sábado, 1 de dezembro de 2012

Bullying: Brincadeira de criança?


Cena do curta metragem  A peste da Janice (Porto Alegre, 2007)

Eu devo me lembrar para sempre, nunca irei esquecer.
Segunda-feira: meu dinheiro é tomado
Terça: me ofendem verbalmente
Quarta: meu uniforme é rasgado
Quinta: meu corpo encharcado de sangue
Sexta: está terminado
Sábado: liberdade!
(Última página do diário do menino Vijay, 13 anos, que se enforcou em sua casa. Manchester, UK, 1997).

      Esse é um dos relatos de crianças vítimas do bullying que, não encontrando alternativas para se livrarem dos seus medos e pesadelos ocasionados por seus agressores, no auge de sua angústia, retiram sua própria vida. O menino Vijay era bom aluno, tirava boas notas e a primeira vista isso não teria nenhum problema. Ele estudava em Manchester, Inglaterra, e a maioria dos seus colegas eram brancos e cristãos. Mas ele usava o cabelo comprido e o escondia com um turbante, dado que era da fé Sikh (Rolim, 2008). Em virtude das diferenças culturais, o jovem era perseguido, humilhado e agredido fisicamente pelos colegas que se divertiam com a situação, e o jeito encontrado por ele, diante do sofrimento que estava lhe causando, foi retirar sua própria vida. Mas isso não está distante da nossa realidade. A sociedade brasileira (Silva, 2012) foi tomada por um choque nacional em abril de 2011, quando o jovem Wellington Menezes de Oliveira de 23 anos tirou a vida de 12 estudantes da Escola Municipal Tasso da Silveira, onde o mesmo era ex-aluno da referida escola localizada no bairro de Realengo, Rio de Janeiro. De acordo com informações posteriores, o jovem Wellington em sua época de aluno da escola, era vítima de bullying. 
            Estudos relacionados ao bullying datam de 1970, e um dos pioneiros desses estudos foi o psicólogo sueco radicado na Noruega Dan Olweus que iniciou seus estudos acerca do fenômeno da violência escolar recorrente. O termo bullying no seu prefixo “bully” significa valentão, e por falta de uma palavra que não reduza o seu significado, há um consenso entre os pesquisadores em adotar a terminologia original (Rolim, 2008).
            O fenômeno bullying tem como característica principal a recorrência e que ocorrem entre pares (entre os estudantes), de modo que atos de agressividade, humilhações, fofocas, chutes, socos entre outros elementos, quando, praticados recorrentemente, podemos afirmar que se trata do fenômeno.
            Em meio a esse cenário encontramos a presença de três personagens, a saber, os agressores, as vítimas e os espectadores. Os primeiros são aqueles que sistematicamente pressionam suas vítimas, por elas terem alguma característica considerada anormal: ser gordo demais, magro demais, usar óculos, não usar a roupa da moda, ser estudioso, ter condição socioeconômica diferente etc. Os bullies ou agressores são pessoas populares, intolerantes, lideres de grupos, que “mantêm seu status social à custa da violência e da opressão de suas vitimas e se sentem mais poderosos cada vez que agridem e maltratam outros estudantes” (Teixeira, 2011, p.32). Quando a vitima demonstra fragilidade, e se sente intimidada, humilhada, de maneira geral, ela tem grande chance de ser alvo das práticas cruéis dos agressores. Nesse sentido, a segunda personagem, as vítimas, são aqueles estudantes que são eleitos por seus agressores, quando estes últimos encontram nos seus alvos o medo e a não reação de suas atitudes, daí percebemos nessa relação um desequilíbrio de poder, de modo que sendo a vitima refém do seu medo, ao transparecer isso, o seu agressor se sente mais poderoso e forte o suficiente para perseguir seu alvo. Acontece que os agressores precisam de plateia para agir, e eis que surge a terceira personagem: os espectadores. Estes quando não participam das agressões, como por exemplo, quando não incentivam as práticas, muitas vezes adotam uma posição de passividade e omissão, quando preferem ficar em silêncio, pois temem que se caso decidam denunciar, estes possam sofrer retaliações futuras, ou seja, temem se tornar as próximas vitimas. Essa postura dos espectadores, infelizmente, fortalece que casos de bullying sejam mais frequentes e camuflados, sem que não sejam descobertos por parte dos adultos, pais, direção e professores.
            O curta metragem com base em fatos reais chamado A Peste da Janice ( Link: http://www.youtube.com/watch?v=povo9wCtITomostra o modo como o bullying é praticado pelas meninas em uma escola de Porto Alegre. Janice sofre constantemente os ataques de suas agressoras que a considera suja, por isso o nome “a peste da Janice”, em virtude que sua mãe é faxineira na escola onde estuda, e que por isso é excluída por parte das outras meninas, exceto uma, Virginia, mas que se sente acuada de manter um contato mais próximo com Janice na frente das outras colegas de classe. A agressão recorrente no caso de Janice é a agressão do tipo verbal (uso do apelido), mas ela também é humilhada e passa por vários constrangimentos. Uma de suas agressoras, quando Janice tenta conversar com ela e a toca, a mesma sente nojo e diz: Ai a Janice encostou no meu braço, eu vou pegar a Peste da Janice! Esta toca nas outras meninas dizendo que vai passar a peste... Janice se sente extremamente excluída, humilhada, sem chão. E isso pode ser constatado quando Gabriel Chalita (2008, p.97) afirma:
Dizem que apelidos não têm cola, porém os cruéis, com certeza, têm pregos. Pregos causam dor e mesmo depois de arrancados deixam marcas e cicatrizes profundas.

            Infelizmente, todos os dias, Janice sente na pele o que é ser constantemente perseguida, e é marcada pela dor de ser humilhada pelas colegas.
De acordo com a literatura especializada no fenômeno bullying, entre as meninas as práticas recorrentes de violência na escola não são marcadas pelo uso da violência física, mas em alguns casos sim. Geralmente as agressoras fazem uso de elementos indiretos, dissimulados, por exemplo: excluem suas vítimas, espalham fofocas, utilizam apelidos maldosos, como no caso de Janice, infligindo sofrimento psicológico, ao que Calhau (2010) argumenta que “as meninas, com frequência, atacam dentro de um circulo bem fechado de amizades, tornando a agressão mais difícil de identificar e reforçando o dano causado às vítimas”.
            Inúmeros os exemplos que poderia citar aqui. Infelizmente enfrentamos dentro do espaço escolar uma problemática como essa. As agressoras de Janice acham que isso não passa de brincadeira, algumas riem, mas a vitima não. Educadores, pesquisadores, pais e a própria sociedade deve estar atenta. Muitos dizem que bullying é modismo, acontece que existe desde sempre, mas que apenas recentemente tem sido alvo de investigação e atenção. É importante salientar que, uma discussão e até mesmo um embate ocasional entre estudantes, mas que é solucionado no momento, não é bullying. Mas quando as agressões passam a ser recorrentes, isso merece atenção. Muitos dirigentes de escolas afirmam que não existe bullying em suas dependências, pois consideram que as práticas violentas entre os estudantes não passam de “brincadeiras de criança”. Será mesmo? Infelizmente ainda carecemos de explicações consistentes sobre o tema, pois por vezes percebemos que até a própria mídia coloca em suas matérias, considerando que toda e qualquer situação de conflito e violência como sendo bullying, e como disse, ele é caracterizado pela recorrência. 
            O bullying é um problema que atinge todos: sofrem os agressores, pois são vítimas da sua intolerância, da não aceitação do outro por ser visto como “diferente” de acordo com sua visão de mundo; sofrem as vítimas, pois são alvos de ataques constantes; sofrem os espectadores por se omitirem, por motivar tais atos de violência, por serem responsáveis para que o fenômeno se propague cada vez mais. Nossa discussão não se esgota por aqui. Espero em outra oportunidade explanar outras questões referentes ao assunto, fica por ora apenas a reflexão: BULLYING NÃO É BRINCADEIRA!

