descendentes no Brasil. Porém muitos obstáculos ainda hoje não foram superados. Supera-se o trabalho escravo, mas o preconceito não. O Brasil se autodenomina um país livre de racismo, que valoriza e superestima a cultura “afro-descendente”, mas no cotidiano a realidade é muito diferente.

Há quem defenda que o racismo tem origem xenofóbica se estendendo até o racismo dito. Desde o período das colonizações africanas, o colonizado acabava por se submeter ao colonizador e a áfrica foi basicamente colonizada por europeus. Daí podemos concluir que o racismo não é “privilégio” apenas do Brasil. Ouvimos constantemente as pessoas dizerem: “Ah! Mas os negros têm preconceito com eles próprios”. O relato a seguir poderá nos fazer refletir melhor sobre essa questão. Em 1947 o casal de psicólogos americanos Kenneth and Mamie Clark realiza um teste, para tentar avaliar a percepção de crianças negras, de 3 a 7 anos, em relação à discriminação, auto-estima e segregação racial. O teste se dava da seguinte forma: duas bonecas, uma negra e outra branca eram posicionadas uma ao lado da outra, o teste em si iniciava-se após as crianças identificaram prontamente a etnia das bonecas. Em seguida os psicólogos perguntavam quais bonecas elas prefeririam e quais as atribuições positivas e negativas elas relacionariam a cada uma das bonecas. O resultado do teste foi chocante, a percepção das crianças negras em relação ao sua própria etnia retrata o que ocorre em nosso cotidiano. A maioria delas agregou às bonecas valores segundo a cor ou a etnia da boneca observada. A boneca negra era caracterizada como má, feia, desagradável, enquanto que a boneca “branca” era taxada de boa, bonita e legal, dentre outros aspectos (um vídeo foi feito baseado nesse teste. O resultado pode ser conferido em: http://www.youtube.com/watch?v=PKqSPf-hKR4&feature=player_embedded).

Testes como esses nos retratam a dura realidade, frequentemente os negros são tratados como sendo maus, marginais, ladrões, quando não, são no mínimo vistos como feios. Sabemos que o que define a cor da pele é uma substância chamada melanina, quanto mais o indivíduo possui melanina mais escura é a cor da sua pele. Relembrado esse ponto questionemos como é possível que tentemos definir o caráter de um indivíduo pela quantidade de melanina existente em seu corpo. É biologicamente inconcebível que a cor da pele tenha alguma correspondência com o caráter do indivíduo.

Pesquisas realizadas por cientistas em um projeto chamado GENOMA HUMANO levam a crer, que quando o homem moderno (homo sapiens) surgiu, na África, há cerca de 150 mil anos, todas as pessoas tinham pele negra. Com a migração, para a Ásia e a Europa, foram surgindo as diferentes tonalidades. Deste modo as velhas teorias sobre a superioridade racial caem por terra.

Uma outra questão a ser levantada é a seguinte: quem é realmente Branco no Brasil? Quem tem origem cem por cento européia? Difícil responder, mas ainda que tenha, não há justificativas para o racismo, principalmente depois de cogitarmos todos termos origens africana. Acho que já foi esclarecido que as nossas origens são um tanto quanto questionáveis (se isso justificar o racismo). Mas alguém pode dizer: “eu não sou preconceituoso, apenas tenho preferência por pessoas de pele, cabelo e olhos claros”. Mas levantamos agora outra questão, o “gosto” também não é algo questionável? Um exemplo para fazer entender melhor. uma criança que cresceu em um ambiente cujos pais têm o hábito de ouvir música clássica e freqüenta o teatro provavelmente será um adulto que também irá carregar consigo as mesmas preferências que seus pais. Já uma criança que cresce em uma comunidade carente que nunca ouviu uma música clássica, mas ao contrário era acostumada a ouvir funk ou outro estilo qualquer será muito provável que esse estilo o acompanhe por toda a sua vida, não é mesmo? Então agora eu pergunto, será que o negro é realmente mais feio que o branco ou fomos nós que ouvimos isso a vida inteira também nossa família e nossos antepassados? A mídia nos apresenta o tempo todo padrões de beleza a serem seguidos e as pessoas fazem disso uma religião, não importa o quão crespo seja o seu cabelo, ele tem que ser alisado, não importa quão escuro, tem que ser pintado de loiro, se seus olhos não são azuis, apele para lentes de contato e só assim você será uma pessoa feliz. O nosso país é conhecido mundialmente por suas belas mulheres, no entanto as modelos “exportadas” são aquelas que correspondem ao padrão de beleza europeu, jamais uma indígena e muito menos um negra. O negro retratado nas telenovelas ou é morador de comunidade carente, ladrão, traficante, empregado (a) ou motorista dentre outros papéis com o intuito de solidificar a imagem do negro da forma mais pejorativa possível. E é isso que absorvemos constantemente e em nosso dia-dia, pela mídia, pelo cinema, pelos meios de comunicação em geral.

