sábado, 21 de julho de 2012

Contos de fadas Disney: Branca de Neve, padrões e estereótipos

          
         Culturalmente falando, não há como deixar de afirmar que os valores, os papéis sociais e até mesmo os estereótipos partilhados entre os indivíduos, se configurará de acordo com a sociedade em que os indivíduos estiverem inseridos. Desde a infância nos habituamos a receber incentivos dos nossos pais quanto ao modo como devemos nos portar à mesa, as vestimentas que iremos usar em determinada ocasião, bem como nos é apresentado uma bola para o menino e a boneca para a menina eis aí o processo de socialização. Como coloca Berger (1973) a chamada socialização primária, ocorre dentro do seio familiar, nas brincadeiras com os colegas de infância e também no espaço da escola no qual se iniciará o processo de socialização secundária (Bourdieu, 1998). 
          Nesse processo de socialização, nos é oferecido revistas, músicas e filmes de animação. Quanto a este último, um carro-chefe das produções cinematográficas de desenhos animados, sem dúvida é a companhia Walt Disney. Eis aí o ponto em que gostaríamos de chegar. Sobre uma de suas produções é que iremos nos debruçar. O foco de nossa discussão diz respeito ao primeiro longa metragem em animação produzido em 1937, no inicio da Segunda Guerra Mundial: Branca de Neve e Os Sete Anões. Na produção desse filme Disney recebeu o Oscar, e ainda sete miniaturas representando os sete anões. Mas de que modo podemos estabelecer um debate sobre esse longa produzido por Disney? Na nossa discussão usaremos da animação em questão para especificar os padrões e estereótipos usados por Disney e seus produtores, nesse ‘inocente’ conto de fadas. 
      Desde nossa infância, somos deparados com padrões sociais que influem no modo como percebemos a realidade através de um mundo pré-construído. As histórias, os contos infantis trazem também essa carga de determinados padrões sociais partilhados entre as personagens. Refletindo essa questão, o conto de fadas funciona como forma de entretenimento, mas, além disso, ele 
Consiste em histórias que se passam em um tempo e espaços indefinidos e que apresenta de início uma situação realista problemática, de tema universal com um conflito entre o bem e o mal, além de elementos mágicos, terminando com a punição dos maus e o final feliz do herói (FREITAS,1997)
           Os contos infantis, e principalmente os contos de fadas, mostram que se fores bom, terás um final feliz, caso contrário serás punido pelos atos maldosos que praticou contra outrem. O fato de ser bom ou mal, já emergem como padrões a serem seguidos ou não. Passemos aos estereótipos. De acordo com Lippmann (apud Baccega, 1998) não vemos as coisas primeiramente para depois definirmos, todavia, nós definimos e depois vemos. E o estereótipo funciona como uma espécie de tipos sociais aceitos, ou padrões segundo os quais devemos seguir. No caso dos contos de fada, será bem mais quisto quem for bom. . 
          Na construção desses estereótipos, encontramos no conto de fadas mais antigo de Disney, a Branca de Neve. Trata-se de uma princesa que perdera o pai e que vive sob o jugo da sua madrasta. Mesmo sendo adulta Branca de Neve se mostra bastante ‘inocente’, e se revela uma moça que sonha em encontrar seu príncipe encantado. E isso pode ser percebido em uma das canções, “O sonho que eu sonhei”, quando a mesma afirma: O sonho que eu sonhei/Há de acontecer/O castelo que eu/imaginei/De verdade, ele um dia há de ser/O meu eterno amor/Um dia encontrarei/E feliz eu irei/viver com esse amor/No sonho que sempre sonhei. 
        Em contraponto com a princesa, encontramos a figura da madrasta. Esta representa o mau, e tem como características principais a vaidade, quando a mesma se olha ao espelho, e por outro lado sente inveja da princesa. Nesse sentido, através de métodos ilícitos a madrasta tenta dar fim a Branca de Neve, ao impor a um caçador que traga o coração dela como prova de sua morte, já que esta era considerada a mais bela. Mas como o trunfo não fora alcançado, dado o sentimento de piedade do caçador em tirar a vida de Branca de Neve, a madrasta buscou através da bruxaria, envenenar uma maçã para que esta morresse. Desse modo, não existe quem nunca teve aversão à figura de qualquer madrasta em muitas situações, vista como má, vil e perigosa. 
       Disney, nesse longa, mostra também a figura dos anões. Mestre é o anão que tem como principal função conduzir o grupo, ou seja, lidera através de sua sabedoria, mas procura trabalhar em conjunto em prol do beneficio da equipe. Não é difícil encontrar essas pessoas na nossa sociedade. Em seguida temos o Feliz, figura que expressa através de suas ações que, mesmo em casos de dificuldade há sempre a possibilidade de se ter alegria e felicidade. O anão conhecido como Atchim, é aquele que vive doente, e a seu lado temos o Dengoso que, expressa a carência de muitos de nós. Nesse meio, encontramos o Zangado. Este é uma figura que expressa o não humor da própria trama da animação, e diferentemente do anão Feliz, ele é ranzinza e insatisfeito em boa parte da trama. Os dois últimos, Dunga e Soneca completam os sete anões. O primeiro é mudo, e muitas das suas ações revelam uma espécie de inocência, comparada a Branca de Neve em certo sentido; e o último podemos comparar as pessoas que esperam a vida passar, como numa espécie de inércia, no qual suas ações se demonstram ineficientes. (FREITAS, 1997). Temos também a presença dos animais que auxiliam Branca de Neve em suas dificuldades, e revelam a expressão de muitas pessoas que estão preocupadas com as outras numa espécie de solidariedade. E por último encontramos a figura do príncipe. Este aparece duas vezes no filme, segundo o qual revela através de suas características uma espécie de tipo ideal que a princesa almeja: montado em seu cavalo branco e que a leva, depois de todas as dificuldades passadas, para morar no seu lindo castelo. 
       Por fim, podemos perceber que mesmo em filmes infantis de contos de fadas, somos induzidos, em certa medida, desde a infância a estereotipar os indivíduos em determinados papeis, através de um padrão especifico. Através de um ‘inocente’ conto de fadas, Disney expressou através de Branca de Neve e os Sete Anões, a partir de nossa análise determinados padrões sociais e estereótipos partilhados em certo sentido, com a sociedade da sua época. 