Gláucia Santos de Maria

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O poder das cartografias na construção do mundo


          
        As cartografias têm um papel extremamente significante na história da humanidade. Desde os tempos mais antigos, alguns seres humanos já se arriscavam na tentativa de descrever o espaço em que viviam a partir da elaboração de mapas. Os poucos recursos, infelizmente, não permitiam que estes fossem fiéis à realidade que o espaço proporcionava. Dessa maneira, o homem foi por muito tempo um crédulo das cartografias com poucos recursos, que nem sempre demonstrava a realidade, mas mesmo assim, ainda eram de grande utilidade.
            Nos tempos das grandes navegações do século XV e XVI, se iniciara um processo de desenvolvimento das técnicas cartográficas em razão dos avanços marítimos, das descobertas e conquistas dos europeus que muito ajudaram na construção e na elaboração de mapas mais aprimorados, como é o caso do mapa-múndi desenhado por Henricus Martelus no final do século XV. O historiador francês Bartolomé Bennassar irá dizer que Henricus Martelus conseguiu desenvolver o mapa-múndi, no qual fez um desenho excelente da Europa, desenhando também, um traçado bem próximo da realidade da África Ocidental.
            Acontece que a perfeição cartográfica ainda não seria possível ser desenvolvida nesse período, em virtude do desconhecimento de terras ainda não exploradas pelos europeus, e também pela falta de propriedade material que permitisse construir um mapa próximo da realidade. O próprio mapa-múndi de Henricus Martelus, que apesar de alguns acertos, também mostraria falhas, como por exemplo: a forma a qual África Austral se desloca claramente para o leste e como o mar vermelho foi colocado como se fosse bem mais amplo do que realmente é de fato. Todavia, não podemos julgar os erros de Martelus, já que este não possuía dados perfeitos, mas apenas aprimorou o mapa de Ptolomeu, que serviu como fonte, além das conquistas portuguesas que com seus relatos ajudaram no melhoramento deste mapa.
            É notório que a importância dos portugueses para renovação das técnicas cartográficas foram, de fato, enormes, pois estes se arriscaram nos mares, fazendo testes e experimentalismos, muito além das outras nações da Europa. E isso permitia a estes terem posse do saber, que para Foucault, “o saber gera o poder”. Nesse sentido, os portugueses tinham em mãos o poder, em virtude do saber, alcançado graças às experiências e aos mapas que foram desenhados próximo da realidade, que os ajudaram a desembarcar em qualquer lugar do mundo, e assim saber o trajeto de volta para casa.
            Assim, ao destacar a importância dos mapas para a construção do mundo como conhecemos hoje, as cartografias podem servir como material histórico, tendo em vista que eles são fontes que podem ser utilizadas como comprovação de fatos. Além disso, o conhecimento das cartografias ajuda ao historiador e muitos estudiosos, a relatarem o espaço, sem cometer equívocos, mesmo se baseando em antigos, mas sempre comparando com o mapa do globo que possuímos hoje. Desse modo, os mapas esclarecem, em certo sentido, o sentimento geográfico que as civilizações tinham sobre o seu entorno, tendo em vista que tentavam construir as suas espacialidades para se localizarem nesse mundo, sem nem mesmo o conhecer por completo.

Ronyone de Araújo Jeronimo

sábado, 29 de setembro de 2012

Poderosas e fracassadas:uma representação feminina nas “Helenas” de Manoel Carlos


        É quase um lugar comum afirmar que a televisão tem sido, desde o século passado, um importante instrumento de formação e renovação de práticas sociais e de comportamentos individuais e coletivos. Pensar esse veículo de comunicação como um mediador entre discursos e práticas consiste num modo relevante de demonstrar a importância e o caráter, até certo ponto normativo, que os conteúdos transmitidos pela televisão têm.
            Os conteúdos televisivos criam representações para os diversos grupos e segmentos sociais, bem como para atitudes individuais na vida cotidiana. Neste sentido, um modo bastante utilizado no processo de criação destas imagens é a teledramaturgia, através das conhecidas (inclusive, internacionalmente) telenovelas brasileiras. Na tentativa de historicizar a trajetória dos folhetins é relevante enfatizar que “a primeira telenovela diária foi ao ar em 1963: 2-5499 Ocupado, uma produção da TV Excelsior, lançada como uma opção despretenciosa. Na época não se podia imaginar que também estava sendo lançada a maior produção de arte popular da nossa televisão, além de grande fenômeno de massa, depois do carnaval e do futebol”.  A partir de então a produção foi aumentando e o gênero foi sendo aperfeiçoado com base nos recursos tecnológicos disponíveis.
            Todavia, aliada a um conjunto de aparelhos tecnológicos usados para deixar as novelas cada vez mais interessantes, estimulantes e atrativas para o grande público alguns autores optaram por retratar em suas tramas a vida cotidiana, tendo como elementos do enredo as relações familiares, as atitudes e as práticas diante de situações banais do dia-a-dia, entre outros aspectos. Um dos autores que se destacou e se afirmou nesse gênero de escrita para a telenovela foi Manoel Carlos, que estreou

(...) na Rede Globo em 1972, como diretor-geral do Fantástico. Trabalhou no programa por três anos, ao lado de Maurício Sherman, Augusto César Vannucci, Paulo Gil Soares e Luiz Lobo.
Em 1978, com a experiência de mais de 150 adaptações para a TV, transformou em novela o romance Maria Dusá, de Lindolfo Rocha, sob o título de Maria, Maria. A primeira telenovela de Manoel Carlos na TV Globo teve direção de Herval Rossano, com Nívea Maria no papel principal, e foi ao ar no horário das 18h.
 