Cada etnia tem suas qualidades, mas como colonizados que somos (nós brasileiros) tenderemos a ver sempre o padrão de beleza europeu como o único digno de admiração! Devemos nos libertar das correntes do colonialismo e valorizar cada indivíduo com suas características! Eu não diria aquela frase clichê, “vamos respeitar-nos, afinal, somos todos iguais”. Mas eu diria somos todos diferentes, eis o cerne da questão. Viva as diferenças, pois padronização é um desrespeito a individualidade! A preferência de cada um deve ser respeitada, mas o preconceito (ou conceito preconceituoso), ah, isso não!  
 
Gracielle Silva

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Histórias em Quadrinhos: o que de fato elas nos revelam?


As histórias em quadrinhos são um recurso que abrange um público bastante vasto. Quem nunca leu uma na infância? Aposto que seu avô, seu pai, seu irmão já lhe contou algumas dessas histórias que marcaram seu tempo e que nos marcam até hoje. Percebemos que independente da idade, nos deparamos alguma vez com um quadrinho nas mãos.
As primeiras histórias em quadrinhos surgiram no fim do século XIX e início do século XX. Um dos primeiros personagens criados que conseguiram reconhecimento, foram às figuras: The Yellow Kid, Max and Moritz etc, que marcaram o seu tempo e que ganhou repercussão desse tipo de produção cultural.
Antigamente, os quadrinhos eram vistos apenas como tirinhas de veículos de informação como os que são colocados em jornais. Hoje por exemplo, continuamos a ver tirinhas em muitos jornais, bem como em revistas e sites da internet. Mas comumente elas aparecem em revistas específicas, como as que temos no Brasil, os famosos “gibis”, que por sinal foi o primeiro nome das HQs do Brasil.
Os quadrinhos possuem personagens reais ou não, que desempenham um determinado papel na sociedade. Os recursos imagéticos das HQs se expressam no diálogo entre as personagens representadas nos balões. As primeiras HQs tinham como característica a ficção, bem como um caráter cômico. Mas a partir dos anos 20, de acordo com Viana, os quadrinhos passam a ter um lado mais realista, tendo em vista que anteriormente a combinação de comicidade, simplicidade de temas familiares e infantis eram traços marcantes.
Mas afinal de contas, o que os quadrinhos nos mostram?
Os quadrinhos têm a função de nos transmitir mensagens. Elas expressam através dos diálogos, valores, idéias, concepções, etc. A partir da comunicação, das indagações das personagens, conseguiram compreender o que eles nos revelam. E com uma leitura bastante atenta e apurada, percebemos que esses mesmos personagens revelam as subjetividades do desenhista. A reflexão pode transmitir a nós, através das HQs, momentos históricos que são, na vida real, vividos por um povo ou pela humanidade inteira. A título de exemplo, com a hegemonia do neoliberalismo, uma gama de personagens foram criadas por muitos desenhistas e roteiristas. Personagens como o Homem-Aranha, O Homem de Ferro, Capitão América, Hulk e X-Men, a partir de seus papéis desempenhados nas histórias, conseguiram exprimir os valores e idéias, que por vezes tendenciosas, mas que remetiam a um dado momento da história, de um contexto de um grupo que os criou, tomando como base, as suas opiniões acerca do que os rodeavam.
Pegando o gancho de um personagem que está em cartaz nos cinemas, “O Capitão América”, por exemplo, período em que no mundo eclodia a Segunda Grande Guerra (1939-1945), este, criado pela Marvel Comics, fora recrutado para defender sua pátria nos quadrinhos, funcionando como uma arma de caráter ideológico, no qual, segundo estudos, ele lutou na primeira revista contra o próprio Hitler. Com isso, mas sem deixar de lado uma análise bem mais aprofundada, percebemos como esse veículo imagético leva consigo uma carga de valores de grupos que se opuseram na época. E os exemplos não faltam...
Por fim, podemos considerar que as HQs são uma ferramenta bastante rica, pois nos remete a fatos, que mesmo sendo fictícios ou não, nos ajudam a refletir acerca do nosso mundo, e também elas nos possibilitam entender as imagens implícitas que de maneira fantasiosa nos iludem, mas com uma atenção maior nos ajuda a compreender as coisas como realmente são.