Gláucia Santos de Maria  

6 comentários:

  1. humm texto interessante!Deve ser por isso que eles criaram o filme "Deu a Louca na Branca de Neve." Expressa muito bem alguns esteriótipos dessa nossa época. rsrs

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    1. Obrigado Marcia pelo seu comentário! Ainda não tive a oportunidade de assistir a esse filme que você mencionou! Vou conferir!

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  2. Adoro contos de fandas em quem não gosta quem não se lembra dos fim de semana na casa da vovô ou ate queles dia que você estava doente e sua mãe colocava você embaixo do cobertor e falava veja o Rei Leo ou outros Desenhos que entre tantos marcou geração ...

    Os irmãos Grimm e seu modo de escrever e envolver décadas moral sobre ideias e conceitos de sonhos e lideranças ou deque tudo pode dar certo.


    Vários críticos afirmam serem as histórias dos Grimm incentivadoras do conformismo e da submissão. Ainda assim, a permanência dessas narrativas, oriundas da tradição popular, justifica o destaque conferido a estes autores alemães.
    A Protegida de Maria;
    As Aventuras do Irmão Folgazão;
    Branca de Neve;
    Cinderela;
    O Alfaiate Valente;
    O Flautista de Hamelin;
    O Ganso de Ouro;
    O Lobo e as Sete Cabras;
    O Príncipe Sapo;
    Os Músicos de Bremen;
    Os Sete Corvos;
    Os Três Fios de Ouro de Cabelo do Diabo.
    Rapunzel;
    Chapeuzinho Vermelho;
    A Bela Adormecida;
    Hansel e Gretel (João e Maria)
    Rumpelstiltskin;

    deixo qui outras fatos BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES – CURIOSIDADES...
    http://www.animatoons.com.br/curiosidades/branca-de-neve-e-os-sete-anoes-curiosidades/

    Vou falar qual eu gosto de verdade

    A Bela e a Fera ou A Bela e o Monstro é um tradicional conto de fadas francês. Originalmente escrito por Gabrielle-Suzanne Barbot, Dama de Villeneuve, em 1740, tornou-se mais conhecido em sua versão de 1756, por Jeanne-Marie LePrince de Beaumont, que resumiu e modificou a obra de Villeneuve. Adaptada, filmada e encenada inúmeras vezes, o conto apresenta diversas versões que diferem do original e se adaptam a diferentes culturas e momentos sociais

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    1. Sandro muito bom você ter mencionado os Irmãos Grimm. Como você bem disse, foram responsáveis por perpassar esses contos 'encantados', de modo que depois de grandes dificuldades o bem sempre vence o mal e etc. Sempre fui (e ainda sou)fascinada por filmes de animação. Quando criança, via com outros olhos... Hoje, sem dúvida, tenho uma percepção diferente do que é mostrado. Mas sempre prestigio tais filmes. É interessante pensar, se por um lado, no início das produções Disney víamos o modo como as princesas clássicas se portavam: submissas ,muitas vezes de suas madrastas, como no caso de Branca de Neve e Cinderela. Após algum tempo, fomos surpreendidos com a figura das princesas ditas 'rebeldes' como por exemplo Mulan, que foi a guerra no lugar do pai. Com as transformações do tempo e suas circunstâncias, vemos o modo como a carga de cada época se mescla com cada trama, no caso das produções Disney.
      A título de curiosidade, em entrevista à Agência Efe, a filha de Disney afirmou que seu pai estava cansado com o eterno destaque da obra Branca de Neve e os Sete Anões, tendo em vista que as pessoas sempre remetiam a essa animação, e ela 'roubava' o protagonismo das outras produções. Bom, se por um lado essa aminação trouxe um 'boom' aos estúdios Disney, ao mesmo tempo deixou o produtor um tanto quanto enfadado! Confira nesse link a entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=gBNbqEl2znI

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  3. Gostei da problemática! É fato que a nossa educação, ainda hoje, prima pela reafirmação das dicotomias e das polaridades em termos de emotividades e afetividades humanas, criando estereótipos e maniqueísmos... Um olhar bastante original que o texto ressaltou! Parabéns Gláucia!

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    1. Obrigado Júnior! Acho interessante usar esses filmes com crianças, pois despertam o interesse delas em vários sentidos. Mas como você mesmo pontuou, alguns educadores acabam reforçando as dualidades e etc. É importante saber como é que tal ferramenta está sendo utilizada, para que esteriótipos e até mesmo o preconceito não sejam perpetuados através das ações das crianças. É importante usar tal recurso com responsabilidade social.

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