            Mas o que lhe marcou realmente na televisão foram as conhecidas “Helenas”, criadas por ele. Este nome foi escolhido para ser dado às protagonistas de suas novelas a partir do ano de 1981 na novela “Baila Comigo”, na qual a atriz Lilian Lemmertz viveu a primeira Helena do autor. Desde então, “Maneco”, como é chamado pelos colegas de trabalho, passou a marcar as suas tramas com a presença constante de uma protagonista cujo modelo pode ser analisado em termos de uma representação forjada pelo autor na construção de uma identidade feminina.
            É possível dizer que há alguns elementos centrais usados por Manoel Carlos na elaboração de suas “Helenas”. Em todas as novelas suas protagonistas, que por motivos que mais adiante serão expostos nem poderiam ser chamadas de mocinhas ou heroínas, são envolvidas e perseguidas por temas e problemas como a maternidade, família, traição, ética, ascensão social e redenção moral, entre outros.
            A Helena vivida por Regina Duarte em “Por Amor” (1997) é lembrada como sendo uma das mais polêmicas protagonistas criada pelo autor. Na trama, Helena é mãe de Eduarda (Gabriela Duarte), com quem tem uma relação de amizade e cumplicidade invejáveis. Contudo, ambas conhecem, numa viagem a Veneza, Atílio (Antônio Fagundes), que, dentro de alguns capítulos, se tornaria namorado de Helena.  “Lá pelas tantas”, eis que mãe e filha engravidam simultaneamente, uma vez que Eduarda era casada com Marcelo (Fábio Assunção). Todavia, a felicidade delas duraria apenas até o momento do parto. Quando Helena soube que seu filho havia nascido saudável e de Eduarda havia nascido morto ela não pensou duas vezes e obrigou o médico a fazer a troca dos bebês. O motivo para isso também estava no fato de que num primeiro momento Eduarda já havia tido um aborto espontâneo e, perdendo este segundo filho, poderia não ter a possibilidade de engravidar de novo.
            Por motivos de síntese e fidelidade aos objetivos deste texto não serão descritas as sinopses ou circunstâncias principais vividas pelas Helenas, mas cabe ressaltar que o autor cria para quase todas elas dois elementos constitutivos de angústia e aflição: se por um lado, elas são bem sucedidas em suas carreiras, como é o caso das Helenas de Vera Fischer (Laços de Família, 2000), Christiane Torloni (Mulheres Apaixonadas, 2003) e Taís Araújo (Viver a Vida, 2009), elas precisam lidar com uma vida afetiva, familiar e amorosa conturbada e cheia de desafios. Outra atriz que também viveu uma Helena foi Maitê Proença, em 1991, na novela Felicidade.
            É possível apontar que o autor tenta, em suas Helenas, demonstrar a dificuldade vivenciada pela mulher moderna que assume múltiplas tarefas e compromissos, tendo a responsabilidade maior, sob certo aspecto, de dar o melhor de si para ser reconhecida e respeitada profissionalmente. É isso o que ocorre com a Helena de “Viver a Vida”, que passa por muitas dificuldades até se tornar uma modelo internacionalmente reconhecida.
            Contudo, o autor cria e fortalece também a dicotomia entre vida pública e privada, demonstrando claramente que a mulher tem mais dificuldades em se emancipar e ser autônoma, tendo em vista elementos de ordem afetiva como a família e as relações amorosas. Sob este aspecto, o autor demonstra como não é fácil administrar a traição do marido, as dificuldades de inserção da filha (adotiva) portadora da síndrome de Down no ambiente escolar e a carreira de obstetra bem sucedida, como está escrito e vivido por Regina Duarte em “Páginas da Vida” (2006).
            Além desses aspectos, Manoel Carlos tipifica em suas Helenas o retrato de mulheres que não tendem a seguir um modelo romântico que fortalecia a imagem de mocinhas e vilãos. Nas suas tramas, as protagonistas são mulheres que amam, que odeiam, que são generosas, mas também,  sob muitos aspectos, portadoras de doses generosas de  egoísmo. São contraditórias e dizem agir em nome do amor que sentem, quando através de atitudes pouco planejadas deixam-se levar pelas emoções e pelas angústias que vivem.
            A partir destas reflexões podemos perceber como Manoel Carlos, através de suas novelas e de suas Helenas, cria uma imagem para representar um conjunto maior de mulheres que, não necessariamente, se sentem incluídas ou assemelhadas ao modelo de feminilidade forjado por ele. Se as suas protagonistas marcam um diferencial na abordagem da mulher, mostrando-as como independentes, autônomas, competentes e tão iguais quanto os homens para ocupar lugares na sociedade, mostram, contudo, a emoção e as sensibilidades vividas por elas como sendo aspectos que as desestabilizam e as retiram do foco da razão frente aos desafios com os quais precisam lidar cotidianamente.
            Em 2013, o autor irá escrever a sua última novela e, consequentemente, a última Helena. A atriz convidada por ele para interpretar este papel foi Julia Lemmertz, filha de Lilian Lemmertz, que viveu a primeira Helena do autor. Segundo ele, esta decisão foi tomada com o objetivo de que com uma filha fechando o ciclo das Helenas, ele possa realmente ter marcado o fim de um processo. Cabe, contudo, acompanhar, se emocionar e avaliar de que modo esta nova Helena se mostrará realmente “nova” e quais as polêmicas, temas e questões sociais que o autor buscará, através dela, enfatizar em sua última trama. 

José dos Santos Costa Júnior

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

As aventuras de Dante no Inferno, Purgatório e Paraíso



Dante considera os riscos e trabalhos da jornada. Virgílio, para esforçá-lo, explica-lhe o motivo do seu aparecimento: fora enviado por Beatriz, que o procurara no Limbo. Revigora-se Dante e prossegue na jornada com ânimo resoluto. (Canto II)

O trecho anterior é referente a uma das obras consideradas como clássicas da literatura mundial: Divina Comédia de Dante Alighieri, nascido em Florença, 1265. Nesse texto procuraremos discorrer alguns dos acontecimentos relativos à Divina Comédia, segundo a qual Dante fala através de alegorias, de modo que ele é ao mesmo tempo autor e personagem do livro em questão, e mostraremos assim algumas das aventuras vividas por ele na presente obra.
A carga literária contida em Divina Comédia se dá também em virtude da influência de Virgilio, autor da obra Eneida, considerado um dos pensadores mais importantes do ocidente. Nesse sentido, convido a todos a acompanharem as aventuras de Dante, que mesmo em vida, percorreu os caminhos do mundo extraterreno: Inferno, Purgatório e Paraíso.
*
Era meia noite de março de 1300, Roma. Lá estava Dante, perdido na Selva Selvaggia, onde lhe fora concedido nessa ocasião uma jornada que marcaria sua vida: dois dias no Inferno, quatro no Purgatório e um no Paraíso. Partia assim o aventureiro, do mundo físico e concreto para o invisível.
Dante se esforça a subir uma colina e defronta-se com uma pantera, um leão e uma loba. A pantera não é dita explicitamente sua simbologia, mas o leão refere-se a moral e a loba tem dois sentidos: moralmente é a avareza e politicamente representa o poder temporal dos papas.
Para evitar esses perigos, aparece-lhe Virgilio, aquele que representa razão, sabedoria moral e a própria consciência do poeta. E este lhe propõe visitar os três reinos eternos, servido assim como um guia pelos círculos do Inferno, Purgatório e indo de encontro com Beatriz, a mulher amada: aquela que revela a sabedoria cristã iluminada pela graça, e que o conduzirá ao Paraíso. É por isso que o fragmento que abre a nossa discussão revela que Dante “prossegue na jornada com ânimo resoluto” tendo em vista que a amada Beatriz o procurara.
Dante chega à porta do Inferno e lá há uma inscrição que explica que lá estão as almas que, indiferentes do bem e do mal permaneceram neutras e, por isso foram excluídas do Céu e foram lançadas ao Inferno. E eis que em um barco Dante se encontrava: percorria assim a passagem do arrependimento dos pecados dos que lá se encontravam, mas não seria então uma reflexão das suas próprias culpas diante do sofrimento destes? Ele adormece.
O Inferno, assim como as outras duas dimensões (Purgatório e Paraíso) é dividido em círculos, nos quais se encontram as almas que, de acordo com suas falhas foram arrebatadas. Encontramos nesse lugar os desesperados, os atormentados, os gulosos, onde estes últimos são vigiados por um cão monstruoso Cerbélo que não para de latir, onde caí sempre uma chuva misturada com neve e que exala um odor insuportável. E Dante segue viagem.
Avareza, Orgulho, Inveja: incêndio nos peitos das almas pecadoras. O poeta assim encontra hereges, soberbos, e aqueles que tiraram suas próprias vidas: estes últimos acham-se transformados em troncos de árvore: ásperos e nodosos. E um suicida clama: “Fui homem, hoje o lenho, o que estás vendo!” (p.83).  Dor, gritos e gemidos dos seres arrebatados; apresentam-se também os “hipócritas, que andam revestidos de capas e capuzes de chumbo e exteriormente dourados”. (Canto XXIII, Inferno, p.129).
E assim, Dante vê diante dos seus olhos as penas daqueles que em vida cometeram atos, que considerados nocivos à vida humana, foram jogados ao martírio eterno devido suas faltas.
*
Para o nosso hemisfério de repente.
 Também fugiu de medo, a que se avista;
Vácuo deixando aqui fez monte ingente.
 (Canto XXXIII, Inferno, p.178)