Gláucia Santos de Maria

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Nem tudo o que a gente vê é!!!


Os sentidos: representações da memória social

O mundo em que vivemos, está repleto de cheiros, sons, imagens, gostos e atritos. Mas, o que percebemos em grande parte em nosso cotidiano, é o visual, deixando de lado os outros sentidos que movem o homem. Isso não quer dizer que o individuo humano não utilize seus outros sentidos no dia-a-dia. Porém, as maneiras que este desenvolve as suas sensibilidades não são, de certa maneira, apurado, ao que reflete o espaço no qual o seu ser está inserido. Então, são os sentidos que movem nossas práticas habituais, em todos os âmbitos. O exemplo lógico para destacar essa temática é o amor. É diante desta característica humana, que os nossos cinco sentidos se tornam visíveis, o visual nos mostra a pessoa amada; a audição emite a voz que nos acalma e sensibiliza; o olfato permite sentir o cheiro da pessoa que adentrou o seu intimo; o paladar experimenta o gosto da outra boca que pertence ao amado; por ultimo destaco o tato, contato necessário entre corpos que emitem o prazer carnal ou sensível. O exemplo citado coloca os sentidos humanos em uma posição, no qual estes se tornam mais aguçados. O que não ocorre diante de algumas coisas inanimadas, que fazem parte de nossa vida.
Ao destacar os cincos sentidos, como razões que cercam o nosso viver, deslocando das funções que estes são enfatizados em nossa existência. Como algo apenas fisiológico, a que todo ser vivo possui. Assim os seres não vivos não possuiriam os seus cheiros? É a partir desta interrogação, que me apegarei às considerações do historiador brasileiro Durval Muniz Albuquerque Jr, em sua obra “O espaço em cinco sentidos”. No qual, o enredo do seu texto é referente, as maneiras de sentir determinados efeitos de uma forma natural, na qual a visão não seja o único aspecto que possibilite o homem de ver o que está a sua volta.
 As cidades possuem seus cheiros, que nos remetem lembrar locais agradáveis ou até mesmo de locais que não nos agradam. Os sentidos nos trazem memórias boas e ruins. Segundo Albuquerque Jr, as paisagens podem ser construídas a partir da audição, do paladar, do tato e do olfato. A visão seria apenas complementar, diante do que estava à frente do individuo que contempla.
A utilização apenas da visão, sem um olhar critico, é o mesmo que um cego, que possui uma boa visão. Pois, aquele que não enxerga, supriu a sua deficiência apurando os outros sentidos, tornando-o capaz de uma melhor sensibilidade com o mundo. Os sentidos são fundamentais em nossa vida e cada representação de um aspecto, pode ser vista em qualquer lugar, tudo possui uma característica em nossa memória. Então cada setor da área urbana ou rural, tem o seu cheiro, a lembrança de um gosto ou de um toque, seguido de um som, que nos leva a uma visão de uma bela paisagem, nunca vista, pelos olhos. Já que estes, distraídos, não vêem a beleza das coisas mais simples e belas que o mundo nos proporciona. Como diria Albuquerque Jr, a visualização de outras dimensões e aspectos da realidade, entorpece os nossos outros sentidos. Colocando estes de lado e valorizando apenas um, dando origem a uma possível alienação visual. No qual só o exterior das coisas é admirado, enquanto o interior raramente é apreciado.