O monte ao que se encontrava Dante era o Purgatório. Chegam o poeta e Virgílio à barca dirigida por um anjo e muitas almas, percebem ao longe o sol no horizonte. Lá encontram as almas daqueles que se arrependeram dos seus pecados na hora da morte, no seu último suspiro, e vê alguns daqueles que findaram suas vidas do mundo terreno: são amigos, desconhecidos e personalidades de sua época. Veem-se soberbos, invejosos que têm suas pálpebras unidas a fio de ferro.  Em outro círculo Dante percebe os que cometeram a ira, e estes cantam hinos de misericórdia. Dante aproxima-se e vê os avarentos e, os que foram consumidos em vida pelos prazeres da carne, pela luxúria. Virgilio a essa altura, diz a Dante que não precisa dar-lhe mais conselhos, e parte.
No canto XXX aparece Beatriz, rodeada de anjos e Virgilio desaparece. Dante se confessa culpado de muitos de seus atos e renuncia, assim, muitas das suas práticas.
*
Dante parte para o Paraíso ao encontrar:

Mais frescas na hástia mostram-se, mais belas,
Puro sai das águas consagradas,
Pronto a me alar às lúcidas estrelas.
 (Canto XXXII, Purgatório, p.355)

É a visão do Paraíso. E assim, Dante sobe ao primeiro céu acompanhado de Beatriz, e esta lhe tira suas dúvidas. Ele atravessa o céu da Lua, interroga alguns espíritos, e deseja saber sobre a imortalidade. Conhece através de Cacciaguida, seu progenitor, a sua genealogia familiar. Avista anjos e arcanjos. E diz:
Mas a vontade minha a ideias belas,
Qual roda, que motor pronto obedece,
Volvia o Amor, que move o Sol e estrelas.
(Canto XXXII, Paraíso, p.522)
*
Após a visão desse imaginado Paraíso, no final do poema, é revelado a Dante que destino levará o seu desterro, sua finitude. Por que se chama Divina Comédia? Folhei a obra e visite os caminhos, segredos e obstáculos enfrentados por esse poeta que, ainda em vida, conseguiu atravessar e conhecer o mundo extraterreno.

Gláucia Santos de Maria

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Quando a ficção se confunde com a realidade


        
          É interessante pensar que a vida em alguns momentos ganha uma aparência semelhante a um produto cinematográfico. Porém, essa semelhança pode ser justificada em razão das artes cênicas serem uma produção humana. Logo, as criações que são elaboradas para o cinema, TV e teatro tentam representar um pouco do nosso cotidiano, mesmo que em alguns momentos o que seja apresentado não reflita nossa vida em sociedade, mas algo em comum será encontrado nos diálogos em que os personagens irão introduzir na trama. Os atores e atrizes levam a sério o papel que foi concedido, e de uma forma ou de outra, tentam dar uma cara aquela construção sem rosto, mas, que ganha forma no corpo de quem está encenando.
Essa entrega dos atores cria um aspecto de realidade, no entanto, o que está sendo transmitido se trata de uma produção ficcional. Mas o que seria ficção e realidade?  Se avaliarmos rapidamente chegaríamos logo a uma resposta, dizendo que a ficção é algo que engloba nosso imaginário, algo impossível só visto em filmes e livros. Diferente do que fora expresso sobre a ficção, a realidade apareceria como sendo algo que está plausível, que não possui fugas, nem tão pouco finais sempre felizes. Pois a vida acaba sempre com a morte do ser. A resposta que fora construída em razão da pergunta que fora formulada, é o que vem em nossa cabeça. Porém, se pararmos mais um pouco para pensar, logo se constataria que a realidade anda de braços dados com a ficção.
O ser humano tende a interpretar um papel, ou vários ao longo de sua vida, sem ao menos prestar atenção nesse fato. Um dos primeiros estudiosos a destacar esse comportamento humano foi o cientista social canadense Erving Goffman na sua obra intitulada “A representação do eu na vida cotidiana” de 1959. Dentro dessa obra Goffman destacou que o ser humano produz eternas representações dramatúrgicas. A partir desta colocação fora possível elaborar conceitos que destacam a nossa vocação para arte cênica. Uma delas é a performance. Diante de situações improváveis ela se torna visível e isso pode ser constatado em um exemplo a qual Goffman destaca, o fato de um ser inferior financeiramente quando visitado por um superior, tende criar um espaço familiar para o superior buscando manter uma relação afetiva para adquirir favores futuros. Para isso ocorrer é necessário o inferior ter já certo conhecimento do superior para criar uma performance convincente que ludibrie a opinião que o superior tinha construído antes daquele encontro.
Goffman atenta também para a construção de fachadas, a qual muitas vezes nos escondemos e isso também se reflete a esta tendência dramatúrgica que nós possuímos. O fato de possuirmos uma personalidade e tentarmos se passar por outra, se trata de uma tentativa de esconder nosso eu, que não agrada os outros, e que ajuda a construir diferentes personagens que possa tornar agradável nossa presença. Acabamos assim, nos utilizando de máscaras que escondem nossos lados obscuros e dissimula o que realmente somos. Tendemos a atuar de variadas formas, em principio para se viver um mendigo é necessário de um figurino que seja condizente com o local a qual o mesmo vai ocupar.  O traje e o cenário são fundamentais para uma boa atuação. Imagine um pedinte com roupas de grifes em um Shopping Center, qual seria o poder de convencimento desta pessoa para angariar donativos? Acredito que nenhum.  O local e o figurino adequado é que define a boa encenação.
Hoje temos os reality shows,  programas de TV que confinam pessoas para monitorar os seus comportamentos em razão de criar para o telespectador que está assistindo aquele produto algo que é exposto como sendo a vida real. No entanto, o que se vê são pessoas, que na ganância de conquistar o prêmio que o programa dar, assumem papéis para iludir quem está ao seu lado e ao público preferencialmente. O que ocorre nesses programas, se trata em certo sentido do mesmo contexto de um local de trabalho. Por exemplo, uma firma. Um funcionário tentará passar uma imagem para o patrão que propriamente não faz parte da sua característica só para conseguir deste uma promoção ou aumento no salário, tudo pelo intuito de obter uma melhor condição financeira. A encenação se mostrou visível, e também fora convincente.
A arte de atuar, nos mostra que todos nós de vez em quando assumimos papéis, que não são propriamente quem somos. Mas, talvez esse quem somos, também não seja um papel que encenamos, e que levamos conosco até o fim da vida? É algo a se refletir.  Muitas vezes percebemos que o real e o ficcional se confundem em circunstância do comportamento humano que assume papéis diversos.

Ronyone de Araújo Jeronimo

sábado, 11 de agosto de 2012

Homicídios: vitimização das mulheres brasileiras



Ao longo dos últimos anos temos percebido que a violência urbana tem sido alvo de muitas discussões em nível nacional. Diante do debate sobre a violência no Brasil, alguns pesquisadores estão se esforçando em compreender a lógica existente em tal fenômeno. Nesse sentido, estudos feitos pelo Mapa da Violência 2012 no Brasil vem trazer à tona dados referentes à ocorrência do fenômeno em território brasileiro. Este ano tal estudo trouxe também um anexo que mostra a vitimização feminina por homicídios. De acordo com o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz (2011), informações relativas a esta questão são poucas no Brasil, e por isso este julgou oportuno tal divulgação de dados devido a sua relevância.
Waiselfisz afirma que a fonte básica para a análise sobre os homicídios no Brasil é o Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. A Lei brasileira de n° 6.216, de 31/12/1973, aponta que nenhum indivíduo pode ser sepultado sem que tenha a certidão de óbito, já que este é um instrumento que fornece dados referentes à idade, sexo, estado civil, profissão e local de moradia da vítima.
Ainda segundo este estudo, outra informação importante que a legislação brasileira exige é a causa de morte.  Dentre as causas de morte temos o homicídio. Este é caracterizado pela presença de uma agressão de caráter intencional de terceiros, de modo que estes fazem uso de qualquer meio para que sejam provocadas lesões ou danos a vitima, levando esta a óbito. Dentre os meios mais utilizados para tais fins, encontramos, por exemplo, o enforcamento, o estrangulamento, disparos de arma de fogo e etc.
Não é de hoje que temos noticiado pelos meios de comunicação à ocorrência de homicídios que vitimizam muitos de nossos brasileiros. São homens, mulheres e crianças que são alvos de seu poder destruidor e mortal. Acontece que tem sido um fato frequente a preocupação com relação à violência contra a mulher. Nesse sentido, procuraremos através deste, nos esforçar para trazer à tona alguns dos principais dados que se destacam quando tratamos sobre o fenômeno do homicídio contra as mulheres, que tem levado muitas de nossas brasileiras a óbito.
O Mapa da Violência 2012 mostra um breve histórico das mulheres que foram assassinadas entre os anos de 1980 e 2010. Segundo este documento, nesse período de 30 anos, cerca de quase 91 mil mulheres foram assassinadas. Os dados mostram que o número de mulheres vítimas de tal violência no ano de 1980 foi de 1.353, e passou para 4.297 em 2010, ou seja, o crescimento do número de mortes catalogadas foi de 217,6%, segundo Waiselfisz.
Outra informação relevante nesse estudo é no que concerne aos instrumentos utilizados para atingir a vítima. Dentre eles o mais frequente é o uso da arma de fogo (53,9%), mas encontramos também os objetos cortantes e penetrantes, e além desses, o uso da sufocação que são muito recorrentes quando tratamos da violência homicida contra a mulher. Quanto ao local que ocorrem tais incidentes, a residência ou domicílio da vítima é o mais preponderante, atingindo a marca de 40% dos casos.
Pelo que vemos os dados não se esgotam. Levando em conta os estados brasileiros (100 mil mulheres/2010), o Espírito Santo fica em 1° lugar, com taxa de 9,4 de mulheres assassinadas, enquanto que o estado do Piauí fica em 27° lugar, em último, com taxa de 2,6 brasileiras (em 100 mil). A título de exemplo, o estado da Paraíba fica em 4° lugar, com taxa de 6,0 mulheres vítimas de homicídios.
As idades das mulheres vítimas de homicídios no Brasil estão concentradas entre 15 e 29 anos, com maior ênfase no intervalo de 20 a 29 anos de idade. Nos primeiros anos de idade, por volta dos 4 anos, as meninas são vitimas de suas mães. Chegando aos 14 anos, os pais são seus principais agressores. O papel de agressor com o passar do tempo, é substituído pelo cônjuge, namorado ou os ex, de modo que estes agridem mulheres por volta dos seus 20 a 59 anos de idade. A partir dos 60 anos, as mulheres são vitimas de seus filhos.
Pelo que vemos através do estudo do Mapa da Violência 2012, os homicídios contra as mulheres são alarmantes e merecem nossa atenção. Expusemos apenas alguns dados, mas estes se revelam preocupantes. Percebe-se através desse estudo que os níveis de vitimização das mulheres são acompanhados de elevados graus de tolerância da violência contra a mulher. Mesmo que as mulheres tenham uma lei a seu favor, A Lei Maria da Penha, promulgada em 2006 que neste ano comemoramos 6 anos de sua existência, e mesmo que esta tenha possibilitado uma considerável queda nos casos de homicídios contra a mulher no ano de sua implantação, em 2008 as taxas aumentaram se analisarmos com cuidado os dados do Mapa da Violência. É perceptível que ainda carecemos de políticas públicas suficientes para que se possa reverter tal situação. Nesse sentido, não resta dúvida de que se faz necessário medidas cabíveis que sejam capazes de prevenir e consequentemente diminuir o fenômeno da violência contra a mulher. E que possamos ser capazes de usar as ferramentas necessárias para extinguir ou ao menos reduzir tais taxas, denunciando às autoridades possíveis casos de violência, no caso das mulheres que se sentem ameaçadas, procurarem ajuda das entidades que lidam com tal questão. Cabe a nós como membros da sociedade brasileira nos mobilizarmos a fim de que os agressores sejam punidos de acordo com suas práticas, e mais que isso, evitar que tais mortes sejam concretizadas.