Ronyone de Araújo Jeronimo

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

" A felicidade consiste em fazer o bem". (Aristóteles)

Quando o assunto é amor

Se pararmos para pensar um pouco, já perceberam que o amor é um tema bastante discutido? O ser humano busca a felicidade a todo o momento, seja nas suas relações pessoais ou sociais. A temática amor é palco de discussões científicas, é mencionada por muitos poetas, encontrado em muitas músicas, utilizado como razões de suicídios (morrer por amor), assassinatos (matei por amor) etc. O amor é natural do homem ou se constrói culturalmente? Esse tal amor é complicado...
Os filósofos são um bom exemplo de questionadores quando o assunto é amor. Eles se perguntam: como definir o amor? Como compreendê-lo? O amor é necessário? É útil? Percebem? Desde os primórdios esse sentimento é tão debatido.
Na mitologia grega, por exemplo, tomamos como ponto de partida a obra “O banquete” do poeta Hesíodo. Nessa obra, um dos personagens, o autor satírico Aristófanes, narra o mito de Eros*, que de acordo com ele, este é o maior amigo do homem.
Aristófanes discursa que no início dos tempos, os seres humanos eram completos, entretanto em virtude de uma punição divina, fomos separados, divididos. Existiam homens, mulheres e os seres chamados andróginos. Os homens possuíam quatro mãos, quatro pés e dois órgãos sexuais masculinos. As mulheres por sua vez da mesma forma, mas com dois sexos femininos. E por últimos, os andrógenos, possuíam um sexo de cada. O mito afirma que todos esses seres eram muito velozes e vigorosos. E por isso quiseram atacar o mundo dos deuses: e o maior destes, Zeus, os cortou pela metade. E devido a essa separação, sentimo-nos incompletos, e procuramos sempre a nossa metade perdida. E de acordo com Aristófanes, o amor nos impulsiona a buscar o outro. E esse desejo de nos sentirmos amados se dá pela vontade de nos tornarmos completos.
De acordo com Sócrates, nessa mesma obra, o amor é um processo de evolução. Como assim? Segundo ele, nós humanos começamos primeiramente a amar a beleza física dos corpos, entretanto passamos a perceber que existe uma beleza bem mais profunda no outro, é a beleza da alma. O amor das almas é muito mais nobre, tendo em vista que está direcionado a algo considerado eterno. Esse amor leva o ser humano a cuidar do outro, zelar pelo outro, levando sempre ao caminho do bem. O ápice do amor em Sócrates é aquele que o indivíduo se dedica na educação do outro. E essa forma de amor, é o pedagógico, que é o mais sublime de todos na visão de Platão.
Na primeira metade do século XVII encontramos o amor romântico, exaltado por poetas, pintores e filósofos no movimento conhecido como Romantismo. Um fato interessante que chama a atenção é que todas as histórias contadas por escritores românticos acabavam em tragédia. Eram amores impossíveis, utópicos como o clássico Romeu e Julieta de Shakespeare dentre outros.
No caso da psicologia, o amor foi tratado de diversas maneiras. De acordo com a psicóloga norte-americana Dorothy Tennov, em uma pesquisa por ela realizada com muitos pacientes, chegou à conclusão de que existe um estado que corresponde ao amor romântico que ela denominou limerance; e trata-se de algo universal, que independe de cultura.
Esse estado de limerance é um estado emocional que uma pessoa sente um forte desejo romântico por outra, mas que este, segundo a psicóloga não é amor, pois este é revelado pela preocupação com o outro. E essa limerance não tem isso. Seus sintomas são: medo de ser rejeitado, fascinação pelo objeto desejado, palpitações, ansiedade, excitação etc.
Como podemos ver, o amor é um assunto que permeia a cabeça de muitos pensadores, artistas, cientistas... Todos em seu ramo buscam explicar esse tal amor que consome a vida de nós humanos. E você, saberia explicar o amor? Nascemos com ele, ou é apenas convenção social? Você ama? É amado? Esse tal amor é tão complicado...
*Na mitologia grega , era o deus primordial do amor sexual e da beleza.

Gláucia Santos de Maria