Gláucia Santos de Maria

sábado, 28 de julho de 2012

Uma fantástica noite: O dia em que um só Etíope dominou a soberba Roma



Os jogos olímpicos que novamente estamos tendo a oportunidade de acompanhar chegam à sua trigésima edição da era moderna. Na antiguidade, mais precisamente na Grécia, eram disputadas diversas competições entre as cidades estados (Polis), sendo denominadas de olimpíadas.
As olimpíadas da era moderna se iniciaram em 1896, em Atenas, Grécia. Apenas 14 nações estiveram presentes competindo nas 43 modalidades de esportes. O evento cresceu ao longo do tempo e hoje é uma das maiores competições esportivas da atualidade e que engloba mais de 200 nações. As olimpíadas que estamos acompanhando, possui uma imensa mídia televisiva que transmite as competições, de modo que não é preciso ir até Londres para acompanhar os jogos, já que na sua casa, você poderá assistir as diversas práticas esportivas que acontecem. Nas olimpíadas, inúmeras histórias de superação, de garra e de força também serão relatadas. Algumas dessas atividades terão, certamente, um enorme valor social, político, como também histórico.
Em razão desses acontecimentos que se fazem presente nas olimpíadas, poderíamos destacar muitas representações que tiveram destaque. Mais uma em especial me chama atenção, pelo fato de toda relação histórica que fora criada, que remetia até mesmo uma referência a Roma antiga, que fora um fator preponderante para o encerramento dos jogos olímpicos que existiam na antiguidade, pelo fato dos romanos imporem sua influência sobre os gregos tirando o brilho dos jogos.
Chegada à era moderna, mostrando toda sua beleza turística, como também seu valor histórico para a humanidade, Roma sediaria os jogos olímpicos no ano de 1960. O evento seria marcado pela vitória da antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviética) no quadro de medalhas dos jogos, uma vitória socialista em território capitalista. No entanto, para os italianos aliados ao bloco capitalista comandado pelos Estados Unidos, a vitória soviética não tivera tanta representação que uma determinada modalidade esportiva tivera no evento.
A modalidade que queria destacar é a maratona. Esta é tida como uma das provas mais tradicionais do atletismo, sendo a que mais cobra do atleta, pelo fato de serem exigidos 42 km de corrida. A maratona é a prova que encerra tradicionalmente os jogos olímpicos. Em Roma não foi diferente, porém, a referida competição pela primeira vez seria realizada a noite. O fim da prova seria ao lado do Coliseu, e a linha de chegada ficaria bem próxima do Arco de Constantino.
A prova recebeu 69 competidores e entre eles estaria uma figura, a qual a história mostraria aos italianos, todo um orgulho que fora ferido alguns anos atrás em razão da invasão fascista italiana a Etiópia, no ano de 1935, promovida pelo general Benito Mussolini, que também governava de forma ditatorial a Itália. As tropas italianas partiram do Arco de Constantino para conquistar a Etiópia, país pobre da África, mas que em sua história nunca tivera sob o jugo de um colono, exceto, “Uma curta ocupação da Itália entre 1935 a 1945, a Etiópia nunca fora colonizada.” (Munanga e Gomes, 2006). Essa invasão seria lembrada 25 anos depois, por um atleta, que era uma criança no momento desta invasão.
  No ano de 1932 nascia Abebe Bikila, filho de família pobre, na Etiópia. Vira seu país ser invadido pelos italianos, que causaram muitos problemas a um país, onde sua população já vivia em condições desfavoráveis. O pai de Bikila fazia parte da guarda do Rei Hailé Selassié, o mesmo a qual Bikila se tornaria guarda. O seu alistamento a guarda imperial, aconteceu em função de subsistência, já que o cargo dava o mínimo de condição para sobreviver. Esta era uma forma a qual Bikila garantiria seu sustento. Este não imaginava que aos 17 anos iria se tornar um atleta mundialmente conhecido, pois o seu contato com atletismo só viria aos 24 anos de idade. Quem descobriu o seu talento foi o treinador sueco Onni Niskanen, que fora contratado pelo governo Etíope para revelar corredores talentosos. Este viu em Bikila todo um potencial, acontece que Bikila só seria integrado à equipe que foi a Roma, graças à infelicidade de um atleta etíope que torceu o joelho. Abebe Bikila foi à Roma e lá caminhando pela cidade observou o obelisco de Axum que fora pilhado pelos italianos na guerra. Trata-se de um monumento que fora levantado no século IV, e posteriormente desmontado e levado para Itália. Bikila reparou que o obelisco fica 1,5 Km da linha de chegada: era ali onde ele dispararia.
     O treinador de Abebe Bikila alertou que o seu maior concorrente era um marroquino que estaria utilizando o numero 26. No entanto, este competidor por outro motivo correu com o número 185. Esta mudança de número fora bastante incentivante para Bikila, que decidiu correr descalço, em razão do patrocinador da competição, a Adidas, não ter um tênis a qual o atleta achasse confortável aos pés. Porém, ao final da prova Bikila explicaria a razão de correr descalço. Correndo a noite e sendo iluminado por tochas seguradas por policiais da cidade, Bikila corria acompanhado pelo numero 185, a qual tinha sido alertado pelo treinador. Só que Abebe Bikila não tinha sido informado das mudanças de números, e o etíope apertava o passo buscando o 26, sendo que ele estava ao lado dele. Essa disputa acabou sendo entre Bikila consigo próprio, e isso acabou deixando o marroquino para trás. O ponto a qual Abebe Bikila arrancaria para vitória lembrava seu povo. Passando ao lado do Coliseu, e cada vez mais próximo da vitória, o corredor começou a ver olhares que na sua infância o oprimia, mas que agora o aplaudia. Nesse sentido, não era apenas Bikila que era aplaudido, mas toda a Etiópia que fazia jus em forma de homem. Bikila segue correndo mesmo depois da linha de chegada, e dessa maneira se tornava assim o primeiro negro africano a ganhar uma medalha de ouro nos jogos olímpicos. Mas só isso não bastava para esse grande atleta, o motivo de correr após a linha de chegada se deu em virtude de que fora justamente nesse local, debaixo do Arco de Constantino, que Mussolini partiu para invadir a Etiópia. Desse modo, ao dançar* nesse mesmo local, Abebe Bikila não comemorava apenas o seu feito, mas era a vitória do seu povo sobre a Itália.
      Após a corrida, Abebe Bikila explicou por que correu descalço "queria que o mundo soubesse que meu país, a Etiópia, sempre tinha conseguido suas vitórias com heroísmo e determinação". Em seu país Bikila foi recebido como um herói, tanto que o rei Hailé Selassié da Etiópia promoveu o atleta, que já era seu guarda a função de cabo. O mesmo presenteou o atleta com um anel de diamante que possuía uma frase que destacava o novo slogan que a Etiópia assumira a partir daquele momento: “Enquanto Mussolini precisou de milhões de soldados para conquistar a Etiópia, nós só precisamos de um para conquistar Roma”A conquista de uma cidade histórica por um único homem, só aconteceria em função do esporte. E é isso que torna os jogos olímpicos um evento tão marcante e significativo. 
* Vitória de Abebe Bikila: http://mais.uol.com.br/view/ofj6vrny8naf/abebe-bikila-campeao-da-maratona-de-roma1960-04024D99336ACCA12326?types=A
Ronyone de Araújo Jeronimo

sábado, 21 de julho de 2012

Contos de fadas Disney: Branca de Neve, padrões e estereótipos

          
         Culturalmente falando, não há como deixar de afirmar que os valores, os papéis sociais e até mesmo os estereótipos partilhados entre os indivíduos, se configurará de acordo com a sociedade em que os indivíduos estiverem inseridos. Desde a infância nos habituamos a receber incentivos dos nossos pais quanto ao modo como devemos nos portar à mesa, as vestimentas que iremos usar em determinada ocasião, bem como nos é apresentado uma bola para o menino e a boneca para a menina eis aí o processo de socialização. Como coloca Berger (1973) a chamada socialização primária, ocorre dentro do seio familiar, nas brincadeiras com os colegas de infância e também no espaço da escola no qual se iniciará o processo de socialização secundária (Bourdieu, 1998). 
          Nesse processo de socialização, nos é oferecido revistas, músicas e filmes de animação. Quanto a este último, um carro-chefe das produções cinematográficas de desenhos animados, sem dúvida é a companhia Walt Disney. Eis aí o ponto em que gostaríamos de chegar. Sobre uma de suas produções é que iremos nos debruçar. O foco de nossa discussão diz respeito ao primeiro longa metragem em animação produzido em 1937, no inicio da Segunda Guerra Mundial: Branca de Neve e Os Sete Anões. Na produção desse filme Disney recebeu o Oscar, e ainda sete miniaturas representando os sete anões. Mas de que modo podemos estabelecer um debate sobre esse longa produzido por Disney? Na nossa discussão usaremos da animação em questão para especificar os padrões e estereótipos usados por Disney e seus produtores, nesse ‘inocente’ conto de fadas. 
      Desde nossa infância, somos deparados com padrões sociais que influem no modo como percebemos a realidade através de um mundo pré-construído. As histórias, os contos infantis trazem também essa carga de determinados padrões sociais partilhados entre as personagens. Refletindo essa questão, o conto de fadas funciona como forma de entretenimento, mas, além disso, ele 
Consiste em histórias que se passam em um tempo e espaços indefinidos e que apresenta de início uma situação realista problemática, de tema universal com um conflito entre o bem e o mal, além de elementos mágicos, terminando com a punição dos maus e o final feliz do herói (FREITAS,1997)
           Os contos infantis, e principalmente os contos de fadas, mostram que se fores bom, terás um final feliz, caso contrário serás punido pelos atos maldosos que praticou contra outrem. O fato de ser bom ou mal, já emergem como padrões a serem seguidos ou não. Passemos aos estereótipos. De acordo com Lippmann (apud Baccega, 1998) não vemos as coisas primeiramente para depois definirmos, todavia, nós definimos e depois vemos. E o estereótipo funciona como uma espécie de tipos sociais aceitos, ou padrões segundo os quais devemos seguir. No caso dos contos de fada, será bem mais quisto quem for bom. . 
          Na construção desses estereótipos, encontramos no conto de fadas mais antigo de Disney, a Branca de Neve. Trata-se de uma princesa que perdera o pai e que vive sob o jugo da sua madrasta. Mesmo sendo adulta Branca de Neve se mostra bastante ‘inocente’, e se revela uma moça que sonha em encontrar seu príncipe encantado. E isso pode ser percebido em uma das canções, “O sonho que eu sonhei”, quando a mesma afirma: O sonho que eu sonhei/Há de acontecer/O castelo que eu/imaginei/De verdade, ele um dia há de ser/O meu eterno amor/Um dia encontrarei/E feliz eu irei/viver com esse amor/No sonho que sempre sonhei. 
        Em contraponto com a princesa, encontramos a figura da madrasta. Esta representa o mau, e tem como características principais a vaidade, quando a mesma se olha ao espelho, e por outro lado sente inveja da princesa. Nesse sentido, através de métodos ilícitos a madrasta tenta dar fim a Branca de Neve, ao impor a um caçador que traga o coração dela como prova de sua morte, já que esta era considerada a mais bela. Mas como o trunfo não fora alcançado, dado o sentimento de piedade do caçador em tirar a vida de Branca de Neve, a madrasta buscou através da bruxaria, envenenar uma maçã para que esta morresse. Desse modo, não existe quem nunca teve aversão à figura de qualquer madrasta em muitas situações, vista como má, vil e perigosa. 
       Disney, nesse longa, mostra também a figura dos anões. Mestre é o anão que tem como principal função conduzir o grupo, ou seja, lidera através de sua sabedoria, mas procura trabalhar em conjunto em prol do beneficio da equipe. Não é difícil encontrar essas pessoas na nossa sociedade. Em seguida temos o Feliz, figura que expressa através de suas ações que, mesmo em casos de dificuldade há sempre a possibilidade de se ter alegria e felicidade. O anão conhecido como Atchim, é aquele que vive doente, e a seu lado temos o Dengoso que, expressa a carência de muitos de nós. Nesse meio, encontramos o Zangado. Este é uma figura que expressa o não humor da própria trama da animação, e diferentemente do anão Feliz, ele é ranzinza e insatisfeito em boa parte da trama. Os dois últimos, Dunga e Soneca completam os sete anões. O primeiro é mudo, e muitas das suas ações revelam uma espécie de inocência, comparada a Branca de Neve em certo sentido; e o último podemos comparar as pessoas que esperam a vida passar, como numa espécie de inércia, no qual suas ações se demonstram ineficientes. (FREITAS, 1997). Temos também a presença dos animais que auxiliam Branca de Neve em suas dificuldades, e revelam a expressão de muitas pessoas que estão preocupadas com as outras numa espécie de solidariedade. E por último encontramos a figura do príncipe. Este aparece duas vezes no filme, segundo o qual revela através de suas características uma espécie de tipo ideal que a princesa almeja: montado em seu cavalo branco e que a leva, depois de todas as dificuldades passadas, para morar no seu lindo castelo. 
       Por fim, podemos perceber que mesmo em filmes infantis de contos de fadas, somos induzidos, em certa medida, desde a infância a estereotipar os indivíduos em determinados papeis, através de um padrão especifico. Através de um ‘inocente’ conto de fadas, Disney expressou através de Branca de Neve e os Sete Anões, a partir de nossa análise determinados padrões sociais e estereótipos partilhados em certo sentido, com a sociedade da sua época. 


Gláucia Santos de Maria  

sábado, 14 de julho de 2012

Juventudes, direitos e participação: desafios e (re) definições


         
          Pensar a juventude brasileira, na atualidade, exige refletir sobre uma série de aspectos que foram cruciais na formação de novos problemas, novas abordagens e perspectivas de compreensão sobre essa temática. De modo geral, é preciso que se considerem os aspectos econômicos, políticos, sociais, culturais, etc., que definiram uma nova face para essa parcela da população.
            Cabe atentar para o fato de que não podemos mais pensar a juventude e entendê-la de forma homogênea, pois há importantes variantes no que diz respeito a sua identidade (ou melhor, identidades) e os modos de expressão que adota.
            Segundo Pierre Bourdieu (1983, apud Barrientos-Parra) “(...) não existe uma juventude, mas multiplicidade delas, tantas quantas são as tribos existentes”. Desse modo, é importante ressaltar que para uma população cada vez mais crescente cabe ao Estado destinar políticas públicas que subsidiem e proporcionem condições efetivas para o desenvolvimento integral dessa parcela da população.
            Desde 2005 que, no Brasil, tem sido pensada uma Política Nacional de Juventude, cujo principal objetivo é elaborar diretrizes, objetivos estratégicos, eixos e critérios para que sejam formuladas e implementadas políticas sociais eficientes e que possam dar condições para que a juventude brasileira se desenvolva integralmente.
            Neste mesmo ano, houve a criação da Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e do Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), fazendo com que o Brasil fosse o primeiro na América Latina a contar com um conselho destinado aos jovens. “Composto por 60 membros, dos quais 40 são da sociedade civil, o Conjuve veio reforçar ainda mais a democracia participativa, que ganhou destaque ainda maior com a realização da I Conferência Nacional de Juventude, em 2008, em Brasília. O evento mobilizou mais de 400 mil jovens e adultos em todo o país e resultou em um documento com 70 resoluções e 22 prioridades que devem nortear as ações para a juventude em nível federal, estadual e municipal”.
            Se, para as crianças e os adolescentes o Estado deve adotar uma postura absolutamente protetora, tendo em vista a fase peculiar de desenvolvimento dessa população, para os jovens é preciso que seja lançado outro tipo de olhar. Para estes, devem ser pensadas estratégias para oportunizar a sua entrada na vida adulta com segurança e perspectivas de futuro, pensando a sua possibilidade de interlocução e tomada de decisões.
            Tendo em vista a elaboração de um marco legal específico para as políticas públicas de juventude, tramita atualmente no Senado Federal o Projeto de Lei da Câmara – PLC 98/2011. A iniciativa surgiu na Câmara dos Deputados e para que se torne lei necessita de aprovação no Senado e a sanção da presidenta.
            Este projeto visa instituir o Estatuto da Juventude e o Sistema Nacional de Juventude. Pelo projeto “são considerados jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos”.
            Cabe analisar que a juventude não pode ser pensada apenas em termos de faixa etária, tendo em vista que os direitos desse segmento “(...) baseiam-se na especificidade da condição juvenil constata-se que os jovens têm características singulares físicas, psicossociais e de identidade que demandam uma atenção especial por parte da sociedade e do poder público.” (Barrientos-Parra, 2004, p. 137).
            Um aspecto que consta no texto do projeto de lei e que assume uma importância crucial na formação da autonomia juvenil diz respeito à participação social. O texto diz que “(...) o Estado e a sociedade promoverão a participação juvenil na elaboração de políticas públicas para a juventude e na ocupação de espaço público de tomada de decisão como forma de reconhecimento do direito fundamental à participação”.
            Desse modo, notamos que existe a possibilidade de mudança de paradigma quanto à ação estatal, pois “Significa passar das tradicionais políticas ‘para’ a juventude, isto é, políticas concebidas pelos governos direcionadas aos jovens, para políticas de juventude, isto é, políticas concebidas e elaboradas com a participação direta dos jovens, por meio de estruturas jurídicas reconhecidas pelo Poder Público, como conselhos e coordenadorias da juventude” (Idem, p. 140).
            Podemos dizer, então, que a juventude brasileira passa por uma fase de intensas mudanças em termos de reconhecimento por parte do Estado, inserção na política, geração de estratégias de incidência e participação e, também, de expressão do seu rosto multicolorido e plural.
            Vivemos uma fase onde há espaços de participação cuja influência pode ser determinante para os caminhos dos jovens no nosso país. Cabe, contudo, promover espaços de formação política para que os jovens possam atuar enquanto protagonistas de sua história, abrindo novos caminhos e (re) inventando possibilidades novas de um futuro melhor.  

José dos Santos Costa Júnior, graduando do curso de História pela UFCG


sábado, 7 de julho de 2012

Personificação das roupas: memórias e dor*


            
         As roupas podem ser vistas como uma representação do materialismo, ou um utensílio comum que acaba se tornando um símbolo do consumismo desenfreado. No entanto, a roupa é algo mais do que um simples fetiche humano, ela possui em sua essência algo que mistifica o seu uso. A nossa sociedade por questões históricas, necessita andar vestida, e por isso o apego por esse material de tecido, que incorpora em nossos corpos e se molda a partir deste,  passa a se tornar parte da existência da pessoa que  a veste. A roupa está na memória de quem a vestiu ou usou uma vez, mas para quem vê o outro vestido, a lembrança ainda é mais forte. O fato de lembrarmos uma pessoa querida que já se fora, e ter uma lembrança dessa, nos trás à tona todo tipo de sentimento causado simplesmente pela personificação da roupa com o nosso ser. E nesse caso a dor se apresenta a nós em função do que vestimos.
            Diante dessa temática nada melhor do que trabalhar a obra do autor norte-americano Peter Stallybrass, “O casaco de Marx, roupa, memória e dor”, segundo a qual, no primeiro capítulo o autor irá descrever seus sentimentos diante da dor propriamente sentida por ele, em virtude da morte de seu grande amigo e companheiro de profissão. Primeiramente há um vazio indescritível que o cerca, em razão do autor não conseguir expressar seus sentimentos referentes àquela perda. As roupas e utensílios eram apenas o que restavam de seu amigo. Porém, fora o que incentivara a escrever sobre o assunto, em contato com as sensibilidades e vestido com a jaqueta preferida de seu companheiro. Stallybrass se viu aflorando os seus sentimentos diante da perda de seu colega, as lágrimas que antes teimavam em não brotar em seus olhos, surgiram. E o choro no qual o autor descreve, abriu uma porta para este encontrar o que procurava, e se viu escrevendo sobre as roupas. A jaqueta a qual estava vestido representava muita coisa, sentia o seu amigo novamente ao seu lado, mais do que isso, o autor se sentia vestido pelo amigo que tanto gostava.
Então percebemos que a roupa é mais que uma vestimenta, ela adquiri vida em contato com o corpo humano. E a partir do momento em que esta, que tanto impregnou a matéria, deixou de ser usada, permanece com cheiros e representa ainda o dono. No cabide ainda pode se ver, a face de quem usou. Stallybrass conseguiu ver de uma forma clara, o momento em que se sentiu vestido pelo seu amigo, pela jaqueta que tanto desejava e gostava de ver o vestido.
            Peter Stallybrass deixa claro que a memória e a dor andam juntas, lado a lado. A roupa só ajuda aflorar essas duas características. Pois, ela é algo visível, e está sempre em nosso corpo para onde nós vamos.
 Desde pequenos nos afeiçoamos a algo. Em primeiro plano uma chupeta, depois uma bicicleta e em outro momento uma calça jeans, objetos e utensílios que tornam parte de nossa vida. O cuidado com que tomamos com essas coisas, até parecem que são vivos para nós. E será que não são mesmo? O afeto existe, e o amor também, é difícil desvincular algo que nós gostamos, até mesmo quando as roupas ou objetos estão gastos. O zelo que conservamos naquilo que gostamos e usamos permanece. No final paramos para pensar o quanto somos hipócritas, ao dizer que o materialismo é algo esdrúxulo, e só as pessoas com poder aquisitivo possuem. É histórico na sociedade se passar de geração a geração pequenas relíquias. Em qualquer classe social no século XV era comum receber algo que representasse a memória do seu antepassado, mesmo que fosse uma roupa já usada, em formato de um trapo. O armário e as roupas então podem representar a ausência do ser que outrora vestia aquelas roupas e se locomovia de um lado para o outro. Stallybrass faz referência a um poema de Nina Payne, no qual os filhos brigam para vestir as roupas do seu pai falecido. Será que igual ao autor, estes também se sentiam vestidos pelo pai? É algo a se pensar.
*Alusão ao texto de Stallybrass

Ronyone de Araújo Jeronimo

sexta-feira, 29 de junho de 2012

1 Ano de "Acadêmicos Curiosos"


          Há um ano, mais precisamente no dia 29 de junho de 2011, publicávamos o nosso primeiro texto no “Acadêmicos Curiosos”.  E hoje, com grande alegria comemoramos junto a vocês o nosso primeiro ano de existência. Hoje não teremos uma temática específica para abordarmos, afinal estamos em festa! E reservamos esse dia para agradecer a todos os seguidores, amigos e visitantes que partilham conosco esse espaço de debate, reflexão... E que mesmo às vezes os textos sejam de cunho teórico, procuramos fazer uma escrita didática, acessível a todos que nos leem e nos prestigiam! 
          Atingimos a marca de mais de 7 mil acessos nesse um ano de existência. Muitas visitas do Brasil, mas também de pessoas de outros países como E.U.A, Alemanha, Rússia,  Portugal, Ucrânia, Coréia do Sul, Reino Unido, Índia, Canadá, Moçambique e etc. que marcaram sua presença. E pretendemos percorrer mais lugares a fim de levarmos nossas reflexões acerca dos assuntos das mais diversas temáticas, acadêmicas ou não. 
      Agradecemos também aos que compartilharam conosco através dos comentários. Sempre que divulgamos um texto ficamos na espera de como o público reagirá à nossa abordagem, e na medida em que vocês comentam, discutimos e sabemos suas opiniões. Isso, sem dúvida, é muito gratificante para nós!
           O nosso blog, não se restringe a textos escritos por nós, por isso abrimos espaço para que vocês nos escrevessem e contribuíssem com suas discussões. E com grande prazer dividimos esse espaço com Gracielle Silva ao nos enviar o texto: “Racismo é violência! Diga não!”, e também da contribuição de Girlene Medeiros ao escrever o texto: "Pelo direito livre escolha da profissão". Além delas, esperamos também o seu texto para ser divulgado aqui no “Acadêmicos Curiosos”. 
          E para não esquecer, estamos de visual novo, além de termos criado um banner que vocês podem nos divulgar nas redes sociais que vocês fazem parte, bem como estamos contando agora com a parceria do blog “Pistas da História”. Contamos com a presença de novos parceiros que divulguem nosso trabalho, como também iremos prestar o mesmo auxílio, contribuindo com o desenvolvimento de ambos os blogs. Desde já agradecemos a colaboração de todos que prestaram um importante papel a este blog. E resumimos todas essas palavras de agradecimento, com um muito obrigado! 

Acadêmicos Curiosos